O clã Biden: do patriarca Joe ao bebé Beau
Aos 78 anos, o novo presidente norte-americano é um homem de família. Foi com ela que contou sempre: nos bons e nos maus momentos. No dia da tomada de posse, esteve rodeado dos filhos e dos netos - até do mais novo, de 10 meses. Vamos conhecê-los.

Joe Biden a dançar na Casa Branca com o bebé Beau, o neto mais novo, ao colo, ao som de Lovely Day, na voz de Demi Lovato. Esta foi uma das imagens mais ternurentas da tomada de posse do 46.º presidente dos EUA. Neste dia especial, o patriarca rodeou-se de toda a família, como sempre fez nos momentos felizes. E nos trágicos também, que foram muitos. O clã esteve em força em Washington, de tal forma que a senadora Amy Klobuchar, uma das organizadoras da cerimónia no Capitólio, não resistiu a brincar com o assunto, começando por saudar "o vice-presidente Mike Pence, o presidente eleito, a senhora vice-presidente, membros do Congresso e do ramo judicial, antigos presidentes e primeiras-damas, líderes estrangeiros e uma data de Bidens".
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Mas afinal quem é quem na "primeira-família" da América? A história começa numa fria manhã de inverno, em 1972, numa estrada do Delaware. Neilia Biden regressava a casa com a árvore de Natal que acabara de comprar quando o seu carro chocou contra um camião. A filha Naomi, de 13 meses, e a mãe não resistiram e os dois filhos mais velhos do casal, Beau de 4 anos e Hunter de 3, ficaram gravemente feridos.
Aos 30 anos, Biden acabava de ser eleito senador e ainda na véspera de o seu mundo desabar estivera ao lado da mulher a discutir o seu futuro trabalho em Washington enquanto Neilia escrevia postais de Natal. Tudo acabou com um telefonema no dia seguinte.
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Após a morte da mulher e da filha, Joe Biden perdeu qualquer interesse no Senado. "Pela primeira vez na vida percebi como alguém pode decidir em consciência cometer suicídio", confessaria anos mais tarde num encontro do Tragedy Assistance for Survivors. Decidido a passar mais tempo com os filhos, acabou por se deixar convencer a experimentar o cargo durante seis meses. Foi na capela do hospital onde Beau ainda estava internado que Biden prestou juramento, com o filho mais velho a ser levado na cama até ao local e Hunter, que já tivera alta, a juntar-se a ele para assistir à cerimónia.

