"Os homens prendem-se pela palavra, os burros pela cabeçada." No último sábado, dia 16, André Ventura - o advogado comentador da CMTV que desde as autárquicas de 2017 se foi constituindo como a nova coqueluche da extrema-direita nacional - garantiu aos membros do Conselho Nacional do PPM que é mesmo contra a pena de morte..Essa garantia terá sido um dos argumentos que levaram aquele órgão a protagonizar uma absoluta reviravolta no projeto do partido para as eleições europeias. Na quarta-feira da semana passada, dia 13, o Conselho Nacional tinha decidido recusar que André Ventura fosse cabeça-de-lista de uma coligação que o PPM faria com o Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC, antigo Partido Portugal Pró-Vida)..Mas o mesmo órgão voltou a reunir-se dias depois, no sábado passado, já com Ventura presente para esclarecer dúvidas dos conselheiros nacionais, e aí o PPM decidiu que o advogado/comentador da CMTV será o cabeça-de-lista da coligação. E esta irá chamar-se Chega, o nome do partido que Ventura estava a formar mas para o qual não conseguiu assinaturas suficientes. A coligação envolverá ainda outro partido em formação, o Democracia 21, liberal..Foi a tal garantia de Ventura de que é mesmo contra a pena de morte que leva agora o presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, a invocar o ditado segundo o qual "os homens se prendem pela palavra e os burros pela cabeçada". "O homem deu a sua palavra. Quem sou eu para a pôr em dúvida?" Câmara Pereira será o número dois da lista ao PE.."Choca-me que terroristas e pedófilos homicidas sejam executados? Eu digo honestamente: não me choca." Foi precisamente isto que André Ventura disse em agosto de 2017, falando na TVI 24. O advogado prepara-se agora para encabeçar uma lista de uma coligação em que um dos partidos, o PPM, sublinha, como sinal do "progressismo e modernidade" da ideia monárquica, o facto de ter sido precisamente num regime monárquico, em 1852, que Portugal se tornou o primeiro Estado soberano europeu a abolir a pena de morte (no caso para crimes políticos, depois a abolição foi sendo estendida a outros crimes)..Sob a liderança de Gonçalo Ribeiro Telles, entre 1974 e 1987, o PPM tornou-se na verdade o primeiro verdadeiro partido ecologista português. Integrou também, de 1979 a 1983, a coligação Aliança Democrática, com o PSD e o CDS, coligação que, escassos cinco anos depois do 25 de Abril, repôs o centro-direita no poder..Para João Távora, presidente da Real Associação de Lisboa - a maior estrutura regional da Causa Real, como mais de dois mil associados -, "com este caminho, o PPM tornou-se tóxico para a causa monárquica"..Dentro do partido também se contesta fortemente a aproximação entre o partido e Ventura. Uma vice-presidente da Comissão Política Nacional, Aline Hall de Beuvink, votou contra, na segunda reunião do Conselho Nacional (à primeira não foi) e fez um comunicado a explicar a sua oposição: "Não acredito que esta iniciativa valorize os ideais monárquicos preconizados pelos fundadores do partido nem que contribua para o desenvolvimento da participação de cidadãos na democracia portuguesa.".Ou seja: "O PPM tem um historial longo de participação ativa na sociedade portuguesa através de uma postura humanista materializada na defesa de temas como o ambiente e salvaguarda do património cultural, humanitário e histórico, valores estes que não se coadunam com os princípios manifestados publicamente pelo movimento Chega."