O presidente da Ucrânia usou esta terça-feira a sua passagem pelo Fórum Económico Mundial, em Davos, para criticar a passividade europeia, dizendo que o continente precisa de “aprender a cuidar de si mesmo para que o mundo não possa ignorá-lo”. “A Europa não pode dar-se ao luxo de ficar em segundo ou terceiro lugar no que se refere a alianças. Se isso acontecer, o mundo começará a avançar sem a Europa”, afirmou Volodymyr Zelensky, sustentando que os europeus já não eram uma prioridade para os Estados Unidos na presidência de Joe Biden e que ainda deverão ser menos com Donald Trump. Na opinião do líder ucraniano, Trump acabou de tomar posse e “a maior parte do mundo está a pensar o que vai acontecer com a relação deles com a América? O que acontecerá com as alianças? Para apoiar? Para negociar? Como o presidente Trump planeia acabar com as guerras?”. “Mas ninguém faz este tipo de perguntas sobre a Europa. E precisamos ser honestos sobre isso”, criticou Zelensky, questionando ainda: “Será que o presidente Trump vai sequer prestar atenção à Europa? Considerará a NATO necessária? E respeitará as instituições europeias?”. O ucraniano sublinhou também a necessidade de a Europa fazer mais em matéria de Defesa e Segurança, incluindo na área tecnológica, para não ficar definitivamente para trás. “A Europa tem de saber defender-se sozinha” das ameaças, nomeadamente da Rússia. Na segunda-feira, cerca de uma hora antes de Trump tomar posse, o presidente francês insinuou pela primeira vez que Paris poderá aumentar os seus gastos com a Defesa, nomeadamente se os Estados Unidos decidirem retirar o seu poderio militar da Europa - “são cenários para os quais precisamos nos preparar”. “Atualmente, a França ultrapassa os 2% do PIB em gastos com a Defesa”, afirmou Macron no seu discurso de Ano Novo às Forças Armadas, “mas isso é suficiente para alcançar massa, profundidade e inovação para nos defendermos num grande confronto? Será isso suficiente para nos organizarmos à escala europeia e termos meios para lutar?”. Relativamente ao futuro da Ucrânia, Zelensky sublinhou que “a Europa deve poder sentar-se à mesa para discutir a paz na Ucrânia”, algo que é atualmente incerto, já que, embora considere óbvio que “a Europa deve ter uma palavra a dizer”, a questão “é saber se Trump vai ter em conta a Europa ou se vai negociar apenas com a Rússia e a China”.“A Europa tem de perceber o que vai acontecer agora com os EUA, tem de perceber qual o papel que quer desempenhar, porque a ameaça da Rússia está próxima”, notou o ucraniano, chamando a atenção para o facto de que, ao contrário do que sucede com a América, não haver “nenhum oceano” a separar a Europa da Rússia.