Em janeiro de 1973, Biden tomou posse como senador na capela do hospital onde o filho Beau ainda estava internado
© Getty Images
De volta a Washington, começava uma longa tradição: todas as tardes o senador Biden apanhava o comboio de volta ao Delaware a tempo de dar um beijo de boas noites aos filhos, que foram criados em parte pela tia Valerie, irmã de Joe.
Assim se passaram três anos, até que Joe conheceu Jill Jacobs. "Ela devolveu-me a vida. Fez-me começar a pensar que a minha família estava inteira outra vez", escreveu Joe nas suas memórias Promises to Keep. Mas não foi fácil convencer a estudante universitária a casar-se. Foram precisos cinco pedidos de casamento e um ultimato para Jill dizer o tão ansiado "sim".
"Ela devolveu-me a vida. Fez-me começar a pensar que a minha família estava inteira outra vez."
Anos mais tarde, numa entrevista à Vogue, Jill recordou o seu primeiro encontro. "Eu era finalista, namorava rapazes de calças de ganga e T-shirt. Ele bateu à porta com o seu casaco desportivo e os seus mocassins e eu pensei: "Meu Deus, isto nunca vai funcionar." Ele tinha mais nove anos do que eu! Mas acertámos mesmo... No final, subi as escadas, liguei à minha mãe à uma da manhã e disse: "Mãe, finalmente conheci um cavalheiro.""
Mas se ficou rendida ao charme do senador, Jill demorou a aceitar tornar-se a segunda Sra. Biden, apesar de desde o primeiro momento ter começado a tomar conta de Beau e Hunter. "Ia buscá-los à escola quando o Joe trabalhava até tarde. Passávamos o serão a ver televisão. Começámos a construir a nossa relação independente do pai deles", explicou Jill.
Recém-divorciada (casara-se aos 19 anos), começar outra relação, com um viúvo pai de dois filhos ,parecia-lhe um desafio para o qual ainda não estava preparada. Por isso foi repetindo "ainda não, ainda não" a cada pedido de Joe. "Senti que este casamento tinha mesmo de resultar. Porque aqueles miúdos já tinham perdido a mãe, não podiam perder outra figura materna."
"Senti que este casamento tinha mesmo de resultar. Porque aqueles miúdos já tinham perdido a mãe, não podiam perder outra figura materna."
À quinta foi de vez, confrontada com o ultimato de Joe - se não lhe desse resposta positiva, não voltaria a perguntar -, Jill aceitou casar-se. A cerimónia aconteceu em 1977, a lua-de-mel foi a quatro e em 1981 nascia Ashley, a única filha em comum. Pelo meio, Jill terminou o mestrado em Ciências da Educação e em 1988 Joe fez a primeira tentativa de chegar à Casa Branca. Avessa à ribalta, a mulher não deixou de estar ao seu lado, tal como o resto da família na campanha, mas o senador acabou por desistir, suspeito de ter plagiado um discurso.
Mas a tragédia voltaria a bater à porta dos Biden. Pouco meses depois, Joe sofria um aneurisma e quando estava a ser operado teve uma embolia pulmonar. Recuperou, mas alguns meses depois voltou a sofrer outro aneurisma. Tempos difíceis que obrigaram Jill a desenvolver o seu estoicismo. "Recusei-me a mostrar fraqueza. Estava sempre a manter o controlo. Os miúdos nunca me viram chorar enquanto Joe esteve numa cama no hospital." Pelo meio, ia dando aulas - um trabalho que recusa deixar, mesmo agora que se tornou primeira-dama - e completou o doutoramento, assumindo no nome um "Dra." que até hoje mantém até na sua conta de Twitter.
A morte volta a atacar
Depois da rebeldia normal da adolescência - Ashley foi detida em Chicago por agredir e tentar intimidar um polícia, Hunter reconheceria mais tarde os problemas com as drogas -, os filhos dos Biden tornaram-se adultos e começaram a constituir as suas próprias famílias.
Em 2008, Barack Obama escolhia Joe para seu vice-presidente e os dois rivais das primárias encetaram uma boa relação de trabalho, além de uma forte amizade. Mas a morte voltaria a bater à porta dos Biden. Beau, um militar de carreira que recebeu uma Estrela de Bronze por bravura em combate tornado procurador-geral do Delaware, anunciou a intenção de se candidatar a governador do estado nas eleições de 2016. Mas um cancro no cérebro matou-o em março de 2015. Tinha 46 anos e deixava mulher e dois filhos.
Mas não foram só as suas ambições políticas que a morte de Beau interrompeu: apesar dos apelos do filho antes de morrer, Joe decidiu não avançar como candidato às presidenciais de 2016.
Mas, quatro anos depois, avançou mesmo contra Donald Trump, derrotando o republicano e tornando-se presidente. Para tal contou, mais uma vez com a família e com a "data de Bidens" de que falava Klobuchar. Beau, claro, não ficou esquecido. Já em janeiro, numa entrevista ao programa Morning Joe da MSNBC, o então presidente eleito lembrou que era o filho que se devia ter candidatado e garantiu: "Todos os dias acordo e penso: será que ele está orgulhoso de mim?"
O resto do clã teve participação ativa na campanha. Hunter até de forma involuntária. Aos 50 anos, os seus negócios com a Ucrânia estiveram na origem do primeiro impeachment de Trump, acusado de pressionar Kiev para investigá-lo e tornaram-se uma ameaça às ambições de Joe. Já Ashley, de 39 anos, veio dizer que não vai ter qualquer papel na administração do pai.
Mas foram os netos os grandes impulsionadores do avô nas redes sociais. A começar pelas filhas mais velhas de Hunter: Naomi, de 27 anos, uma advogada que herdou o nome da tia, Finnegan (nome da mãe de Joe), de 24, estudante de Direito tal como a irmã mais nova, Maisy, de 22. As três destacaram-se no dia da posse ao lado dos primos Natalie, de 16, e Robert Hunter, de 14, filhos do falecido Beau. Todos surgiram juntos num vídeo exibido na Convenção Democrata em que prestavam o juramento de fidelidade ao candidato/avô.
Mas a estrela da companhia foi Beau, o filho mais novo de Hunter que tem o mesmo nome do tio e que do alto dos seus 10 meses e meio não só acompanhou toda a cerimónia de posse como ainda acabou a noite a dançar com o avô na Casa Branca.

