Em Portugal desde sexta-feira, 12 de setembro, a convite do patriarca Rui Valério para participar no encontro “Compromisso com a cidade” -- “momento de diálogo da Igreja com a sociedade civil e tempo de reflexão sobre os desafios de esperança nos dias de hoje” -- o número dois do Vaticano, Pietro Parolin, coloca a Igreja na primeira linha do combate pela paz, pelos direitos humanos e pela liberdade religiosa. Em declarações ao DN, prestadas por telefone, o secretário de Estado de Leão XIV expressa o comprometimento do Vaticano: “Em muitas situações, mas ainda mais quando se trata de cenários de conflito, os direitos humanos são frequentemente violados. A Igreja assume essa campanha, a campanha pelos direitos humanos, pela liberdade religiosa e pela paz”. Um desafio da Igreja e, acrescenta, “de todos”, colocando a ênfase na paz, “hoje dia em perigo em muitas regiões do Mundo”. A defesa de condições dignas para migrantes e refugiados, preocupações herdadas de Francisco e assumidas já por Leão XIV, são partilhadas pelo secretário de Estado. “Trata-se”, diz, “de uma questão muito complexa, um problema para o futuro, mais estrutural do que conjuntural, e com muitas facetas”, que deve ser “encarado de forma muito positiva”. E lembra que a Europa precisa de imigrantes. “Não devem ser afastados ou rejeitados. Devemos, ao contrário, recebê-los e abraçar, juntos, o enorme desafio que é integrar e conjugar culturas muito diferentes”. Um propósito difícil de atingir, “sem a regulação dos fluxos legais”, sublinha. Nome forte para suceder a Francisco, Parolin acabaria ultrapassado pelo cardeal Prevost. Hoje, ao DN, o italiano fala da decisão final do conclave. “O Senhor escolheu este Papa e isso significa que Leão XIV terá seguramente um papel no mundo de hoje. A sua primeira preocupação é com a ausência de paz. É à paz, e à unidade da Igreja, que dedica os maiores esforços”. Nem por um segundo lamenta não ter sido ungido? Parolin ri. “Pena alguma: estou muito agradecido ao Senhor por não ter sido eleito Papa”. Rui Valério: “A Santa Sé acompanha muito de perto o que se passa na Europa e no Médio Oriente” Da passagem de Parolin por Portugal, o patriarca de Lisboa ganhou uma certeza. “A Santa Sé está muito atenta ao mundo. Há uma preocupação e um acompanhamento muito próximos das situações delicadas no plano internacional, nomeadamente na Europa e no Médio Oriente”, diz ao DN Rui Valério, que hoje, dia 14 de setembro, almoçou com o cardeal italiano. Antes, Parolin esteve em Belém, numa visita de cortesia ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. A véspera foi um dia cheio. O cardeal rezou o terço na Capelinha das Aparições, em Fátima, orou no local do acidente do Ascensor da Glória, homenagem às vítimas do descarrilamento de 3 de setembro, e foi recebido por Luís Montenegro. Numa nota publicada nas redes sociais, o primeiro-ministro deu conta do encontro. “Abordámos as relações de Portugal com a Santa Sé. Trocámos impressões sobre os conflitos que atormentam o mundo e sobre a necessidade urgente de trilhar os caminhos da paz”. Ainda nesse dia, Parolin participou na cerimónia que o trouxe a Portugal. O evento assinalou o Jubileu do “Compromisso com a Cidade”, foi promovido pelo Patriarcado de Lisboa na Fundação Gulbenkian, e contou ainda com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Nessa intervenção, o secretário de Estado do Vaticano criticou “a indiferença” perante os conflitos, e quem, dizendo-se defensor da paz mundial, mantém “lógicas de guerra”. À agência Eclesia, reforçou o apelo a negociações no Médio Oriente e na Ucrânia, afirmando que a guerra entre Israel e o Hamas, em Gaza, está a “aumentar o ódio”, na região. “Tudo o que está a acontecer está a aumentar o ódio entre as partes. Quando não há um mínimo de confiança, um mínimo, de abertura em relação ao outro, tudo se torna muito mais difícil”. O colaborador do Papa denunciou a “situação desumana” que vivem as crianças de Gaza, após a intervenção militar de Israel. “Como poderão pensar em termos de paz e respeito também por Israel, respeito pelo povo judeu, quando passaram por experiências tão traumáticas? É preciso evitar criar estas situações que depois se tornam insolúveis”, advertiu. O caminho passa por “ajudar as pessoas a sentir-se irmãs, a superar esta dimensão do inimigo e do adversário”, criando “as condições que possam levar à paz”, cita a Eclesia. Presidindo à celebração eucarística de encerramento do Jubileu do Compromisso com a Cidade, o homem a quem Francisco confiou a diplomacia do Vaticano, deixou uma mensagem ao corpo diplomático presente. “A Cruz indica-vos que a autêntica diplomacia não nasce do cálculo frio dos interesses, mas da busca corajosa da justiça e da promoção da dignidade de cada pessoa e de cada povo”.