Esta terça-feira, 73 militantes do BE em Portalegre apresentaram, através de uma carta coletiva, a sua vontade de se desfiliarem do partido, alegando divergências com a Direção Nacional bloquista, como uma “constante violação da democracia interna” e a inexistência de “massa critica” naquele distrito. Por seu turno, a coordenadora nacional do partido, Mariana Mortágua, em conferência de imprensa na Assembleia da República, destacou que a “divergência política teve como centro principal” o “facto de o Bloco de Esquerda ter defendido o apoio militar à Ucrânia para que eles se pudessem defender da invasão russa”.“É no âmbito deste enquadramento que lemos essas saídas”, disse a líder do BE, sublinhando que, até àquele momento, o partido “recebeu 12 pedidos de desvinculação do distrito de Portalegre”, simplesmente porque, no partido, “não há nem adesões, nem desvinculações coletivas”. .Divergências com direção do BE leva mais de 73 militantes de Portalegre a abandonar partido.“Não cabe essa figura nos estatutos. Portanto, o Bloco de Esquerda aceita pedidos de desvinculação quando eles são feitos pelas próprias pessoas, de forma individual.”Mariana Mortágua também afirmou que “não é exatamente verdade” que estas desfiliações são motivadas pela “forma como a direção tratou o distrito de Portalegre”. “Dizem que ficou esquecido, que a direção considerou que não havia razões para investir”, apontou, garantindo que o BE “não abandona nenhum distrito e tenta ter a maior atividade possível em todos os distritos”.A líder bloquista argumentou ainda que as pessoas que saem agora do partido “têm em comum o facto” de “pertencerem a uma corrente que está organizada” e que “tem ideias políticas diferentes, e que tem vindo a manifestá-las”.“Acho que temos de respeitar isso. Faz parte da vida interna de um partido, da vida democrática de um partido, e aceitá-las”, afirmou.Em relação à falta de democracia, Mariana Mortágua defendeu que o BE “é conhecido - e até, às veze,s paga um preço por isso - por ter divergências muito públicas e ter convenções abertas, totalmente abertas, com diferentes moções que se organizam e que pensam de forma diferente, e que estão representadas no Bloco de Esquerda nos mais diferentes órgãos”.O DN falou com o presidente demissionário da Comissão Coordenadora Distrital de Portalegre do BE, Higino Maroto, que se queixou do que está na origem dos argumentos da líder bloquista, apontando como divergências políticas o “desvio dos objetivos iniciais do Bloco”, ao qual se junta “o problema de não fazer o balanço das Eleições Legislativas consecutivas, com perda da representação parlamentar e de votos, de importância política”, e do “alinhamento cego com a geringonça, e não fazer balanço político disso”.Tudo isto, garante, leva a “afastar cada vez mais votantes e aderentes e simpatizantes com o Bloco”.Sobre a alegada distância da Direção Nacional do BE face ao interior do país, Higino Maroto queixa-se da falta de apoio do partido e afirma que nenhuma coordenadora visita o distrito de Portalegre desde as Eleições Legislativas de 2019.Nas últimas Eleições Legislativas, o BE conseguiu arrecadar um total de 1894 votos no distrito de Portalegre. Das 73 demissões 43 aconteceram no concelho de Campo Maior, 17 em Portalegre, 9 em Ponte de Sor, três em Elvas, uma em Nisa e outra em Sousel. Juntos, estes concelhos correspondem a 1393 votos no BE.Questionado sobre o que pensa fazer a seguir, com esta saída do BE e depois de várias décadas de ativismo político, dentro e fora do partido, Higino Maroto diz que “há muitos movimentos, felizmente, na nossa sociedade com ideias progressistas” e de “rutura com este sistema”. Por agora, sem revelar se vai aderir a outro partido, só impõe duas condições políticas das quais não abdica: a luta contra o capitalismo e o “ecossocialismo”.“De certeza que não vou ficar parado”, garante.