"Eu estou, como sempre estive, ao lado do meu partido, não o abandono, não fujo. Estou disponível para aquilo que os militantes do meu partido entenderem que eu posso ser mais útil." Foi assim que Francisco Rodrigues dos Santos falou aos jornalistas à entrada da reunião do órgão máximo entre congressos, que marcou a disputa pela sucessão de Assunção Cristas para 25 de janeiro..Na reunião, segundo alguns conselheiros nacionais centristas, o líder da Juventude Popular não foi tão claro na intenção de avançar numa corrida que tem como candidatos assumidos Abel Matos Santos, líder da Tendência Esperança e Movimento (TEM), que representa a ala mais conservadora do partido, e Carlos Meira, ex-presidente da concelhia de Viana do Castelo do CDS-PP, que anunciou a intenção à agência Lusa, na sexta-feira, no dia seguinte à reunião do Conselho Nacional..Mas o DN sabe que Rodrigues dos Santos, conhecido como Chicão, está mesmo a preparar a candidatura. Fonte que lhe é próxima garante que quer "protagonizar uma candidatura de renovação e reposicionamento, mas que tenha a adesão dos militantes do partido". E sublinha que o líder da JP, de 31 anos, "tem recebido nos últimos dias muitos apoios"..Num momento em que o CDS continua a ferro e fogo, depois do desaire eleitoral que o confinou a cinco deputados (de 18 que tinha), o líder da JP estará a sondar o partido sobre a real possibilidade de correr contra uma linha de maior continuidade da atual direção, como seria a candidatura de João Almeida ou mesmo de Telmo Correia. Um fator relevante da decisão é perceber se ainda há (ou não) espaço para a sua candidatura, pois há outras duas já alinhadas na ala mais à direita do partido: a de Abel Matos Santos e a de Filipe Lobo d'Ávila..No Conselho Nacional, segundo as fontes do DN, Francisco Rodrigues dos Santos falou na necessidade de o CDS se "renovar", "reestruturar" e "reposicionar" ideologicamente: "O ideal do partido é voltar a ser a grande casa da direita, congregando diferentes correntes, como a democrata-cristã e as correntes mais liberais." E será a partir deste reposicionamento à direita que o CDS deverá partir para a reconquista do centro-direita, no seu entender..Um dos que criticaram a direção fortemente na reunião do CN, além de Francisco Rodrigues dos Santos, foi Abel Matos Fernandes, que se insurgiu contra o facto de na noite eleitoral alguns membros da direção não terem subido ao palanque para assumir as responsabilidades pelos 4,22% de votos nas urnas..Outro dos potenciais candidatos à liderança é Filipe Lobo d'Ávila, crítico da direção de Cristas e que manteve que primeiro vai ouvir o partido e só depois tomará uma decisão sobre se avança ou não com uma candidatura à liderança. E defendeu que é preciso "refundar o partido"..No Facebook, o antigo líder centrista José Ribeiro e Castro e também crítico da atual direção do partido criticou a "refundação" sugerida pelo "amigo Lobo d'Ávila". "Há muito que embirro com a palavra "refundação". De muitas refundações que já ouvi, nunca vi uma que resultasse. Quanto mais se refunda, mais se afunda. Gosto mais da palavra "recomeço": recomeçar pianinho, pianinho, os pés bem assentes na terra, com humildade e propósito. É o comum nas más situações da vida de qualquer um: quem cai, levanta-se. E, bem analisada e compreendida a queda, faz-se outra vez ao caminho.".Pedro Borges de Lemos, advogado e membro da concelhia do CDS de Lisboa - que encabeça uma corrente informal de opinião dentro do partido e que não esteve no CN -, manifesta-se ao DN contra a "febre" da sucessão à liderança. "O mais importante para o partido deveria ser as bases avançarem com um nome em vez de ser o contrário. Tem de haver um grito de revolta das bases." O mesmo dirigente desafia mesmo a Comissão Política Nacional do CDS a demitir-se em bloco. "Os erros que Assunção Cristas cometeu foram respaldados pela sua direção.".Pedro Borges de Lemos frisa que perante os resultados eleitorais do CDS é preciso refletir sobre a "gravidade" da situação do partido. "O espaço político clássico do CDS poderá ter sido ocupado por dois novos partidos emergentes, o Chega e a Iniciativa Liberal, e a margem de manobra é muito limitada." Entende ainda que é preciso cortar com alinha que vem de Paulo Portas, caso contrário "o partido continuará a autodestruir-se". "Insistirmos numa linha estafada é suicida.".Cristas deixa o Parlamento.João Almeida, que representa essa linha de continuidade e que terá o apoio de figuras como Pedro Mota Soares e Diogo Feio, ainda não abriu o jogo se vai mesmo avançar. Mas das potenciais candidaturas é o único eleito para o Parlamento. E no Facebook tem dado sinais nesse sentido: "O novo governo podia ter sido notícia pela qualidade dos seus membros. Só que não. Foi notícia pela quantidade de ministros. Seja como for, do CDS contarão com a apresentação de alternativas de direita a este socialismo cansado e gasto.".No Conselho Nacional, Cristas anunciou que só será deputada até ao congresso da sucessão (25 e 26 de janeiro). Deixará a Assembleia da República mas manter-se-á como vereadora (sem pelouro) em Lisboa.