PCP. O inimigo (também) está cá dentro
À beira de fazer 100 anos, o PCP preocupa-se com uma das mais modernas armas de combate político do século XXI: as redes sociais. As "Teses - Projeto de resolução política" que o partido está a discutir e que terão uma versão final aprovada no próximo congresso (de 27 a 29 de novembro, em Loures) contém agora, mais do que nunca, várias referências ao problema da relação do partido com este meio de de opinião e propaganda. Face às "Teses" do congresso de há quatro anos, as referências às redes sociais cresceram exponencialmente - não se esquecendo nunca o partido de recordar que foi o primeiro em Portugal a ter um sítio na web.
O problema do PCP é o mesmo de sempre: manter dentro do partido o que se passa dentro do partido. No documento, aprovado na última reunião do Comité Central (19 e 20 de setembro - a mesma que lançou a candidatura presidencial do eurodeputado João Ferreira), os comunistas afirmam-se, como sempre, como "um alvo dos ataques do grande capital".
Isto passa pela "animação de preconceitos anticomunistas", pela "distorção de posicionamentos do PCP sobre os mais variados temas", pelas "campanhas sistemáticas sobre questões internacionais", pelas "deturpações sobre o posicionamento perante o governo minoritário do PS", pelas "calúnias que procuram atacar a credibilidade do partido e dos seus dirigentes" e atingir, por exemplo, "a reconhecida qualidade da gestão autárquica da CDU", dando "a ideia de que o partido é igual aos outros" e minando "a unidade do coletivo partidário".
Mas isto - acrescentam as "Teses" - não são só operações conduzidas contra o partido a partir do exterior. Na verdade, a direção do PCP considera que também há colaboração interna nestes ataques.
"Neste quadro, regista-se a atividade de pessoas que, apresentando-se como membros do partido, contribuem para a campanha contra o partido", lê-se no documento. Os alvos não são identificados mas sabe-se que há militantes do PCP que no espaço digital têm criticado o partido, sobretudo desde que alinhou na geringonça, em 2015. Para esses está em curso um "desvio de direita" no partido; e para a direção do partido o que está em causa são atividades fracionistas.
Ora, segundo se percebe, a direção do PCP acha que as redes sociais são um grande meio de difusão dessa "campanha contra o partido".
"Práticas desagregadoras, seja questionando publicamente ou na prática decisões do partido seja utilizando as redes sociais, minam a coesão do coletivo partidário e condicionam a sua ação organizada", diz o documento. Acrescentando que "estas práticas devem ser prevenidas e combatidas, garantindo o funcionamento regular das organizações e dos organismos do partido e procurando elevar o nível político e ideológico dos membros do partido".
Dito de outra forma: o que se passa no PCP deve ficar no PCP. "As redes sociais devem ser usadas pelos militantes do partido tal como os outros espaços da vida coletiva: para esclarecer, partilhar a ação e a orientação do PCP, manter uma postura ética, manter reservado ao funcionamento do partido o que só ao partido diz respeito."
Seja como for - diz a direção do PCP -, o mundo "das chamadas 'redes sociais', é percorrido por uma intensa luta ideológica". E nessa luta "as forças revolucionárias e progressistas devem intervir, apesar da desproporção de meios e de justas preocupações sobre o grau de manipulação e censura a que estas redes são sujeitas".
Dito de outra forma: "A agitação, de proximidade e rapidez de resposta, com um documento curto, uma faixa, uma ideia nas redes sociais, um contacto direto sobre uma luta concreta, pode ter um enorme impacto". Por isso "importa multiplicar a agitação, adequando a mensagem, com justeza e eficácia, para esclarecer, lutar e alargar a influência do partido". "É necessário estruturar melhor a difusão de conteúdos dirigidos a grupos específicos e projetar a presença do partido nas diversas redes, associando aos avanços registados medidas para ampliar a difusão e envolver as organizações e a intervenção organizada dos comunistas", lê-se ainda.
Mas que "não haja ilusões": "A recente intensificação de comunicação nas redes deve ser valorizada, pelo potencial de comunicação imediata e o alcance de massas", mas "as redes sociais são propriedade de grupos económicos multinacionais, com o que isso significa de propaganda da ideologia dominante, e com a capacidade de condicionar, censurar conteúdos e fechar o acesso às redes".
Enfim, importa ao PCP estar nas redes sociais, e os seus militantes devem fazê-lo mas usando-as para difundir as posições do partido ("manter reservado ao funcionamento do partido o que só ao partido diz respeito"). Mas sem que isso implique distância no "contacto direto" com as pessoas: "As redes sociais são concebidas para utilização individual e empresarial, o que coloca limitações ao partido. É no contacto direto que reside a prioridade de intervenção do PCP."
Pelas "Teses" percebe-se que o número de militantes diminuiu em 4320, passando de 54 280 para 49 960, "uma redução ligada ao facto de o número de recrutamentos não ter compensado o número de camaradas que deixaram de contar como membros do partido, principalmente em consequência de falecimentos". É reconhecido que o envelhecimento aumentou: quase metade dos militantes têm mais de 64 anos.