Uma mensagem no Twitter de Justin Trudeau a revelar cumplicidade com Nancy Pelosi, a líder da Câmara dos Representantes que quer ver Donald Trump preso, e a defesa dos jornalistas e da liberdade de imprensa por parte da ministra dos Negócios Estrangeiros que mais parece uma resposta ao homem que vive na Casa Branca não são os melhores sinais para um Canadá a precisar de restabelecer as relações com o vizinho e a depender de um homem temperamental.."Ei, Pelosi, lamento que a nossa aposta não tenha resultado para si, mas estou à espera das iguarias da Califórnia que me deve. Já agora, eu gosto de chocolate preto", escreveu Trudeau em tom cúmplice e bem-humorado..Já a MNE canadiana, Chrystia Freeland, em conferência de imprensa com a alta-comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que rotular os jornalistas de "inimigos do povo" é perigoso. Esta é uma expressão usada por Donald Trump, pelo que soou a uma resposta ao norte-americano..Na véspera da viagem a Washington, o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau confirmou que o seu encontro de hoje com o presidente Donald Trump vai estar centrado no acordo comercial Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), bem como sobre a ameaça chinesa à economia de ambos os países da América do Norte. "Vamos ter uma cimeira do G20 e esta é uma oportunidade para falar da China, das trocas comerciais e de todos os temas globais que vão ser discutidos na próxima semana, mas também vamos ter uma longa conversa sobre o processo da ratificação do novo NAFTA [o acordo de comércio a substituir]. Vamos certificar-nos de que estamos em sintonia", disse aos jornalistas.."Vamos falar sobre os desafios causados pela China no sistema de comércio mundial e nos nossos países e economias e vamos ver se conseguimos trabalhar juntos para nos ajudarmos mutuamente e prosseguirmos na direção certa", completou..Momento sensível.Mas esta reunião na Casa Branca acontece num momento de especial sensibilidade para o canadiano. Justin Trudeau, de 47 anos, está a quatro meses das eleições e as sondagens não o favorecem. Sete em cada dez eleitores dizem que é altura de mudar de chefe de governo, segundo um estudo de opinião da Ipsos, divulgado no dia 14. Ainda assim, traduzido esse descontentamento em votos, o líder conservador Andrew Scheer receberia 37% e o liberal Trudeau 31%..Na antevéspera, Trudeau anunciou uma medida extremamente polarizadora: a construção da expansão do gasoduto Trans Mountain. Um projeto que terá de ultrapassar as barreiras legais e que, se aprovada, permite transportar 890 mil barris por dia de Alberta para a costa do Pacífico, diversificando as exportações para além dos Estados Unidos. A indústria petrolífera há muito que clamava por esta decisão, mas do outro lado os grupos ambientalistas e indígenas mostram-se contra a extração do petróleo na areia betuminosa.."Não se trata de uma proposta de isto ou daquilo. É do interesse nacional do Canadá proteger o nosso meio ambiente e investir no futuro, garantindo que as pessoas possam alimentar as suas famílias hoje", disse Trudeau. O governo liberal já tinha previamente aprovado a expansão em 2016, mas a decisão foi anulada no ano passado quando um tribunal decidiu que o governo não tinha consultado de forma adequada os grupos indígenas..O escândalo SNC-Lavalin, sob a alegada pressão que terá feito à procuradora-geral, no ano passado, para que os responsáveis daquela empresa do Quebeque não fossem a julgamento por corrupção, rebentou em fevereiro e deixou mossas, quer em Trudeau quer no Partido Liberal..O homem que conseguiu vencer as eleições federais com os maiores ganhos de sempre (de 34 deputados para 184), em 2015, corre o sério risco de se tornar o primeiro chefe de governo a perder o poder após um mandato em mais de 80 anos, no escrutínio marcado para outubro..A relação com Trump.Os canadianos avaliam negativamente a presidência de Donald Trump em relação ao seu país. 65% dizem que o norte-americano tem sido mau ou muito mau para o Canadá e só 17% creem que tem sido bom, revela uma sondagem da Research Co. Apesar das sondagens negativas, os canadianos confiam mais em Trudeau (35%) do que no seu adversário, Scheer (17%), para negociar com o empresário nova-iorquino..Tendo em conta que a relação com os Estados Unidos é considerado um dos temas mais importante para os canadianos, um encontro com o imprevisível Trump é sempre um risco acrescido. No ano passado, a reunião do G7, no Quebeque, ficou marcada pelos comentários posteriores de Trump a Trudeau: "Muito desonesto e fraco." O canadiano tinha incomodado o norte-americano ao responder a uma pergunta sobre as tarifas que Washington tinha aplicado ao aço e ao alumínio do Canadá. "Os canadianos são educados e razoáveis, mas também não nos deixamos levar." "O risco para Trudeau é que nunca se sabe o que Trump fará. Ou Trudeau pode ser visto como não sendo suficientemente duro com Trump. A coisa mais difícil para Trudeau será passar pelas gotas da chuva e encontrar o equilíbrio certo", diz Darrell Bricker, da empresa de sondagens Ipsos, à Reuters..Apanhado na guerra EUA-China.Trudeau vai procurar o apoio de Trump para a libertação do ex-diplomata Michael Kovrig e do empresário Michael Spavor, dois cidadãos canadianos detidos pela China e acusados de espionagem. Os dois foram presos em dezembro, dias depois de as autoridades canadianas terem detido, a pedido dos EUA, Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, a maior fabricante de equipamento de rede de telecomunicações do mundo..Sobre este tema parece haver consenso que Otava foi apanhada no meio da guerra comercial entre EUA e China. O primeiro-ministro canadiano tentou falar em janeiro com o homólogo chinês, Li Keqiang, mas Pequim rejeitou.."O presidente [Trump] colocou o Canadá num lugar terrível", disse o ex-embaixador dos EUA no Canadá, Bruce Heyman, à CBC. "A sua política de misturar a política judicial e a política comercial é totalmente invulgar e infeliz." O diplomata sugere que o líder canadiano deve exigir um esclarecimento a Trump sobre a natureza do pedido de extradição de Meng, ou seja, se é meramente uma questão legal ou se faz parte "de uma tática de negociação comercial" de Washington contra Pequim e que tem como efeito colateral pôr "o Canadá num lugar difícil".