Filipe Froes assume que "o futebol pode servir de exemplo" no regresso à competição

Os campeonatos devem regressar no início de junho. O pneumologista que tem trabalhado com a Liga diz que o reinício "não pode colocar em causa a segurança dos atletas e de todos os envolvidos" e apela à "uniformização" de procedimentos na Europa, para evitar novos contágios por covid-19.

O previsível final do estado de emergência já admitido pelo Governo no próximo dia 2 de maio, coloca no horizonte a possibilidade de os campeonatos profissionais de futebol (I e II Liga) poderem regressar no início de junho, cumprindo-se assim as dez jornadas que faltam para concluir a temporada.

A Liga de Clubes tem vindo a trabalhar com os médicos pneumologistas Filipe Froes e António Diniz, tendo em vista a elaboração de um plano para que sejam retomadas as competições com a garantia de segurança de todos os envolvidos.

Filipe Froes aceitou falar ao DN sobre aquilo que são os traços gerais a que o futebol deve obedecer, sem no entanto entrar no âmbito das propostas que estão em cima da mesa, para que o regresso dos campeonatos seja possível e se torne numa realidade. E há uma garantia que é deixada pelo conceituado pneumologista português: "O futebol pode servir de exemplo para mostrar a importância das medidas de segurança em todas as atividades."

Aos poucos as equipas começam as regressar aos trabalhos. Sporting, Sp. Braga, Famalicão e Benfica, por exemplo, já deram os primeiros passos. E para as 18.00 desta terça-feira (28 de abril) está marcada uma reunião em São Bento entre o primeiro -ministro António Costa e os presidentes do Sporting, Benfica, FC Porto e da Federação Portuguesa de Futebol respetivamente, Frederico Varandas, Luís Filipe Vieira, Pinto da Costa e Fernando Gomes, para analisar o regresso do futebol.

Na Alemanha, o trabalho das equipas da Bundesliga está mais adiantado e até já está prevista a realização de jogos a 9 de maio, enquanto em Inglaterra a Premier League começa a estudar a forma como vai regressar a competição.

Apenas pessoas essenciais nos estádios

Todos admitem que a época irá terminar, mas sem público nas bancadas. Em Inglaterra, já se fala em 300 pessoas como número mínimo para que um jogo de futebol possa ser realizado. Filipe Froes levanta dúvidas sobre se será necessário o envolvimento de tanta gente. "Se calhar não são precisas tantas pessoas, os jogos têm de ser feitos apenas com as pessoas essenciais. Por exemplo, se calhar, a rapariga que leva a bola de jogo é dispensável...", avisa o pneumologista, mostrando-se convicto de que "a Premier League irá analisar e decidirá aquilo que é essencial", afinal a palavra "segurança" é determinante para que a bola volte a rolar.

Mas antes de se pensar nisso, Froes considera que "ninguém pode determinar o regresso do futebol sem que a situação epidemiológica o permita". Como tal, só depois de as condições serem favoráveis e da autorização das entidades governamentais, poderão então ser colocadas em prática "as medidas de segurança que evitem a possibilidade de novos contágios". "Sem elas, não será possível o regresso", frisa.

Filipe Froes revela que, no seu papel de consultor da Liga, foram logo à partida estabelecidas duas premissas fundamentais: "O reinício das competições não pode colocar em causa a segurança dos atletas e de todos os envolvidos. Além disso, não podem ser utilizados os recursos do Serviço Nacional de Saúde e, como tal, terá de haver meios próprios para fazer esse regresso do futebol, afinal, nenhum português pode ser prejudicado." E por recursos entendem-se testes ao coronavírus e todos os meios de proteção individual. Algo que, de acordo com o pneumologista, está a ser cumprido.

Pois bem, o futebol terá de criar a sua própria forma de lidar com o covid-19, com testes e uma capacidade de resposta próprias. Até ao momento, a Liga não adiantou muitos pormenores relativos à retoma dos campeonatos, sendo certo que além de um número reduzido de pessoas nos estádios, pouco mais se sabe. Certo é que os próprios clubes já começaram a fazer testes de despistagem do covid-19, bem como testes serológicos para avaliação da resposta imunitária de cada um dos atletas, o que no caso do Sporting já serviram para avaliar que um dos seus jogadores está imune ao vírus.

Jogadores com máscara? "Ideia inviável"

Estes testes serão, de acordo com informações já divulgadas pela agência Lusa, realizados regularmente antes de cada jogo, algo que Filipe Froes não quis confirmar, deixando apenas a certeza de que no caso de existir um caso positivo durante a competição "todos os cenários têm de ser contemplados", nomeadamente desde a continuidade até à suspensão da prova.

Uma das ideias lançadas na última semana pelo Ministério do Trabalho da Alemanha foi a de os jogadores poderem jogar de máscara que permita proteger o nariz e a boca no contexto desportivo. A recomendação do documento do departamento de Saúde e Segurança no Trabalho alemão sugeriu mesmo que se a máscara não estiver a proteger devidamente, o jogo deve parar imediatamente.

Uma ideia que não merece a aprovação de Filipe Froes. "Não me parece viável fazer atividade física intensa com máscara, pois o trabalho respiratório aumenta e depressa o atleta entraria em exaustão. Parece-me que quem propôs essa medida nunca fez uma atividade física intensa", assume.

É preciso uniformizar procedimentos na UEFA

Filipe Froes diz ao DN que o futebol está a estudar o regresso para ser "um exemplo de abertura" após as medidas de confinamento que foram determinadas em Portugal para evitar a propagação de contágios por coronavírus. E nesse sentido assegura que "a segurança, o exemplo e a responsabilidade" são as palavras-chave que vão estar sempre presentes nesse momento de retoma.

O pneumologista, que coordena também o gabinete de crise da Ordem dos Médicos para o covid-19, defende que o futebol deverá bater-se pela "uniformização de procedimentos ao nível europeu" para que as competições possam ser retomadas também a nível continental, nomeadamente a Liga dos Campeões e a Liga Europa.

Ainda assim, admite que esse plano uniformizado "no âmbito da UEFA", "poderá ser depois adaptado a cada país ou realidade, consoante a situação epidemiológica" que se verificar. "O ideal será tudo ser feito numa base coletiva. E na verdade o futebol pode dar um importante contributo com uma política de segurança a nível europeu", sublinhou Filipe Froes ao DN.

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