Reabertura ou confinamento? Como vai ser o Natal na Europa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse na segunda-feira que em termos individuais evitar reuniões familiares seria "a aposta mais segura" durante o Natal, porque não existe risco zero nos ajuntamentos familiares em plena pandemia do novo coronavírus. Mas também reconheceu que em termos coletivos os governos têm de pesar vários fatores além da saúde pública. Como é que os governos europeus estão a preparar o Natal e o período que o antecede?
Ao mesmo tempo que reconheceu uma estratégia particular em cada Estado membro, a comissária europeia da Saúde defendeu na quarta-feira um desconfinamento "gradual, eficaz e baseado na ciência". Stella Kyriakides alertou para as consequências de uma precipitação. "Podemos constatar pelo nosso dia-a-dia que o levantamento das restrições demasiado cedo pode levar a um aumento do número de casos", afirmou.
No mesmo sentido advertiu a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen: "Temos de aprender com o verão e não repetir os mesmos erros, afrouxando demasiado depressa."
"Há menor ou maior risco, mas há um risco", disse a epidemiologista Maria Van Kerkhove sobre as reuniões familiares. "Isto é incrivelmente difícil porque em especial durante as férias queremos estar com a família, mas em algumas situações a decisão difícil de não ter essa reunião familiar é a aposta mais segura", sugeriu a responsável técnica da covid-19 da OMS.
Já o diretor do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, sublinhou a importância de alcançar um compromisso entre a ciência e os fatores económicos e sociais, mas que não há uma fórmula que sugira quanto tempo poderia ser seguro para aliviar as restrições durante a época de férias.
Michael Ryan deu como exemplo o Dia de Ação de Graças no Canadá (celebrado em 12 de outubro), onde a transmissão do vírus aumentou, pelo que "não há dúvidas" de que em áreas de transmissão comunitária significativa uma maior abertura resulta num aumento de infeções.
Tendo em conta os dados da chamada segunda vaga, o primeiro-ministro António Costa anteviu no sábado uma quadra natalícia sob restrições. "Ficaria muito surpreendido se não houvesse estado de emergência no Natal, porque isso significaria que a evolução do combate à epidemia teria sido extraordinária", disse, embora tendo ressalvado que a opção preferível seja a de fechar ao mínimo as atividades económicas.
Na quarta-feira, a ministra da Saúde disse que, antes de chegar à quadra, o país está "ainda a lutar para chegar o melhor possível aos primeiros dias de dezembro". No entanto, não deixou margem para grandes liberdades. "Não vamos poder ter um Natal igual ao dos anos anteriores porque, por muito que a situação epidemiológica melhore, só daqui a algum tempo é que vamos perceber exatamente qual é o nível de restrição que teremos nessa altura do ano", advertiu.
Na quarta-feira, dia em que a Alemanha bateu o recorde diário de óbitos de covid, 410, a chanceler Angela Merkel esteve reunida durante sete horas com os ministros-presidentes das 16 regiões da república federal para se chegar a um acordo sobre um apertar da malha até dia 23 de dezembro.
Até lá, o país que já está em confinamento parcial, com bares, restaurantes e espaços de lazer fechados, reforça algumas medidas.
"Temos duas mensagens para o povo: primeiro, obrigada, mas segundo, que as atuais restrições não serão levantadas", disse Merkel em conferência de imprensa.
"O aumento exponencial das infeções foi interrompido. Mas os casos diários ainda são demasiado elevados, e as nossas unidades de cuidados intensivos ainda estão muito cheias. Não podemos levantar as restrições acordadas para novembro", declarou.
As restrições adicionais incluem o uso de máscaras em algumas situações nas escolas e o limite de reuniões reduzido de dez para cinco pessoas de dois lares. As viagens para férias, em particular as férias de esqui, são fortemente desencorajadas até, pelo menos, 10 de janeiro.
Parte significativa das restrições fica ao critério de cada região, caso da obrigatoriedade do uso de máscaras nas escolas ou das aulas à distância. Se os grandes mercados de Natal já tinham sido cancelados, é possível que outros, em pequena escala, possam abrir.
Estas restrições serão parcialmente levantadas no período entre 23 de dezembro e 1 de janeiro. Os membros de um agregado familiar serão autorizados a encontrar-se com até dez pessoas de outros agregados familiares entre esses dias, sem contar com menores de 14 anos.
Os dirigentes estaduais e a líder alemã querem que os cidadãos se submetam a um período de isolamento voluntário antes e depois das reuniões familiares.
