O frágil governo francês está de novo sob ameaça. O Partido Socialista anunciou que vai apresentar uma moção de censura devido à recusa do primeiro-ministro em levar à Assembleia Nacional a discussão sobre o aumento da idade da reforma de 62 para 64 anos, quando, em paralelo, François Bayrou empreendeu, sem sucesso, negociações com os parceiros sociais sobre a reforma das pensões. A esquerda deverá votar em bloco para derrubar o governo, mas para que tal aconteça seria necessário que os 123 deputados da Reunião Nacional se juntassem. Uma hipótese que o presidente do partido, Jordan Bardella, não afastou.O grupo parlamentar do PS confirmou que a moção de censura iria ser depositada nesta quarta-feira ou na quinta-feira depois de o líder da bancada Boris Vallaud ter anunciado a iniciativa perante as respostas que ouviu do chefe do governo. Na segunda-feira, o líder dos socialistas, Olivier Faure, tinha previsto esta situação. “François Bayrou comprometeu-se por escrito a que o parlamento tivesse a última palavra. Se o parlamento não for consultado, se não tivermos a possibilidade de apresentar alterações que permitam definir quais seriam as condições para um retorno ao equilíbrio em troca de um regresso aos 62 anos, iremos para a moção de censura”, disse Faure em declarações à BFMTV. Bayrou organizou o que foi apelidado de “conclave” entre as associações patronais e as centrais sindicais. Esta iniciativa resultou de um compromisso com os socialistas para evitar uma moção de censura ao governo durante a votação do orçamento de 2025, tendo o primeiro-ministro comprometido em apresentar as conclusões aos deputados. A reunião de segunda-feira saldou-se por um impasse. Em consequência, Bayrou convocou os protagonistas para uma reunião de urgência no palácio de Matignon para tentar relançar o diálogo social, isto antes de se dirigir à Assembleia Nacional para responder às questões dos deputados. “A minha convicção é que existe um caminho, embora muito difícil, que pode permitir sair deste impasse” e esse caminho deverá levar a um texto que “poderá ser examinado pela representação nacional”, defendeu antes do anúncio da moção de censura. “Seja qual for o caminho legislativo ou regulamentar que tomarmos, é para mim inaceitável deixar destruir o equilíbrio financeiro.”Vallaud ripostou: “O respeito pela palavra dada é a base do sistema democrático”, afirmou o deputado socialista. Bayrou, acusou, “assumiu compromissos que não cumpriu, tanto nesta como noutras matérias”. O líder de facto da Esquerda Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, regozijou-se com a ação dos socialistas. “Finalmente, o PS volta à razão, ou seja, à oposição frontal a Bayrou após o fracasso do conclave.” Comunistas e ecologistas deverão juntar-se ao PS e LFI. Minoritário, o governo de Bayrou fica nas mãos da extrema-direita. O presidente da Reunião Nacional, Jordan Bardella, disse apenas que o partido “não exclui nada” em relação ao tema.