Na manhã desta sexta-feira, os primeiros passos dos novos deputados vão ser dados no Salão Nobre da Assembleia da República: é lá que está montada toda a logística para transformar os 230 eleitos a 6 de outubro em deputados da República Portuguesa. No primeiro ponto de paragem há que digitalizar o documento de identificação. Depois, preencher o formulário eletrónico com o registo biográfico, que ficará disponível nos próximos quatro anos no site da AR..No ponto três, sobe o grau de dificuldade: há que preencher o registo de interesses que ficará também disponível online e a declaração única para o Tribunal Constitucional, obrigatória para os titulares de cargos políticos, e onde têm de constar as atividades, presentes e passadas, dos deputados, bem como o património e rendimentos. Finalmente, no ponto quatro, as questões operacionais do dia-a-dia: a atribuição de um computador portátil ou os lugares no estacionamento no Palácio de São Bento. Mas o momento alto do dia está guardado para a tomada de posse no plenário..A Assembleia da República mais feminina de sempre.A XIV legislatura, que tem início nesta sexta-feira, traz várias novidades ao hemiciclo parlamentar, a começar pelo número recorde de partidos que vai sentar-se no plenário - 10 -, entre eles três estreantes (Livre, Iniciativa Liberal e Chega), uma absoluta novidade na democracia portuguesa..Resultado de umas eleições em que se aplicou pela primeira vez a obrigatoriedade de uma quota de género de 40%, este é também o Parlamento eleito mais feminino de sempre. Foram eleitas 89 mulheres, o que corresponde a 38,7% do total. Nesta legislatura, a Assembleia da República não deixa de ser maioritariamente masculina, mas o número de mulheres tem vindo a aumentar de eleição para eleição: em 2015 foram eleitas 75 (32,6%) e quatro anos antes, em 2011, chegaram à Assembleia da República 61 deputadas (26,5%). A presença de mulheres no hemiciclo tende também a aumentar ao longo da legislatura, dado que os lugares cimeiros são, por norma, ocupados por homens, pelo que as substituições acabam por aumentar o número de mulheres..Há duas bancadas que são maioritariamente femininas - o PAN (75%) e o CDS (60%). Há uma paritária (Os Verdes) e uma que é quase, a do Bloco de Esquerda, com 47,3% de mulheres. No PCP o sexo feminino pesa 40%, no PS 38,8% e no PSD a percentagem de mulheres é de 20,5%..Outro sinal de que as mulheres estão a ganhar espaço neste órgão legislativo está nas lideranças parlamentares: há três bancadas que vão ser lideradas por mulheres: o PS (Ana Catarina Mendes), o CDS (Cecília Meireles), e o PAN (Inês Sousa Real)..Quanto a idades, é na bancada do PS que se sentam o deputado mais jovem (Miguel Costa Matos, de 25 anos), e o mais velho (Alexandre Quintanilha, de 74 anos)..Contadas 13 legislaturas em democracia, há agora na XIV um único deputado da Assembleia Constituinte: Jerónimo de Sousa, líder do PCP..E há mais uma novidade na legislatura que agora se inicia, outro sinal da diversidade que promete marcar esta legislatura: pela primeira vez vão sentar-se no Parlamento três mulheres afrodescendentes: Romualda Fernandes, do PS, Beatriz Dias, do Bloco de Esquerda, e Joacine Katar Moreira, do Livre..Os novos deputados e as caras "de sempre" que se vão embora.Comparando com os eleitos em 2015, a nova composição da Assembleia da República tem 93 caras novas - 40,4% do total de deputados. De acordo com as contas feitas pela agência Lusa, o partido que mais renova a bancada é o PSD, que tem 42 deputados novos num grupo de 79. Segue-se o PS, que tem 37 novos deputados entre os 108 eleitos. No polo oposto está o CDS: os cinco deputados do partido (que antes tinha uma bancada de 18) são todos "repetentes"..Se há muitas caras novas no Parlamento, há outras que os portugueses viam há anos - ou mesmo há décadas - no hemiciclo que já não estarão nesta legislatura. É o caso de Carlos César, líder parlamentar do PS, que não se recandidatou; do também socialista Miranda Calha, deputado da Constituinte, que deixou igualmente a AR; de Heloísa Apolónia, o rosto mais conhecido de Os Verdes, que se candidatou por Leiria e não foi eleita; Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS, também não foi eleito por Setúbal; o mesmo com Hélder Amaral, que falhou a eleição em Viseu; Rita Rato, deputada do PCP que avançou pelo círculo da Europa, também já não estará na AR. Jorge Falcato, o primeiro deputado paraplégico eleito para a Assembleia da República, em 2015, também fica de fora..Deputados elegem presidente da Assembleia.A sessão plenária abre às dez da manhã, com a constituição de uma Comissão Eventual de Verificação de Poderes dos Deputados Eleitos. Os trabalhos são suspensos logo a seguir e retomam às 15.00, com a leitura do relatório elaborado pela comissão, a quem cabe apurar se há incompatibilidades expressas entre os parlamentares..À tarde, os deputados elegem o presidente da Assembleia da República. Eduardo Ferro Rodrigues é recandidato ao lugar de segunda figura de Estado, que já ocupou nos últimos quatro anos. Para ser eleito precisa do voto da maioria absoluta dos deputados (116) o que, à partida, parece não ser difícil: basta que aos votos da bancada socialista se juntem os parlamentares do Bloco de Esquerda ou do PCP..A votação do líder dos deputados ocupa boa parte da sessão plenária inaugural, dado que os parlamentares são chamados um a um a depositar o voto em urna. Já a eleição dos vice-presidentes, secretários da Mesa e Conselho de Administração do Parlamento decorre numa outra sala. Para a vice-presidência do Parlamento foram indicados pelos respetivos partidos Edite Estrela (PS) Fernando Negrão (PSD), José Manuel Pureza (BE) e António Filipe (PCP)..Uma vez terminados os trabalhos do primeiro dia, deverá seguir-se uma conferência de líderes, que vai marcar a agenda já da próxima semana..As cadeiras, a porta e o corrimão.Em vésperas da tomada de posse, a configuração da nova Assembleia da República já está a tomar forma. Os assentos foram distribuídos para esta primeira sessão e não se espera que haja alterações significativas, apesar da "polémica das cadeiras" que se levantou entretanto e que, além de cadeiras, também meteu portas - o Parlamento chegou a equacionar a possibilidade de abrir uma nova porta para o hemiciclo para o estreante André Ventura, do Chega, poder aceder ao seu lugar, uma hipótese que foi entretanto afastada. De acordo com o relato da última conferência de líderes, o problema é, afinal... um corrimão, que obriga os deputados sentados nas filas mais à direita a terem de se levantar para dar passagem aos colegas de bancada..Joacine Katar Moreira, deputada eleita pelo Livre, vai sentar-se na segunda fila, à esquerda do hemiciclo, entre o PS e o PCP, atrás do deputado da primeira fila do Partido Ecologista Os Verdes. .João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, e André Ventura, do Chega, vão sentar-se também na segunda fila, mas do outro lado do hemiciclo. O deputado liberal estará na 5.ª cadeira a contar da direita, ao lado de três deputados do CDS. Na ponta mais à direita dessa fila, na primeira cadeira, vai ficar André Ventura, imediatamente atrás de um dos dois deputados do CDS que ficam à frente. Os centristas, que passam de 18 para cinco deputados, têm agora apenas dois assentos na fila da frente. Já o PAN, que passou de um para quatro deputados, ganha dois lugares na fila da frente.