O presidente ucraniano garantiu na terça-feira à noite, 9 de dezembro, que está pronto para realizar eleições presidenciais na Ucrânia, em resposta às críticas do homólogo norte-americano, mas pediu aos seus aliados que garantam a segurança do processo. Uma intenção que vai contra a vontade da maioria dos ucranianos, pois, de acordo com uma sondagem recente do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, 63% acreditam que as eleições apenas devem ser realizadas após um acordo de paz definitivo e o fim completo da guerra. Numa entrevista dada ao Politico, e numa retórica alinhada com o Kremlin, Donald Trump afirmou que a Ucrânia deveria realizar eleições, acusando Kiev de “usar a guerra” para evitar fazê-lo. “Uma vez que esta questão foi levantada pelo presidente dos Estados Unidos da América, nossos parceiros, responderei muito brevemente: vejam, estou pronto para as eleições”, disse Zelensky na noite de terça-feira, mas, não escondendo alguma irritação, acrescentou que “esta é uma questão para o povo da Ucrânia, não para as pessoas de outros países, com todo o respeito pelos nossos parceiros”.Mesmo assim, pediu “aos Estados Unidos que me ajudem, possivelmente em conjunto com parceiros europeus, a garantir a segurança das eleições, para que, nos próximos 60 a 90 dias, a Ucrânia esteja pronta para as realizar. Pessoalmente, tenho a vontade e a disponibilidade para o fazer.”O mandato de cinco anos de Volodymyr Zelensky terminou em maio do ano passado, no entanto, a lei marcial, em vigor desde o início da guerra, proíbe a realização de eleições nestas circunstâncias. Neste sentido, Zelensky disse ter pedido conselhos aos aliados sobre como garantir a segurança das eleições e aos deputados sobre como alterar a lei para permitir a sua realização. “Estou à espera de propostas dos parceiros, estou à espera de propostas dos nossos parlamentares e estou pronto para ir a eleições”.Uma sondagem recente do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev mostra que 63% dos ucranianos continuam a acreditar que as eleições devem ser realizadas após um acordo de paz definitivo e o fim completo da guerra, contra apenas 11% que defendem que deveriam ir a votos agora, mesmo antes de um cessar-fogo. Já 22% diz que estas poderiam realizar-se num cenário de cessar-fogo e com garantias de segurança fiáveis. Os resultados desta sondagem mostram ainda que, mesmo entre os que não confiam de forma alguma no presidente, apenas 29% apoiam a realização de eleições agora, antes do fim da guerra. Uma perspetiva partilhada até por deputados da oposição. “Isso só causaria danos”, disse ao Guardian Serhiy Rakhmanin, eleito pela formação liberal Holos. “Ele é o comandante-chefe, e o país está numa situação em que não nos podemos dar a esse luxo, independentemente dos problemas que possamos ter com ele. Isso só ajudaria o inimigo”.Numa entrevista ao site Axios publicada a 25 de setembro, Volodymyr Zelensky afirmou que não se candidataria a um segundo mandato depois da guerra acabar, numa referência à impossibilidade de eleições antes devido à lei marcial. “Se terminarmos a guerra com os russos, estou pronto para não me candidatar a um segundo mandato, porque esse não é o meu objetivo”, disse então. “Queria muito, num período muito difícil, estar com o meu país, ajudar o meu país. O meu objetivo é terminar a guerra.”Noutras entrevistas dadas a media norte-americanos na mesma altura, Zelensky também não descartou a possibilidade de realizar eleições em caso de cessar-fogo, se a situação de segurança o permitir. Resta saber se o líder ucraniano, caso se realizem eleições a curto prazo, se recandidatará ou não. Uma sondagem da Info Sapiens publicada na terça-feira mostra que apenas 20,3% dos ucranianos votariam em Volodymyr Zelensky nas futuras eleições presidenciais. Mas mesmo assim, continua a ser o candidato mais popular. Em 2019, obteve uma vitória esmagadora com 74,96% dos votos na segunda volta, contra 25,04% do ex-presidente Petro Poroshenko.Este estudo de opinião - levado a cabo dias depois de vir a público o escândalo de corrupção que envolveu o governo - mostra o ex-comandante-chefe Valerii Zaluzhnyi, atual embaixador da Ucrânia no Reino Unido, no segundo lugar das intenções de voto (19,1%), seguido de Kyrylo Budanov, chefe dos serviços de informação militar