Um jovem de 19 anos foi detido porque preparava um atentado contra a sinagoga de Halle, na região da Saxónia, anunciaram as autoridades judiciais alemãs na terça-feira, na véspera dos 80 anos da morte de Adolf Hitler, e numa altura em que o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) se prepara para se tornar no maior partido da oposição na nova legislatura.Detido em fevereiro, na Suíça, e extraditado há dias, a justiça alemã acusa-o de planificar um “atentado com motivações de extrema-direita” contra a sinagoga de Halle. O suspeito nega “ter considerado seriamente a realização do ato”, acrescenta o comunicado. A sinagoga de Halle já foi alvo de uma tentativa de atentado, em 2019, tendo o autor falhado a intrusão no templo judaico, mas matado um transeunte e um jovem refugiado. Halle foi também a cidade onde se realizou um comício da AfD, em janeiro, e na qual interveio Elon Musk. O empresário sul-africano, dois dias depois de ter feito uma aparente saudação nazi, disse que só a AfD pode “salvar a Alemanha” e que “as crianças não devem sentir culpa pelos pecados dos seus pais, muito menos dos seus avós”. Ao mesmo tempo que os líderes da AfD - que granjearam popularidade com um discurso contra a imigração - negam o extremismo do partido, dizem que o país não deve desculpar-se pelo Holocausto nem pelo regime nazi. Além disso, não faltam exemplos de membros do partido com discurso ou atos extremistas. Por exemplo, em novembro último, Kurt Hättasch, deputado municipal de uma vila na Saxónia, foi preso junto com outros sete. Segundo as autoridades, o grupo neonazi Sächsiche Separatisten (Separatistas da Saxónia) planeavam tomar áreas do leste do país e proceder à limpeza étnica de grupos “indesejáveis”. Soube-se entretanto que o grupo realizava treinos paramilitares na Polónia e na República Checa. O extremismo e o antissemitismo não grassam apenas na Saxónia. Em 2023, membros do grupo Reichsbürger foram detidos em seis regiões da Alemanha: planeavam destituir o governo de Olaf Scholz pela força e raptar o ministro da Saúde. . Numa tentativa de distanciamento com o ideário do Terceiro Reich, Alice Weidel, a líder da AfD, chegou a classificar Hitler de “comunista”. Na edição do DN de 3 de maio de 1945, a propaganda nazi dizia que Adolf Hitler “caiu” em combate “até ao último alento pela Alemanha contra o bolchevismo” - o grande inimigo da ditadura portuguesa. Há muito que se sabe que o austríaco se suicidou com um tiro na tarde de 30 de abril, enquanto a mulher, Eva Braun, se envenenou. Só um dia depois é que a notícia correu, embora embrulhada na mentira de que o fizera “à cabeça dos defensores heroicos da capital do Reich”. Também na manchete do DN, o comandante das forças aliadas na Europa, Dwight Einsenhower, contrariava a versão posta a correr pelo sucessor de Hitler, Dönitz. O general norte-americano alegava que o führer tinha morrido em resultado de um derrame cerebral.Entre as notícias da morte de Hitler e a da libertação da capital alemã (“Berlim foi totalmente ocupada”), o DN, dirigido então pelo luso-alemão Eduardo Schwalbach, tecia o elogio fúnebre ao homem responsável pelo eclodir da II Guerra e que teve direito a dois dias de luto em Portugal. Em “A vida intensa e dramática de Adolfo Hitler”, lê-se que “morre como um soldado entre os escombros da sua própria obra, depois de uma carreira que conheceu todas as ansiedades, todos os fulgores e todas as amarguras”.