Joe Biden a dançar na Casa Branca com o neto mais novo, Beau (como o tio falecido) na noite da tomada de posse
© CHIP SOMODEVILLA /Getty Images via AFP
QUEM É QUEM nos filhos e netos

Hunter Biden
© AFP
Aos 50 anos, o filho mais velho de Biden ainda vivo é advogado e lobista. Quando era mais jovem teve problemas com drogas e a sua vida sentimental também tem sido notícia. Separado da primeira mulher e mãe dos três filhos mais velhos, em 2017 iniciou uma relação com a viúva do irmão. Não durou. Em 2019 separaram-se e Hunter conheceu a sul-africana Cohen. Os seus negócios com a China e a Ucrânia geraram controvérsia. E Trump foi alvo de impeachment da primeira vez por suspeita de ter pressionado Kiev a investigá-lo.

Ashley Biden
© AFP
Nascida em 1981, a única filha de Joe Biden com Jill é assistente social, designer de moda e ativista. Casada com o cirurgião plástico Howard Krein desde 2012, não tem filhos. Em 2002 foi detida em Chicago após agredir e tentar intimidar um polícia. Também teve problemas com drogas.

Naomi Biden
Aos 27 anos, a filha mais velha de Hunter com a primeira mulher, Kathleen, vai agora entrar para o seu primeiro escritório de advogados. O seu nome é uma homenagem à tia, a filha de Joe Biden que morreu bebé com a primeira mulher dele. Muito ativa na campanha, não hesita em defender o avô, alto e bom som.
Finnegan Biden

Finnegan com o avô em campanha
Tal como a irmã Maisy, estudou na Universidade da Pensilvânia. Aos 22 anos esteve muito ativa na campanha do avô. De bege na foto, tem o nome da mãe do presidente.

Maisy com o avô em campanha
A mais nova das filhas de Hunter - tem 20 anos - estuda Direito na Universidade da Pensilvânia. Grande amiga de Sasha Obama, com a qual cresceu em Washington, é muito ativa no TikTok.

Natalie (de rosa) na posse do avô
Aos 16 anos, a filha do falecido Beau chamou as atenções com o casaco rosa que usou na posse de Biden. Em outubro, fez um vídeo com a prima Naomi e Kaia Gerber, a filha de Cindy Crawford, no qual discutiam o voto dos jovens. Tem 1,5 milhões de seguidores do TikTok.

Robert Hunter Biden no dia da posse do avô
Mais discreto do que as primas e a irmã, aos 14 anos o filho de Beau não deixou mesmo assim de aparecer em vários vídeos de campanha. E agora, na posse do avô.

Beau Biden ao colo do pai, Hunter, na noite da vitória do avô Joe
© Jim WATSON / AFP
Em março de 2020, Hunter Biden e a sua segunda mulher, Melissa Cohen (de vermelho), davam as boas-vindas ao seu primeiro filho em comum. O bebé recebeu o nome do tio falecido em 2015: Beau. Joe Biden dançou com o neto mais novo ao colo no dia da posse.
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