Portugal tem, há décadas, graves assimetrias de desenvolvimento económico e social entre as zonas do litoral e do interior. Este é, sem dúvida, um dos maiores problemas que a sociedade portuguesa enfrenta atualmente e que parece incapaz de combater..Tal fenómeno traduz-se numa enorme desigualdade entre as diferentes regiões do país e numa desertificação populacional do interior em contraste com a simultânea sobrelotação das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Os efeitos destas desigualdades são claros não só a nível social, como também económico e ambiental..Os números são gritantes: 70% dos portugueses vivem nos primeiros 50 quilómetros de território nacional contabilizados a partir do oceano, com as áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa a agrupar 45% da população. Os jovens são, clara e prejudicialmente, líderes nesta matéria: 82% dos portugueses com menos de 25 anos vivem no litoral. Nessas áreas mais desenvolvidas, a densidade populacional média ronda os 350 habitantes por quilómetro quadrado..Mas basta entrar numa área ligeiramente mais interior para constatar o que os números revelam: depois de 1960, o interior perdeu um milhão de habitantes, ou seja, 37,5% do total. A densidade populacional revela o drama da desertificação: 0,28 habitantes por quilómetro quadrado..Sem dúvida que é central a falta de empregabilidade e a incapacidade de atração para a permanência nas zonas rurais, o que leva, inevitavelmente, à migração dos jovens, não só para os centros urbanos como para o estrangeiro. Estas migrações perpetuam a transformação do interior numa zona cada vez mais débil e abandonada..Contudo, não é apenas o interior que sofre as consequências destas profundas assimetrias. O excessivo afluxo populacional nas grandes cidades, especialmente em Lisboa, que se continua a verificar, vem acompanhado de uma contínua deterioração da qualidade de vida dos que aí querem residir, seja pela inexistência de infraestruturas capazes de dar resposta às exigências, seja pelo drástico aumento do custo de vida (com o exemplo gritante do preço das rendas)..O desenvolvimento de Portugal tem, obrigatoriamente, de passar pela redução destas assimetrias e pela aposta em investimento estratégico, a médio e longo prazo, no interior. Seja ao nível da introdução de um fator de coesão territorial nas opções políticas, seja pela desconcentração de serviços do Estado, serão certamente várias as propostas que merecem ser debatidas pela sociedade portuguesa..Presidente da JSD