"Estou a tentar ser diferente." Rui Rio dirigiu-se assim aos portugueses, em carta. E o que tem isto que ver com o Twitter? Pouco na forma, muito na maneira como o líder do PSD entende que é possível comunicar por camadas com o eleitorado. Na sua conta oficial daquela rede social, partilhou na sexta-feira a missiva aos "concidadãos", pelo menos aos pouco mais de 3500 que o seguem. Depois, foram jornalistas lhe deram expressão. Será esse o objetivo do investimento de Rio num meio que tem pouca adesão em Portugal, a não ser das chamadas "elites"?."Não fazia sentido investir no Facebook, que até pode ter mais likes e partilhas, mas onde tudo é despejado. No Twitter a mensagem é mais personalizada e atinge um universo grande de comentadores e jornalistas", justifica, precisamente, fonte próxima do presidente social-democrata..Rio arrancou com a página oficial a 1 de dezembro de 2018, no Dia da Restauração, como assinalou, e de lá para cá tem-na usado para críticas contundentes ao governo de António Costa. Mas não só. A comunicação social e a atual procuradora-geral da República também já foram visadas nas suas curtas mensagens.."É uma via para dizer exatamente o que pensa e dar a opinião, sem descontextualizações", afirma a mesma fonte, que admite que a ideia é que seja a comunicação social a "ampliar" a mensagem. E assim tem sido..Os tuítes mais polémicos - como o do ataque à PGR, Lucília Gago, quando se manifestou contra a alteração da composição do Conselho Superior da Magistratura, e que considerou "uma pressão inaceitável" sobre o poder político, em dezembro - mereceram notícia em vários meios de comunicação..O tom das críticas ao governo, como quando se insurgiu contra um novo aumento de impostos, parece ser mais contundente do que quando fala em público ou nas poucas entrevistas que tem dado. "No Twitter é eficaz, as pessoas percebem como ele é, a sua linguagem direta e objetiva", garante a mesma fonte, que diz que a aposta na rede social para comunicar politicamente "está a ser bem-sucedida"..Rui Rio revela no Twitter mordacidade quando ataca o executivo liderado por António Costa. Há poucos dias, em resposta a um vídeo do PS, que resolveu falar do aumento das reformas desde janeiro de 2016 com "a história de um avô do André ", escreveu assim: "O André esqueceu-se de dizer ao avô que a reforma dele foi cortada porque o PS arruinou a economia nacional e teve de negociar cortes com a troika; e que hoje, se o vovô precisar de uma consulta médica, vai ter de esperar um ano. Os avós têm de saber explicar isso aos netinhos.".Muito longe de Trump....O professor universitário e jornalista António Granado não tem dúvidas de que os políticos escolhem o Twitter "pela lógica da desintermediação", ou seja, com a ideia de não precisarem dos jornalistas para comunicar. "Mas é uma rede muito pouco utilizada em Portugal, não sei se será assim tão transversal", diz Granado, mas admite que "é eficaz a atingir os líderes de opinião e os jornalistas", que apanham as mensagens e as retransmitem. "Aqui, ao contrário dos Estados Unidos, onde um tuíte de Donald Trump tem milhões de visualizações, sem a ajuda dos jornalistas a comunicação dos políticos, como Rui Rio, atingiria muito pouca gente.".António Granado afirma que "no Twitter há a capacidade de os políticos reagirem rapidamente aos acontecimentos, sem estarem presos aos jornalistas, estejam onde estiverem". Com a vantagem, sublinha, de não serem sujeitos a perguntas.."Esse é o grande sonho dos políticos, não precisarem de jornalistas", garante o comentador político Pedro Marques Lopes. Se o Twitter resulta? "Tenho muitas dúvidas", diz e insiste na ideia de que no nosso país consomem e interagem nesta rede social maioritariamente jornalistas, comentadores e algumas elites, mas nunca a grande massa de eleitorado..Pedro Marques Lopes considera que Rui Rio não sai beneficiado do estilo de comunicação no Twitter porque, diz, "a mensagem dele é mais elaborada" do que o estilo habitual dos políticos de casos, que se "expressam melhor naquela rede social". E dá exemplos do que tem defendido sobre a reforma da Justiça ou do sistema eleitoral. "Não é fazível no Twitter", afirma.