Exclusivo "Fernão Lopes é a primeira pessoa a trazer o povo para o centro da cena"

Os Intelectuais em Portugal na Idade Média é o novo livro do historiador Armando Norte, que já tinha biografado o único Papa português. Agora inclui também Pedro Hispano nessa seleção de figuras que vai de Santo António a Gil Vicente, passando por Fernão Lopes e D. Duarte.

É justo dizer, até porque no livro destaca Santo António e Pedro Hispano, que há quase uma coincidência entre intelectuais da Idade Média e homens do clero?
Isso é eminentemente verdade para o princípio da cronologia que eu abordo, que remete para o início da fundação, e isso coloca-nos imediatamente no século XII. E, sim, pode dizer-se que nos séculos XII e XIII o clero e a intelectualidade se confundem, mas que a partir do século XIV há uma espécie de deslizamento gradual para uma cultura de corte, que acontece aqui, como acontece em outros espaços europeus. E, nesse sentido, estamos relativamente a par daquilo que é feito. Seguimos o modelo de corte, que é o da corte senhorial italiana, que depois é disseminado pela Europa e que chega, num momento até relativamente precoce, a Portugal através de uma dinastia em particular, que é a dinastia de Avis.

Voltando a Santo António e Pedro Hispano, estamos a falar aqui de dois portugueses que, no fundo, fazem uma carreira internacional. O protagonismo que eles têm na nossa história tem também muito que ver com esse protagonismo que tiveram lá fora?
Sim. Ao contrário do que por vezes acaba por ser um lugar-comum, a Idade Média era uma época de grande circulação. Tudo circulava. Os reis circulavam quando se dirigiam, com as suas cortes, para se instalarem em determinados sítios, e os mercadores, os feirantes, estavam em deslocação permanente. Os grandes exércitos deslocavam-se para fazer os seus confrontos, com as hostes atrás. E também os intelectuais. Aliás, há um fenómeno típico da intelectualidade do período - e aqui de todo o período - que é a ideia da peregrinação académica. Isto é, havia determinados pontos, e esses pontos são as universidades nascentes, que fazem que esses homens convirjam em determinados espaços, nomeadamente Paris e Bolonha, no primeiro momento, e, depois, rapidamente, em novas universidades, noutros pontos. Isso leva a que quem queira adquirir determinados conhecimentos, nomeadamente de teologia, direito, artes e medicina, se tenha de deslocar às universidades para aí, tal como acontece hoje, ter o reconhecimento das competências académicas que lhes permitem, depois, ter determinadas funções.

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