ucranianos, com 5,1%. Apesar da sua popularidade, estes dois últimos não anunciaram planos para seguir uma carreira política.Aliás, Zaluzhnyi afirmou no início de outubro que não tem planos para lançar um partido e que não apoia a realização de eleições durante a guerra. “Não apoio a realização de eleições em tempo de guerra. Qualquer pessoa que receba uma oferta, alegadamente em meu nome, para participar em qualquer iniciativa através de qualquer organização deve denunciá-la às autoridades”, escreveu no Facebook. “Não estou a criar nenhuma sede ou partido político e não tenho qualquer ligação a qualquer força política”.Num cenário de eleições parlamentares, 21,8% dos ucranianos disseram que apoiariam um partido inexistente liderado por Zaluzhnyi, enquanto o partido de Zelensky obteria apenas 11,5%. O Kremlin reagiu esta quarta-feira, 10 de dezembro, às intenções do presidente ucraniano, afirmando que “verá como as coisas se desenvolvem”. Em conferência de imprensa, o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, disse que a realização de eleições na Ucrânia é algo que Vladimir Putin “tem discutido há muito tempo” e Donald Trump também “falou recentemente sobre” o assunto, mas acrescentou que Moscovo ainda não discutiu o assunto com “ninguém”, incluindo os EUA.Europa discute situação ucraniana com TrumpOs líderes de Reino Unido, França e Alemanha realizaram esta quarta-feira uma teleconferência com Donald Trump, para discutir os mais recentes esforços de paz dos Estados Unidos para pôr fim à guerra na Ucrânia, tendo os quatro considerado que “este era um momento crítico - para a Ucrânia, para o seu povo e para a segurança partilhada em toda a região euro-atlântica”, segundo um comunicado do gabinete de Keir Starmer.O governo de Friedrich Merz usou os mesmos termos, acrescentando que “o trabalho intensivo no plano de paz deve continuar nos próximos dias”. Já Emmanuel Macron, falando num evento, referiu que “tivemos cerca de 40 minutos de discussão para avançar com um assunto que nos diz respeito a todos”.Londres, Berlim e Paris, juntamente com outros parceiros europeus e Kiev, têm trabalhado nas últimas semanas para melhorar o plano inicial de paz proposto pelos EUA, que incluía a cedência de território a Moscovo, a limitação das forças armadas ucranianas e a desistência da ambição de aderir à NATO. Entre estas melhorias estão potenciais garantias de segurança para a Ucrânia num cenário pós-guerra.Zelensky esteve na segunda-feira em Londres Starmer, Macron e Merz, tendo seguido depois para Bruxelas, onde jantou com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o líder do Conselho Europeu, António Costa, e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, tendo recebido a promessa de que continuarão a apoiar Kiev. Para esta quinta-feira, 11 de dezembro, está agendada uma nova reunião, em formato de videoconferência, da Coligação dos Dispostos, segundo informou o Eliseu, na qual participará também o presidente ucraniano. “Na próxima semana, vamos coordenar com a Europa e em formatos bilaterais. A Ucrânia está a trabalhar rapidamente. Cada visita, cada negociação nossa tem sempre um resultado prático, sobretudo para a nossa defesa, para a nossa resiliência”, disse ontem Zelensky ao final do dia. Noutra frente, Macron e Starmer vão reunir-se com Merz para novas conversações na próxima segunda-feira em Berlim, disseram dois diplomatas da União Europeia à Reuters.O presidente ucraniano revelou ainda ter tido esta quarta-feira “uma discussão produtiva” com o lado americano - o secretário do Tesouro, Scott Bessent, Jared Kushner e Larry Fink, presidente da BlackRock, a maior empresa do mundo de gestão de ativos, e co-presidente do Fórum Económico Mundial - naquilo que chamou “de primeira reunião do grupo que vai trabalhar num documento relativo à reconstrução e recuperação económica da Ucrânia”.Zelensky acrescentou ainda que, durante o encontro, “atualizámos também as nossas reflexões sobre os 20 pontos do documento de referência para o fim da guerra. É a segurança geral que determinará a segurança económica e sustentará um ambiente de negócios seguro”..António Costa apela a “ação urgente” dos líderes da UE para ajuda financeira à Ucrânia até 2027.Sete países da UE apoiam empréstimo de reparações para Ucrânia ficar numa posição forte