São sete para um lado e sete para o outro, mais três à esquerda. Carlos Moedas ganhou a corrida à Câmara de Lisboa, mas sem maioria e a distribuição de vereadores pelas forças políticas é um berbicacho para a governação da cidade. Este é o primeiro desafio que o presidente eleito da autarquia - o de conseguir entendimentos capazes de levar a bom porto o seu programa para a capital..Carlos Moedas tem com ele seis vereadores - Filipe Anacoreta Correia (CDS), Joana Almeida (Independente), Filipa Roseta (PSD), Diogo Moura (CDS), Ângelo Pereira (PSD) e Laurinda Alves (Independente). Aquele que foi seu opositor nas eleições, Fernando Medina, conseguiu eleger também outros seis vereadores. A CDU dois e o Bloco elegeu uma vereadora. O que dá à esquerda a maioria no executivo municipal. E é aqui que começa o problema.."Governará em minoria e conseguirá os entendimentos que forem necessários", afirma ao DN Miguel Morgado, o "amigo" que ajudou Moedas na campanha eleitoral autárquica. O antigo assessor político de Pedro Passos Coelho e ex-deputado do PSD, estabelece um paralelo com António Costa, "que nem as eleições de 2015 ganhou e conseguiu formar governo com partidos que classificava de extrema-esquerda e os requalificou de moderados". Crê, por isso, que Moedas terá no PS, "se os interesses da cidade falarem mais alto do que os partidários", margem para entendimentos, nem que sejam pontuais..Sobre a governabilidade da câmara, é visto como tendo as qualidades para estabelecer pontes com os outros partidos que elegeram vereadores. "Tem capacidade negocial, é sensato e moderado", afirma uma fonte que lhe é próxima. E que garante: "Do lado do Moedas não haverá questões ideológicas que bloqueiem a governação da cidade". A mesma fonte recorda a garantia dada pelo agora presidente da Câmara eleito - numa coligação PSD/CDS/PPM/MPT e Aliança - de que irá seguir a tradição do antigo presidente do município, o democrata-cristão Nuno Kruz Abecasis de levar todos os projetos a negociações com todos os partidos. No caso será PS, PCP e BE..Após um longo reinado socialista na câmara, entre António Costa e Fernando Medina passaram 14 anos, há quem aponte como outro dos desafios de Carlos Moedas a "reestruturação administrativa" da câmara. Traduzindo, livrar-se de alguns dos caciques do PS que se foram instalando nos Paços do Concelho..Ora, também será um desafio de Moedas resistir às investidas das estruturas do PSD e até do CDS para substituir os do PS pelos dos da mesma cor partidária..Miguel Morgado não vê aqui um problema. "A vitória é dele. Escolheu a equipa que entendeu e ninguém tem dúvida de quem manda na coligação"..Tendo trabalhado com ele de perto, o antigo deputado do PSD diz que Moedas decidiu várias coisas de estratégia durante a campanha e as equipas que com ele estiveram "e que não agradou a toda a gente e que implicou ruturas com a prática do PSD e do CDS"..Das equipas que agora irão trabalhar com ele está tudo a ser pensado, tal como ainda não houve troca de pastas, nem ainda marcação de um encontro entre o ex-presidente da Câmara, Fernando Medina, e o novo, Carlos Moedas. Nem a data de posse está ainda definida..Os dados que foram disponibilizados pelo executivo de Medina sobre as finanças da Câmara dão conforto a Moedas, garantem-nos as mesmas fontes, para não ter de se preocupar com problemas financeiros..Pelo que o seu foco será mesmo o conjunto de promessas que fez aos lisboetas e que, entre outros fatores, lhe valeram a vitória no dia 26, sob o mote "Lisboa pode ser mais do que imaginas"..Entre as que quer concretizar nos primeiros 100 dias de governação estão algumas que foram emblemáticas durante a campanha, como a de devolver o máximo de IRS aos lisboetas (5%); implementar 50% de desconto no estacionamento EMEL para os residentes em toda a cidade; tornar os transportes públicos gratuitos para os residentes menores de 23 e maiores de 65 e começar a resolver o problema da habitação na cidade, que considera ter sido um dos maiores "falhanços" do executivo de Medina..As ciclovias também estão na sua mira, e a da Avenida Almirante Reis é mesmo para acabar. Para avaliar as restantes, já que não é contra estes corredores para bicicletas, vai pedir uma avaliação ao LNEC e só depois decidirá as que manter, alterar ou até acabar..Neste primeiros 100 dias, Carlos Moedas quer também concretizar a Assembleia de Cidadãos que prometeu - com escolha aleatória de moradores - para serem ouvidos sobre os vários projetos para a cidade..Miguel Morgado está, como é óbvio, muito confiante no projeto de Moedas. "Carlos Moedas foi subestimado por Fernando Medina e pela esquerda em geral e até pelo PSD. Os adversários foram surpreendidos pelas suas qualidades". E acrescenta: "O seu perfil pode não ser tão exuberante com alguns gostavam, mas Lisboa recompensou um tipo humilde, que abre o coração às pessoas e que quer mesmo trabalhar de manhã até à noite pela cidade"..50,67%.Belém Foi a freguesia que mais votou em Moedas para a presidência da câmara. O cabeça de lista da coligação Novos Tempos Lisboa (que juntou PSD, CDS, MPT, PPM e Aliança) foi o escolhido po 50,67% dos eleitores (4111 votos). Medina ficou em 2.º lugar (23,02%). Fernando Ribeiro Rosa foi eleito presidente da Junta..15,62%.Marvilla No sentido inverso, Marvilla foi a freguesia onde Moedas teve pior desempenho, recolhendo apenas 15,62% dos votos (2120 no total) e ficando aqui a larga distância do socialista Fernando Medina (48,60%, 6595 votos). Em terceiro lugar ficou a CDU. José Vieira foi eleito presidente da Junta de Freguesia..10.Freguesias A coligação encabeçada por Carlos Moedas elegeu 10 presidentes de Junta em Lisboa (Belém, Estrela, Santo António, Avenidas Novas, São Domingos de Benfica, Lumiar, Alvalade, Areeiro, Arroios e Parque das Nações), menos três do que PS/Livre. Já o PCP/PEV conseguiu ganhar em Carnide..paulasa@dn.pt