Mais de 40 mil professores responderam à consulta pública lançada pelos sindicatos da classe. Destes, mais de 97% não aceitam abdicar do tempo de serviço a que têm direito e propõem greve às avaliações a partir de 6 de junho, caso nada seja alterado ao diploma que o governo aprovou no início deste mês e que só aceita como tempo de serviço para progressão de carreira dois anos, nove meses e 18 dias..Os professores seguem assim o exemplo do ano passado, em que também fizeram greve às avaliações, tendo as notas sido lançadas mais tarde. No entanto, "os alunos não foram prejudicados", garante Mário Nogueira ao DN, dirigente da Fenprof..Por isso, reforça, "ninguém será prejudicado com esta greve, que, no fundo, só cria problemas no funcionamento das escolas, mas estes surgem por culpa do governo, que nos está a tirar anos de serviço que nos pertence"..Esta forma de luta foi anunciada por Mário Nogueira no discurso com que encerrou a manifestação nacional deste sábado, em Lisboa, e onde se estima que tenham participado mais de 80 mil docentes. Ao DN, o sindicalista sublinhou que "foi a forma de luta mais votada pelos professores", mas acredita que não terão de a decretar. "Tudo vai depender do que for decidido no dia 16 de abril na Assembleia da República", alertou..Os professores rejeitam a proposta do governo e contrapõem com os nove anos, quatros meses e dois dias que lhes é devido. PSD, BE e PCP já manifestaram estar de acordo que a contagem do tempo de serviço deve ser feita na totalidade..Mário Nogueira acredita que os deputados perceberam "o protesto dos professores e que não seja necessário avançar com medidas de luta", argumentou. Neste momento está tudo em aberto, à espera dos deputados e da apreciação que farão ao diploma no dia 16 de abril..A greve anunciada ainda não foi decretada, apenas se sabe que poderá começar a 6 de junho, "não sabemos quanto tempo possa levar, preocupámo-nos em definir formas de luta.".Catarina Martins, do BE, que se juntou à manifestação em Lisboa, explicou à Lusa que a apreciação parlamentar do decreto do governo "servirá para encontrar um modo de contar integralmente o tempo de serviço dos professores ainda que de forma faseada, como os próprios professores entendem, que tem de ser"..A deputada sublinhou que o Parlamento poderá forçar o governo a contar todo o tempo de serviço "se todos os partidos forem consequentes com o que votaram no Orçamento do Estado e se não recuarem perante aquilo que disseram, se não tiverem nenhuma hipocrisia"..O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que também esteve na rua ao lado dos docentes, defendeu que "é tempo de resolver este problema, um problema de fundo", e que a apreciação parlamentar do decreto do governo será o momento certo para "desbloquear uma situação inaceitável e insuportável"..A deputada do PEV, Heloísa Apolónia, também referiu que esta data será decisiva para "fazer justiça e corresponder à expectativa dos professores" e de outras carreiras especiais para a contabilização de todo o tempo de serviço para efeitos de progressão na carreira. "Não consideramos minimamente justo que haja dois regimes em Portugal. Um em que seja contado todo o tempo de serviço, na Madeira e nos Açores, e depois os professores do continente não tenham essa possibilidade", declarou..Ao PS, os professores enviam também um recado: "Exigimos coerência", disse Nogueira no seu discurso..O protesto deste sábado foi organizado pelas dez estruturas sindicais de docentes, que durante mais de um ano tentaram negociar, sem êxito, a recuperação do tempo de serviço com o governo de António Costa.