Paz e casas para viver

Publicado a

16.500.000.000 de euros até 2035, um aumento de 1.000.000.000 de euros já em 2025. Foi com estes valores de gastos militares que o Governo PSD/CDS comprometeu o País na cimeira da NATO que se realizou a semana passada em Haia.

Alguns dias depois, centenas de milhar de pessoas saíram à rua, por todo o país, a reclamar do Governo soluções para a habitação. Do mesmo Governo PSD/CDS nem uma palavra, muito menos um euro, de compromisso.

Na conjugação destas opções-atitudes encontramos o vislumbre de um futuro sinistro. Um futuro em que os jovens poderão ver-se obrigados a ir morrer longe de casa, nas guerras de agressão da NATO a outros povos, mas sem poderem contar com a certeza de terem, no seu país, uma casa para viver.

Naquela dualidade de posicionamento governamental encontramos ainda uma outra marca do sentido desigual e injusto da política de direita.

Onde quer que os accionistas dos grupos económicos e financeiros fazem soar as trombetas a anunciar negócio, logo o governo de turno ali acorre, despejando recursos do Orçamento do Estado para adubar os lucros.

Se, ainda por cima, o plano de negócio tem chancela supranacional - venha o selo branco da UE, venha da NATO - então, aí, o governo cobre a parada de modo a que nem sequer risco haja para quem faz o negócio. Mesmo que se trate do negócio da guerra e de lucros arrecadados à custa de morte e destruição.

Para a minoria privilegiada de exploradores e usurários, ficam os lucros garantidos logo à partida. Para a imensa maioria que precisa de paz, direitos cumpridos e justiça social, fica a faltar quase tudo.

Está à frente dos nossos olhos o caminho que está a ser feito. Esse futuro sinistro, a não ser agora contrariado, será tão fatal como o destino.

Não há na História registo de arsenais militares criados para enferrujar nos paióis nem de exércitos mobilizados para desanimar dentro dos quartéis. Quando se investe na guerra, mais tarde ou mais cedo, ela acaba por ser feita.

Quando o governo português se compromete com 5% do PIB em gastos militares, não são “apenas” 16 mil e 500 milhões de euros que ficam mal comprometidos quando podiam ter outro (e melhor) destino. É o futuro do País que fica comprometido no pior sentido do termo.

O investimento de que precisamos nas nossas Forças Armadas é para que cumpram a sua missão constitucional de garantir a soberania e a independência nacionais. Não podemos admitir que as nossas Forças Armadas sejam comprometidas com as guerras de agressão da NATO, onde quer que o seu comando norte-americano decida fazê-las.

Os recursos que o Governo PSD/CDS quer desviar para a guerra e o militarismo devem, sim, ser canalizados para o desenvolvimento e o progresso social do País, para as respostas que fazem falta na habitação, na saúde, na educação, na protecção social ou no desenvolvimento produtivo, científico e tecnológico.

É esse futuro de paz e progresso que hoje precisamos de construir.

Diário de Notícias
www.dn.pt