30 OUT 2020
30 outubro 2020 às 00h45

Trump hiperativo, Biden cirúrgico. Como são os ultimos dias de campanha

Candidato republicano aposta tudo em vários comícios por dia, em claro contraste com uma campanha cautelosa do antigo vice-presidente.

César Avó

Indiferente às sondagens, tendo em conta a experiência pessoal, Donald Trump irá terminar a campanha num frenesi de milhas aéreas a bordo do Air Force One, com 13 comícios marcados entre sexta-feira e segunda em seis estados (Michigan, Wisconsin, Minnesota, Florida, Geórgia e Pensilvânia). O tudo ou nada de quem não condescende com perdedores. Joe Biden, que se manteve na sua casa em Delaware na maior parte do tempo, viaja para alguns dos estados decisivos.

Com o dia das eleições a menos de uma semana de distância, mais de 42 milhões dos 92 milhões de boletins de voto solicitados pelos eleitores ainda não tinham sido entregues até quarta-feira à tarde, fazendo soar os alarmes dos funcionários eleitorais. E também a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, avisou que quem ainda não enviou o boletim por correspondência deve votar presencialmente porque os serviços postais poderão não dar conta do recado. Entre as duas formas de sufrágio, mais de 79 milhões de norte-americanos votaram - em 2016, 139 milhões de norte-americanos exprimiram a sua escolha nas urnas.

As últimas horas de campanha são, portanto, para apelar a uma minoria de eleitores, os indecisos. E aos indecisos dos chamados estados decisivos, aqueles que contribuem com um número de votos grande no colégio eleitoral e que tanto podem cair para um lado como para o outro.

A Florida, por exemplo, conta com 29 votos no total de 538. Nesta quinta-feira os dois candidatos estiveram naquele estado do sudeste. Donald Trump fez uma exceção aos comícios em aeroportos e foi falar aos seus apoiantes junto de um estádio em Tampa. Joe Biden também discursou junto dos seus, mas num comício em modo drive-in, junto de uma universidade em Coconut Creek, e mais tarde à porta de uma sede eleitoral em Fort Lauderdale.

Sabendo da importância do voto dos latinos, Biden prometeu, sem dar pormenores, uma mudança na política dos EUA face a Cuba. E garantiu proteger os venezuelanos exilados do regime de Nicolás Maduro, a quem chamou de "bandido". A Câmara dos Representantes aprovou legislação para dar um estatuto de proteção temporária a cerca de 200 mil venezuelanos exilados nos EUA, mas a medida esbarrou no Senado, de maioria republicana.

Já Trump disse que uma vitória dos democratas representa um futuro com "desordeiros, pessoas que queimam bandeiras e extremistas de esquerda" e que querem "transformar os Estados Unidos numa Cuba comunista ou numa Venezuela socialista".

Na Florida como noutro estado, Donald Trump apresenta-se como alguém que venceu o vírus e que vai levar o país a virar a página, sem novos confinamentos, apesar de os números desmentirem-no: há quase três milhões de norte-americanos infetados, o recorde de novos casos foi batido na quarta-feira (81 585) e o número de mortes diárias, longe do pico de 2700 em abril, está agora à volta de mil.

Joe Biden, pelo contrário, afirma-se como o candidato que quer combater a pandemia recorrendo à ciência e às recomendações das autoridades de saúde e reflete isso não só no seu discurso mas também no número de comícios e viagens. Na segunda-feira, o democrata de 77 anos explicou a estratégia. "Vamos continuar a viajar, mas a grande diferença entre nós [e a campanha de Trump], e a razão pela qual parece que não estamos a viajar, é que não estamos a plantar os superpropagadores. É importante sermos responsáveis", disse na segunda-feira.

Nesse mesmo momento anunciou um sprint final que iria incluir viagens ao Iowa, Wisconsin, Geórgia e Florida. Dias depois foi também anunciada uma visita ao Minnesota

Donald Trump, que tem na agenda mais duas visita à Florida (Melbourne no domingo e Miami na segunda-feira), venceu este estado com 2,2 pontos de vantagem sobre Hillary Clinton. Na mais recente sondagem, da NBC News/Marist, Biden recolhe 51% das intenções de voto contra 47% de Trump. Os latinos, no entanto, dão preferência ao homem de negócios, com uma vantagem de seis pontos.

Se Joe Biden já não regressa à Florida, a candidata a vice Kamala Harris comparece, no sábado, numa visita a três condados (Miami-Dade, Broward - onde esteve Biden - e Palm Beach). A senadora californiana chega do Texas, onde nesta sexta-feira também se desloca a três localidades daquele estado (McAllen, Fort Worth e Houston) que, pela primeira vez em muitos anos, poderá votar democrata. A esse propósito, o texano Beto O'Rourke, que se candidatou às primárias democratas, instou Biden a viajar até àquele estado.

Ali a média de sondagens dá uma vantagem de 2,3 pontos percentuais a Trump. No Texas votaram nove milhões de pessoas em 2016 e até quinta-feira o número de votantes ia em 8,4 milhões. Ali como noutros estados, a campanha de Biden aposta forte nos anúncios televisivos e tem esperança de que os novos trêsmilhões de eleitores em relação a 2016 façam a diferença.