Cinco candidatos à liderança; 11 moções globais; dois dias de discussões, no Parque de Exposições de Aveiro; trabalhos prolongando-se pela noite fora, de sábado para domingo; votações de madrugada. Nas piores circunstâncias possíveis, com o partido reduzido a cinco deputados - tinha 18 -, o CDS volta aos congressos onde tudo está em aberto - na definição do caminho a seguir e de quem o irá liderar. Assunção Cristas fará o discurso de despedida logo no início dos trabalhos, nesta manhã..E afinal quem é o favorito?.No CDS-PP, os congressos são à antiga. É lá que as lideranças se disputam e lá que se vencem e perdem. Não é como no PS ou no PSD, onde os líderes chegam já escolhidos em eleições diretas prévias (que os centristas já tiveram mas abandonaram). Os congressos são momentos de forte disputa retórica, onde um bom discurso pode fazer a diferença e virar o resultado. José Ribeiro e Castro conseguiu-o contra Telmo Correia. Os militantes são representados por delegados (cerca de 1100). E estes não estão associados a nada (candidatura), tendo portanto toda a liberdade para decidir no momento. De acordo com a retórica - ou com a melhor oferta... Isto torna a reunião absolutamente imprevisível. Dir-se-á que quem partiu na "pole position" foi João Almeida (deputado, ex-líder da JP, membro da atual direção de Assunção Cristas. Mas tudo está em aberto. Cada candidato apresenta a sua moção global. Mas no CDS podem aparecer outras, não associadas a candidaturas. E apareceram, claro: às cinco dos candidatos a líderes somam-se sete (uma delas do eurodeputado Nuno Melo). Será a votação destas moções, na noite de sábado, que dará uma primeira indicação sobre quem pode vir a suceder a Cristas..Candidatos. Quem são e o que representam.São eles João Almeida (deputado), Francisco Rodrigues dos Santos (líder da JP, conhecido apenas por "Chicão"), Filipe Lobo d'Ávila (advogado, ex-deputado), Abel Matos Santos (líder da fação ultraconservadora Tendência Esperança) e Carlos Meira (um "franco-atirador" de Viana do Castelo). As candidaturas mais fortes parecem ser as de João Almeida e de "Chicão" (que tem a JP consigo). Todos se dizem de direita, sem hesitações. Almeida será entre os cinco candidatos o mais centrista; à direita da direita estão, claramente, Abel Matos Santos e Francisco Rodrigues dos Santos. Filipe Lobo d"Ávila estará entre Almeida e os restantes - e pode ser uma força de charneira importante a decidir para que lado cairá o congresso. Carlos Meira tem-se afirmado sobretudo com um discurso basista virado para dentro ("não queremos elites"). Tudo fará para que João Almeida perca..Como se colocam face ao Chega e à IL?.Não é a primeira vez que o CDS tem uma dimensão parlamentar tão reduzida. Aconteceu no tempo do cavaquismo. Mas, para voltar a crescer - explorando a decadência do cavaquismo -, foi importante a circunstância de não ter nenhum partido à sua direita. Ora, isso agora não acontece. Surgiram a Iniciativa Liberal (IL) e o Chega, cada um com um deputado eleito. Da IL os candidatos pouco falam. Mas o Chega é, para muitos, uma preocupação, porque - todas as sondagens o dizem - está em crescimento, podendo mesmo engolir o CDS. O partido de André Ventura representa mesmo uma linha de fratura entre os cinco candidatos: enquanto João Almeida e Filipe Lobo d'Ávila não admitem entendimentos, os outros sim. Recorde-se: o CDS rompeu nas autárquicas a aliança que tinha com o PSD em Loures quando soube que os sociais-democratas iriam apoiar André Ventura..Presidenciais: a outra linha de fratura.A relação com o Chega representa uma linha de fratura clara entre os candidatos mas não é a única. As próximas eleições presidenciais também o são. Para já, nenhum dos cinco candidatos diz que apoia Marcelo Rebelo de Sousa. Mas enquanto alguns defendem que esse pode ser um caminho, a decidir futuramente, nos órgãos do partido, caso Marcelo se recandidate, outros consideram que o CDS deve ter um candidato próprio, mesmo que o atual PR avance. É o caso de Carlos Meira. Sabendo-se que André Ventura será mesmo candidato, há quem receie dentro do CDS que o líder do Chega vença uma candidatura centrista. E uma coisa é esse risco ser corrido em eleições de partidos (as legislativas), o outro em eleições não partidárias (as presidenciais). Uma vitória de Ventura sobre o CDS nestas eleições tornaria muito mais difícil do que já é a recuperação do partido..O que vai fazer Assunção Cristas?.Assunção Cristas deixa essencialmente dois legados na política portuguesa: o seu partido de rastos e uma Lei do Arrendamento Urbano que descongelou as rendas e que, para os socialistas, é a principal causa do boom inflacionista no mercado habitacional. Nesta manhã, fará o seu discurso de despedida. Depois, renunciará ao mandato parlamentar (será substituída por João Gonçalves Pereira). Cristas já disse que tenciona manter o cargo de vereadora (sem pelouro) na Câmara Municipal de Lisboa. Regressará também à advocacia e à docência universitária. Foi eleita líder do CDS em março de 2016..E Manuel Monteiro, vai mesmo regressar?.Vai. Já há muito tempo que o ex-líder entregou a ficha de inscrição na concelhia do partido na Póvoa de Varzim - apesar de morar e trabalhar em Lisboa. A direção de Cristas decidiu avocar o processo e fazer um veto de gaveta, num processo estatutariamente muito controverso (as concelhias têm autonomia total para decidirem quem entra e quem sai). Agora, todos os candidatos dizem que não se opõem ao regresso do líder que - apoiado por Paulo Portas, com quem depois romperia - levou o CDS de cinco deputados (legislativas de 1991) para 15 (1995). Manuel Monteiro não disse quem apoia neste congresso - mas sabe-se que é Francisco Rodrigues dos Santos. Há já no partido quem esteja a vê-lo como candidato presidencial em 2021, disputando o campeonato da direita com André Ventura.