André Ventura defendeu na noite eleitoral que o Chega acabou com o "bipartidarismo" e que "nada voltará a ser como dantes".
André Ventura defendeu na noite eleitoral que o Chega acabou com o "bipartidarismo" e que "nada voltará a ser como dantes".Foto: Paulo Spranger

Sistema abalado, “fim do bipartidarismo”. "Nada ficará como dantes", diz Ventura

Ventura chegou ao pé dos apoiantes, vindo da missa, sem conhecer bem os resultados, mas com a certeza de que o Chega era agora o “fim da alternância” entre PS e PSD.
Publicado a
Atualizado a

No fim da noite, o Chega tinha arrecadado 1.345.575 votos (22,56%), o que se traduziu em 58 mandatos. Só não elegeu no distrito de Bragança, tal como aconteceu no ano passado. Os mantras repetiram-se em ambiente de celebração na unidade hoteleira em Lisboa que o Chega elegeu para a noite eleitoral. Pouco depois das 21h00, ainda longe dos resultados consolidados, mas com a tendência cimentada, quando o líder do partido chegou ao pé de militantes e deputados, os gritos intensificaram-se: “Ventura chegou, o sistema abalou. Luís vai lá trabalhar para o Ventura governar.”

Foi assim que o Chega, em clima de vitória, deu as boas-vindas ao líder do partido, enquanto André Ventura tentava responder às perguntas dos jornalistas.

A primeira palavra que Ventura quis dizer foi “obrigado”.

“Obrigado por não terem desistido, por terem acreditado que era possível quebrar 50 anos de sistema político”, completou, enquanto analisava o resultado que o Chega tivera até ao momento, colocando o partido à frente do PS. Estavam apurados pouco mais do que 50% dos votos.

“Aparentemente é um grande resultado, aparentemente é um resultado histórico. O Chega matou hoje o bipartidarismo em Portugal”, acrescentou, frisando que este resultado sublinha aquilo que sempre disse que iria fazer.

“Grande noite”, disse André Ventura aos apoiantes e deputados, já com os resultados consolidados, mas ainda sem se conhecer os votos dos círculos da Europa e de Fora da Europa, que em número de votos não vão superar a vantagem que o PS tem sobre o Chega.

Ainda assim, André Ventura descreveu a noite eleitoral como um ajuste de “contas com a história”, dando a voz, afirmou, a “milhares que se sentiram em Portugal excluídos”, referindo-se aos “da igreja, ao poder mediático e ao poder político”.

Ventura, com esta afirmação e face aos resultados eleitorais, considerou que o “Chega superou o partido de Mário Soares, superou o partido de António Guterres, matou o partido de Álvaro Cunhal” e “varreu do mapa o Bloco de Esquerda”.

Nesta intervenção final da noite eleitoral, Ventura, aludindo aos resultados, afirmou que “as empresas de sondagens falharam”.

“Uns falharam porque erraram, outros falharam porque quiseram propositadamente dar outro resultado”, sustentou, argumentando que tudo isto aconteceu “quando a rua mostrava o contrário”.

Perante aquilo que considerou ter sido uma desvalorização, o líder do Chega defendeu que “é hora de as empresas de sondagens retirarem consequências dos seus atos”. Ventura prometeu não voltar a acreditar em mais sondagens, “que só querem levar ao colo os dois partidos que nos condicionaram”, disse.

O líder do Chega prometeu que “nada ficará como dantes, e atacou os órgãos de comunicação social, e lobbies que não especificou, por terem promovido uma campanha de “mentiras”, sugerindo que nesta noite ficaram com “uma azia muito grande”.

“Fomos atacados, ofendidos, excluídos”, disse, falando em “pactos secretos com tentativas” de diminuírem o partido.

Lembrando que, agora, “o Chega tem um número de deputados que nunca nenhum outro partido teve, para além de PS e PSD”, Ventura prometeu que iria “exigir contas a todos”

“O Chega é o futuro do Governo”, gritou. “Costumo ouvir os conselhos de Deus. Desta vez não vou ouvir e não vou parar até ser primeiro-ministro”, prometeu.

A ausência de Ventura durante o resto da noite não alterou o clima de celebração que se fazia sentir, intensificado pelas várias interrupções dos apoiantes que gritavam “Ventura”, reiteradamente, “Chega” ou “Portugal é nosso e há de ser”, até porque se esperava que André Ventura regressasse a qualquer momento, para reagir ao resultado final. Mas a celebração não era só a favor do Chega, mas uma resposta aos socialistas. “E quem não salta é do PS”, repetiam os apoiantes, enquanto saltavam.

Quase à meia-noite, antes de André Ventura regressar à sala onde decorriam os festejos, a deputada Rita Matias, rodeada por outros deputados, pediu aos apoiantes para mudarem os cânticos de celebração, desta vez dedicados ao líder do PS, como se fossem uma claque de futebol: “Ó Pedro [Nuno Santos] vai para casa chorar que o Ventura chegou para ficar.”

Pouco depois, o líder do PS anunciaria que haveria eleições internas no partido, às quais ele não seria candidato. Nesse momento, um apoiante do Chega disse: “Já arrumámos mais um.”

“Luís és o próximo”, acabaram por gritar em uníssono, enquanto esperavam pelas declarações de Ventura.

André Ventura defendeu na noite eleitoral que o Chega acabou com o "bipartidarismo" e que "nada voltará a ser como dantes".
Montenegro: "O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro". Pedro Nuno Santos demite-se

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt