Santa Casa toma medidas: boletins roubados do Placard vão ser bloqueados

A Santa Casa da Misericórdia avança nesta segunda-feira com uma medida de exceção para travar os furtos de boletins do jogo Placard. Em janeiro os casos duplicaram. Agora, o sistema irá assinalar esses talões e eventuais prémios ficam bloqueados. O objetivo é dissuadir um fenómeno criminoso que tem crescido.

O aumento dos casos de furto e roubo de boletins do jogo Placard levou a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) a tomar medidas urgentes e de exceção. Segundo apurou o DN, o mês de janeiro revelou uma subida para, praticamente, o dobro do número de casos em que indivíduos registam apostas no Placard e depois fogem com os talões sem pagar, muitas vezes recorrendo à violência. Agora, e com a entrada em vigor a partir desta segunda-feira, a medida de segurança irá permitir identificar os boletins furtados e roubados, que ficarão assinalados no sistema da SCML, e assim passa a ser detetado quando alguém tenta levantar o prémio. Este, apesar de não ser anulado, fica bloqueado e, nesse momento, a pessoa pode ser identificada e ser alvo de procedimento judicial.

Esta medida surge após o crescente número de crimes de furto e roubo associados ao registo de boletins do Placard mas também da Raspadinha, embora o caso das apostas desportivas seja o que preocupa mais devido à elevada incidência. O que acontece é que o registo desses boletins não é anulado pela SCML e o prémio pode ser levantado. Os agentes ficam com o prejuízo no que toca ao valor das apostas feitas e o Departamento de Jogos da SCML, em resposta a questões do DN, confirmou que "o número de casos subiu de forma muito significativa no mês de janeiro", com cada vez mais situações a serem comunicadas pelos mediadores. A SCML não revelou os números dos furtos e roubos ocorridos, apenas assume que é um fenómeno em crescimento rápido.

De forma oficial, a SCML diz que "na sequência de notícias recentes sobre roubos de talões de apostas registadas no Placard, o Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa decidiu aplicar uma medida de exceção no sentido de dissuadir este tipo de furtos tendo em conta a proteção dos apostadores e mediadores. Com a nova medida, que entrará em vigor nesta segunda-feira, 24 de fevereiro, todos os eventuais prémios de talões furtados serão bloqueados".

Com esta medida, aponta a SCML, há um reforço da segurança, "permitindo, através deste procedimento, uma maior colaboração com as entidades policiais" para a identificação dos autores dos ilícitos e para o ressarcimento dos prejuízos dos agentes.

O registo de apostas do Placard exige um NIF (número de identificação fiscal) mas o levantamento de prémios - que pode ser feito por qualquer pessoa na posse do boletim premiado - não obriga a tal. Isto levou a que os crimes aconteçam em grande número e "um pouco por todo o país", com registos de várias queixas na PSP e na GNR por parte de agentes autorizados da SCML. Com o talão bloqueado, o agente não irá pagar o prémio e serão alertadas as autoridades policiais.

Apostas de milhares de euros

A ação da SCML pretende dar uma resposta a este fenómeno, perante o grande número de crimes cometidos desde 2019. Em novembro do ano passado, quatro jovens foram detidos pela PSP, através da Divisão de Investigação criminal, depois de terem existido várias denúncias de roubos e furtos de boletins de apostas do Placard em agentes da SCML. Os quatro indivíduos, com idades entre os 20 e os 23 anos, tinham ainda na sua posse boletins no valor de 1525 euros.

A PSP explicou na altura que "os suspeitos dirigiam-se aos estabelecimentos onde, sem intenção de efetuar o pagamento, solicitavam várias apostas no jogo Placard". Após o registo das apostas, "de forma ágil, inusitada e por vezes violenta, retiravam os boletins da mão dos lesados ou diretamente das caixas de registo, encetando de imediato a fuga". Este é o método mais usual mas há casos em que são usadas armas de fogo para consumar o roubo.

Antes, sete homens foram detidos pelo mesmo motivo. Em julho passado, o DIAP de Sintra acusou-os e considerou estar "suficientemente indiciado que, entre agosto de 2018 e janeiro de 2019, os arguidos planearam e concretizaram a subtração de talões de registo de apostas Placard". Quando pretendiam receber os prémios, "indicavam uma conta bancária de terceiro para onde o dinheiro seria transferido, repartindo depois entre todos o valor recebido". Faziam sempre apostas em cada boletim a valer 800 euros.

Já neste ano, os casos sucederam-se, o que levou a esta medida de exceção. Na semana passada, três jovens tentaram praticar o golpe numa papelaria de Monte Abraão, Sintra. Registaram um boletim de 600 euros mas a funcionária apercebeu-se de que se preparavam para fugir com o boletim e impediu o crime. Foi agredida fisicamente e ameaçada com uma arma de fogo, mas o trio acabou por sair sem o comprovativo das apostas.

Neste mês aconteceu outro caso em Sacavém. Dois homens fizeram registo de boletins no valor de 400 euros, o que levantou suspeitas à proprietária da papelaria. Acabou por ser agredida com a dupla a conseguir fugir com os boletins.

São apenas exemplos de crimes relacionados com o Placard. Na Raspadinha, há também furtos mas nada comparável ao que se passa com as apostas desportivas.

O Placard deu lucros de 457 milhões de euros em 2018, segundo a SCML, sendo o terceiro jogo em que os portugueses mais investem a seguir à Rapadinha e ao Euromilhões.

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