O primeiro-ministro Bart De Wever ganhou projeção internacional nos últimos meses devido à oposição da Bélgica ao plano da Comissão Europeia para usar ativos russos congelados para financiar a Ucrânia em cerca de 140 mil milhões de euros, tudo porque o país que governa é sede a Euroclear, empresa onde está a maioria destes ativos. Uma oposição que já levou o Politico a escrever sobre “como a Bélgica se tornou no ativo mais valioso da Rússia”. De Wever quer garantias e compromissos claros dos outros Estados-membros para se proteger juridicamente, mas também que outros países onde se encontram ativos russos congelados, como França ou Luxemburgo, entrem neste esquema. A sua oposição impediu que houvesse um acordo na reunião dos líderes dos 27 em outubro e, agora, a Europa está em modo de contra-relógio para que tal aconteça no Conselho Europeu de dia 18. Na sexta-feira, 5 de dezembro, o chanceler alemão, Friedrich Merz, cancelou uma visita a Oslo para ir jantar a Bruxelas com o primeiro-ministro belga e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mas aparentemente sem grande sucesso, e na sua carta-convite para o Conselho Europeu da próxima semana, divulgada esta terça-feira, António Costa pediu “ação urgente” dos líderes da UE para apoiar financeiramente a Ucrânia em 2026 e 2027, salientando que o encontro será marcado por “discussões cruciais”. Resta saber se Bart De Wever manterá a sua oposição ou se os 27 conseguirão chegar a um consenso que vá de encontro às exigências de um primeiro-ministro que nem sequer queria ter este cargo, dizendo preferir manter-se como presidente da Câmara de Antuérpia, função que desempenhou até ser empossado líder do governo, a 3 de fevereiro. Contrariado ou não, Bart De Wever, de 54 anos, fez história ao tornar-se no primeiro nacionalista flamengo à frente do governo belga, o que aconteceu após sete intensos meses de negociações. Atualmente visto como um conservador, há 20 anos era bem mais radical, tendo ganho notoriedade quando conduziu um comboio de cerca de uma dezena de camiões até à Valónia para demonstrar que a sua Flandres estava a transferir demasiado dinheiro para a região francófona. Mas, apesar de ter suavizado o seu discurso desde então, o partido nacionalista flamengo N-VA, que liderou entre outubro 2004 e fevereiro deste ano, continua a defender uma Flandres independente, e, paralelamente, tornou-se na maior força política belga. De Wever estudou Direito na Universidade de Antuérpia, mas dois anos depois optou pelo curso de História na Universidade de Lovaina, tendo nas duas feito parte dos clubes de estudantes nacionalistas flamengos. Em 2002, acabou por se dedicar a tempo inteiro à política, tendo ajudado a fundar o N-VA. Cinco anos depois tornou-se notícia quando o partido flamengo de extrema-direita Vlaams Belang trouxe a público uma foto de 1996 onde surgia ao lado de Jean-Marie Le Pen, líder do partido de extrema-direita francês Frente Nacional, numa palestra em Antuérpia. De Wever explicou mais tarde, segundo o Brussels Times, que o evento tinha sido “uma oportunidade única para ouvir Le Pen, que era uma figura maior na política francesa na altura”, mas ressalvou que o debate foi “desinteressante” e classificou o francês como “um exibicionista”.As explicações que deu na altura convenceram o eleitorado e a sua popularidade disparou, ajudado inicialmente pela participação num conhecido concurso de cultura geral na televisão flamenga, onde mostrou ser uma pessoa com um sentido de humor seco e uma obsessão pela história da Roma Antiga. Anos mais tarde, em 2012, voltou a ser notícia por motivos paralelos à sua vida política: perdeu 58 quilos (tinha 142) graças à dieta PronoKal, tendo falado sobre o assunto na televisão. Há um ano, chegou aos cinemas belgas um documentário intitulado Bart De Wever: Animal Político e que resulta de dez anos de filmagens. O primeiro-ministro belga diz achar-se uma pessoa “bastante alegre”, mas que tal não transpareceu no filme. Em vez disso, as pessoas tiveram acesso ao que os seus oponentes chamam de “frio como o gelo” quando é preciso, apesar de elogiarem as suas capacidades de debate e intelecto. “Tudo o que digo soa engraçado na minha cabeça. Mas quando o digo, e vejo a reação das pessoas, dou-me conta que a mensagem pode ter saído de forma diferente. O que é um bocado embaraçoso”, disse na altura, citado pelo Brussels Times. .Parlamento da Rússia pede medidas contra a Bélgica se UE usar ativos russos. "Poderá ser considerado um roubo”