Friedrich Merz aumentou esta segunda-feira, 15 de dezembro, a pressão sobre os restantes líderes dos países da União Europeia ao alertar que o bloco vai sofrer “graves danos durante anos” se não chegar a um acordo sobre o empréstimo de apoio financeiro para a Ucrânia, usando ativos russos congelados, no Conselho Europeu de quinta-feira. “Não nos iludamos. Se não tivermos sucesso nisso, a capacidade de ação da União Europeia ficará gravemente prejudicada durante anos, se não por um período ainda mais longo”, afirmou o chanceler alemão, acrescentando que, desta forma, “mostraremos ao mundo que, num momento tão crucial da nossa história, somos incapazes de nos unirmos e agirmos para defender a nossa própria ordem política neste continente europeu.”Estas declarações de Merz foram proferidas em Berlim enquanto o presidente ucraniano estava novamente reunido, noutro ponto da capital alemã, com os enviados dos Estados Unidos, Steve Witkoff e Jared Kushner. Mais tarde, numa conferência de imprensa conjunta, tanto Merz, como Volodymyr Zelensky voltaram a falar neste tema, com o líder alemão a sublinhar que esta é a única opção viável de ser aprovada, já que a outra alternativa apresentada pela UE - empréstimos tendo por base o orçamento comunitário - exigiria unanimidade e seria bloqueada por países como a Eslováquia ou a Hungria.Já Zelensky voltou a defender a utilização de ativos russos congelados para que a Ucrânia possa resistir à agressão russa. Falando no 8.º Fórum Económico Germano-Ucraniano em Berlim, no qual também participou Merz, afirmou que esta medida “é inteligente e funcionará”, sublinhando que “é a forma de aproximar o fim da guerra, de convencer a Rússia de que os seus objetivos não são alcançáveis”.A União Europeia aprovou na sexta-feira, por maioria e com os votos contra da Hungria e Eslováquia, a manutenção por tempo indefinido do congelamento dos ativos soberanos russos imobilizados devido às sanções europeias à Rússia, que ascendem a 210 mil milhões de euros, servindo de base ao empréstimo de reparações à Ucrânia.A líder da diplomacia do bloco, Kaja Kallas, considerou esta segunda-feira que a semana que agora começa “é decisiva” para encontrar uma solução para o financiamento à Ucrânia, insistindo que a melhor opção é utilizar os recursos russos imobilizados, mas admitindo que as negociações “estão cada vez mais difíceis”, numa referência ao facto de a Itália se ter juntado à Bélgica na objeção a este plano. Esta segunda-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 discutiram a proposta de apoio à Ucrânia para os próximos dois anos, para tentar desbloqueá-la a tempo do Conselho Europeu de quinta-feira.O Kremlin já ameaçou por várias vezes que tomará medidas se a Europa avançar com este plano, tendo esta segunda-feira sido conhecido aquele que poderá ser o seu primeiro passo nesse sentido. O banco central da Rússia interpôs uma ação judicial em Moscovo exigindo 230 mil milhões de dólares (cerca de 196 mil milhões de euros) de indemnização à Euroclear - a empresa belga onde se encontra a maioria dos ativos russos congelados que a UE quer usar para apoiar a Ucrânia. O Tribunal Comercial de Moscovo afirmou esta segunda-feira ter recebido a queixa do banco central na passada sexta-feira, referindo que esta exige 18,2 mil milhões de rublos, o valor total dos ativos soberanos russos congelados. Se o banco central ganhar, poderá tentar a execução contra os ativos da Euroclear noutras jurisdições, especialmente nas consideradas “amigas” pela Rússia, adianta a Reuters, notando que especialistas jurídicos esperam que haja uma decisão rápida contra a Euroclear por parte do tribunal. Pressão dos EUA sobre KievApós dois dias de conversações em Berlim entre Ucrânia e EUA, Zelensky adiantou que os representantes norte-americanos mostraram estar a considerar oferecer a Kiev garantias para um futuro acordo de paz que correspondam aos mesmos níveis de segurança do artigo 5.º da NATO, o que foi confirmado também aos jornalistas por uma fonte dos EUA, mas sem esclarecer até que ponto Washington iria ao fornecer tais garantias de segurança. “Os EUA não nos estão a oferecer a adesão à NATO, mas é importante que os EUA estejam a considerar garantias semelhantes ao artigo 5. Há progressos nesse sentido. Vi detalhes fornecidos pelos militares e o que vi parece bastante promissor. Mas é apenas um primeiro esboço”, disse o líder ucraniano. Fontes dos EUA dizem ter chegado a acordo sobre 90% das questões envolvidas, mas que ainda persistem questões territoriais antigas, sublinhando que “temos várias soluções diferentes para colmatar o impasse, que lhes estamos a sugerir”.Uma fonte próxima das negociações adiantou à Reuters que os negociadores dos EUA disseram em Berlim que Kiev deve concordar em retirar as suas forças da região leste de Donetsk como parte de qualquer acordo para pôr fim à guerra com a Rússia, algo que é considerado uma linha vermelha pela Ucrânia. Zelensky considerou ontem esta questão “dolorosa”, admitindo que “francamente, ainda temos posições diferentes”.Não à retirada do DonbassUma sondagem do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (KIIS) divulgada esta segunda-feira mostra que 75% dos ucranianos rejeita uma proposta de plano de paz que implicaria a retirada das forças ucranianas do Donbass, restrições militares e nenhuma garantia de segurança. Já 63%, mais um ponto em relação a setembro, garantem estar prontos para suportar a guerra “durante o tempo que for necessário”.Em linha com a posição de Kiev nas negociações com os Estados Unidos, 72% dizem-se preparados para aceitar um acordo de paz que congele a atual linha de contacto, inclua garantias de segurança robustas e não envolva o reconhecimento de nenhum dos territórios ocupados como russos.Os dados do KIIS apontam ainda que 61% dos inquiridos confiam em Volodymyr Zelensky, apesar do recente escândalo de corrupção que levou à demissão de dois ministros e do seu chefe de gabinete, Andrii Yermak. Quanto à realização de eleições, apenas 9% dos ucranianos se mostraram favoráveis à sua realização antes do fim da guerra, enquanto 25% se manifestaram a favor de uma ida às urnas para escolher o sucessor de Zelensky caso exista um cessar-fogo suportado por garantias de segurança, enquanto 57% afirmaram que estas só serão possíveis após um acordo de paz definitivo.De recordar que no início do mês, Donald Trump, fazendo eco das exigências de Moscovo, questionou a não realização de eleições na Ucrânia - algo que a Constituição não permite enquanto está em vigor a lei marcial -, tendo Zelensky, numa mudança de discurso, se mostrado disponível para a sua realização ainda durante a guerra. As últimas eleições presidenciais e parlamentares na Ucrânia realizaram-se em 2019, sendo que estas últimas deveriam ter tido lugar em outubro de 2023 e as para chefe de Estado em maio ou abril de 2024, calendário que foi interrompido com a invasão russa, em fevereiro de 2022. .Europeus propõem liderar "força multinacional" e apoiar exército ucraniano.“É um compromisso da nossa parte”, diz Zelensky sobre Kiev poder desistir da NATO