Aos empregadores é solicitada flexibilidade na quadra, além de que permitam quando possível que as pessoas permaneçam em casa em teletrabalho.
Nada está decidido em definitivo, mas o governo espanhol está a planear recomendações de reuniões sociais até seis pessoas "de preferência no exterior", em esplanadas de restaurantes ou em outros espaços abertos ou, sendo interiores, ventilados.
Nos dias 25 de dezembro e 1 de janeiro, a circulação deverá ser proibida entre a 01.00 e as 06.00 e é objetivo do governo que as viagens entre regiões sejam evitadas. O plano do executivo foi adiado, embora já tenha enviado para as comunidades autónomas um plano genérico com recomendações que serão adaptadas a cada situação epidemiológica e cabe a cada região decidir as medidas concretas.
Já se sabe que a região de Madrid quer fixar o máximo de dez pessoas em convívio nos dias 24, 25 e 31 de dezembro, bem como 1 e 6 de janeiro. A Catalunha também já fez saber que iria limitar a dez o número de convivas.
Se os números da segunda vaga o permitirem, o governo francês planeia suspender o confinamento no dia 15 de dezembro. "Vamos poder movimentar-nos de novo sem precisar de autorização, mesmo entre regiões, e passar o Natal com a família", anunciou Emmanuel Macron numa mensagem aos franceses através da televisão, na terça-feira.
Naquela data, cinemas, teatros e museus poderão reabrir as portas.
Já a partir deste sábado, o pequeno comércio não alimentar, como livrarias, lojas de brinquedos ou lojas de roupas podem reabrir, embora com horário limitado e com medidas sanitárias.
As crianças vão poder retomar as atividades extracurriculares ao ar livre e os locais de culto poderão reabrir, com um limite máximo de 30 pessoas.
No entanto, restaurantes e bares vão permanecer encerrados pelo menos até 20 de janeiro. O Ministério da Economia e Finanças, que já previa um apoio até dez mil euros mensais em isenções em impostos para este setor, apresentou uma nova modalidade, uma indemnização de 20% das receitas até cem mil euros mensais.
O governo italiano ainda está em discussões sobre como enfrentar o mês de dezembro e a época festiva, numa altura em que o país, o primeiro a ser atingido na Europa pela pandemia, apresenta os maiores números de mortos desde março.
O primeiro-ministro Giuseppe Conte já preparou os transalpinos para esperarem um Natal "mais sóbrio, sem reuniões na véspera de Natal, sem abraços nem beijos". Os mercados de Natal não vão abrir e várias regiões estão sob confinamento parcial e proibição de circulação para fora das mesmas.
Uma tradição que também poderá cair neste ano é as férias nas estâncias de esqui. "Não nos podemos dar a esse luxo", disse Conte, que no entanto reconhece que a questão deve ser resolvida em termos europeus. "Na Europa estamos a trabalhar com Merkel e Macron para um protocolo europeu comum."
"Se a Itália decidisse encerrar todos os seus teleféricos sem qualquer apoio da França, da Áustria e dos outros países, então os turistas italianos poderiam arriscar a ir para o estrangeiro e a trazer o [vírus] de volta para casa", disse em entrevista ao canal La7.
As estâncias de esqui francesas também ficarão fechadas e o líder do estado alemão da Baviera apoia os encerramentos temporários. Porém, na Áustria acredita-se que as restrições sejam atenuadas a partir de 7 de dezembro, o que inclui a permissão de férias na neve. Há ainda que contar com a concorrência fora da União Europeia: as estâncias turísticas suíças já se encontram abertas.
Com a "cavalaria científica à vista", isto é, com vacinas no horizonte, o primeiro-ministro Boris Johnson disse, contudo, que o Natal "não pode ser normal e há um longo caminho para a primavera".
Em isolamento após ter estado em contacto com um deputado infetado com o novo coronavírus, Johnson anunciou desde já uma dispensa "limitada no tempo" para as famílias se reunirem no Natal. "Todos queremos algum tipo de Natal, precisamos dele."
A Inglaterra vai voltar a entrar num sistema hierarquizado de restrições regionais quando o atual período de confinamento terminar no dia 2 de dezembro.
A flexibilização das restrições permitirá que as pessoas possam sair de casa para qualquer fim. Regressam algumas atividades de lazer e cerimónias religiosas públicas. Nas zonas de baixo risco de transmissão de vírus, os estádios de futebol e râguebi podem receber até quatro mil pessoas, o mesmo para espetáculos ao vivo.
Os pubs só podem reabrir se não estiverem no nível mais alto de risco.