Na véspera do primeiro debate entre primeiro-ministro e líder da oposição, as sondagens pintam o Reino Unido com as cores do Partido Conservador. A mais recente, da Survation, atribui 42% ao partido do primeiro-ministro Boris Johnson, 28% aos trabalhistas de Jeremy Corbyn e 13% aos liberais-democratas de Jo Swinson..Mas conta quem anda na estrada que os eleitores britânicos sentem desencanto e muitas dúvidas sobre como vão votar no dia 12 de dezembro. "Os eleitores estão profundamente insatisfeitos com a escolha que lhes está a ser pedido que façam. Não gostam muito de nenhum dos principais partidos, nem de Boris Johnson ou Jeremy Corbyn. Na verdade, eu iria mais longe - eu diria que neste momento há total incredulidade de que estão a ser solicitados para escolher entre os dois homens, sobre os quais muitos eleitores têm profundas dúvidas", escreveu o jornalista da Sky News Lewis Goodall, após ter percorrido o país durante duas semanas..O primeiro-ministro, que chegou ao cargo após a antecessora, Theresa May, se ter demitido após o seu acordo do Brexit com a UE ter sido consecutivamente derrotada pelo Parlamento, não conseguiu melhor e falhou a promessa de retirar o Reino Unido do bloco europeu antes de 31 de outubro. Forçado a pedir novo adiamento e a convocar eleições, Boris Johnson promete acabar com a incerteza e em cumprir o Brexit, assim obtenha uma maioria parlamentar..O líder da oposição, Jeremy Corbyn, manteve desde o início da crise um discurso ambíguo: contra os acordos de May e de Johnson, mas o mais vago possível sobre a posição do partido, o que levou à saída de vários deputados pró-europeus, e por outro lado aos liberais-democratas a capitalizar com uma mensagem pela permanência na UE. No congresso de setembro, o partido comprometeu-se a negociar um novo acordo com Bruxelas e a levá-lo a referendo, com a opção pela permanência..O programa dos trabalhistas vai ser revelado na quinta-feira, na véspera de um programa na BBC, Question Time, com a presença de Corbyn, Johnson, Swinson e a líder dos nacionalistas escoceses, Nicola Sturgeon..Boris troca corte nos impostos das empresas pelo SNS.Os líderes dos três partidos nacionais com mais representatividade foram discursar à conferência anual da confederação patronal britânica, CBI. Boris Johnson surpreendeu ao anunciar que se formar governo já não vai proceder ao corte na taxa do IRC e que, em alternativa, iria investir em serviços como a saúde pública. O Sistema Nacional de Saúde é um tema em que os conservadores têm sido alvo de críticas.."Estamos a adiar mais cortes no imposto sobre as empresas. Isso economiza 6 mil milhões de libras que podemos desviar para as prioridades do povo britânico, incluindo o Serviço Nacional de Saúde", disse. Segundo os planos do governo, Londres iria reduzir a taxa de imposto sobre as pessoas coletivas para 17% em 2020. A taxa é atualmente de 19%..A medida apregoada por Johnson foi vista com prudência por parte do CBI. "Adiar cortes no imposto sobre as empresas para investir em serviços públicos pode funcionar para o país se for apoiado por mais esforços para os custos de fazer negócios e promover o crescimento", disse a diretora-geral Carolyn Fairbairn, em comunicado..Boris Johnson promete também uma "revolução nas infraestruturas" - uma inversão de anos e anos de cortes nas despesas e no investimento públicos..Johnson disse que, embora as grandes empresas tenham deixado claro que não eram a favor do Brexit no referendo de 2016, agora também mostraram que queriam o fim da incerteza. "O Reino Unido ficou num impasse e a nossa economia ficou na primeira velocidade. Extensão após extensão. A empurrar os negócios até ao topo da colina para de seguida levá-los para baixo."."Com um governo de maioria conservadora podem ter a certeza de que vamos concluir o Brexit e sair com o novo acordo que já está acordado, acabando com a incerteza e a confusão que paralisaram a nossa economia", concluiu Johnson..O Partido Conservador fez várias promessas às empresas antes das eleições, incluindo a redução dos impostos sobre as propriedades das empresas, do emprego, além de um alívio da carga fiscal sobre a construção, a investigação e o desenvolvimento..Noutro tema relacionado com o Brexit, os conservadores anunciaram que vão passar a tratar os migrantes da UE e de países terceiros da mesma forma a partir de janeiro de 2021, incluindo um período de cinco anos até poder obter prestações sociais e uma sobretaxa para aceder aos serviços de saúde."Ao sairmos da UE, temos uma nova oportunidade de justiça e de garantir que todos os que vêm são tratados da mesma forma. Nós faremos o nosso sistema de imigração igual," prometeu Boris Johnson..A vida privada do antigo presidente da Câmara de Londres tem estado no centro da campanha. A empresária norte-americana Jennifer Arcuri, que recebeu 126 mil libras de fundos públicos e viajou com Johnson quando este era mayor, revelou que mantiveram "uma relação muito especial" - durante quatro anos, segundo a ITV -, tendo o político promovido os interesses de Arcuri..É por isso que a Greater London Authority (GLA, administração da grande Londres) encaminhou o dossiê de Johnson para a polícia britânica para este ser investigado sobre alegada má conduta. Boris Johnson, que em tempo algum declarou o relacionamento com a norte-americana, recusa ter agido de forma incorreta..Corbyn quer nacionalizar, mas com os empresários.Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, anuncia um executivo que irá nacionalizar parte das grandes empresas britânicas - caso da operadora de telecomunicações BT ou da ferrovia, para poder melhorar a qualidade dos serviços. Há dias anunciara banda larga gratuita para todos..Mas no discurso perante os empresários o líder esquerdista tentou tranquilizar a audiência. "Compreendo as vossas reticências em relação a alguns dos nossos planos, mas os vossos negócios, os vossos trabalhadores, os vossos consumidores têm sido prejudicados com o saque nas contas de energia e com serviços ferroviários e de autocarros muito pobres em muitas regiões do país.".Corbyn aproveitou os desafios lançados pela confederação patronal no seu Programa para a prosperidade para se mostrar de acordo. Os desafios são assegurar que todas as pessoas tenham as qualificações de que precisam, reduzir a desigualdade e combater a emergência ambiental e climática. "Estamos totalmente de acordo. Todas fazem parte da essência do nosso programa para reconstruir e reformar este país", comentou Corbyn..Afirmou também que o Labour "não acredita que o Estado pode fazer tudo, tal como não acredita que o Estado se retire e deixe tudo para o mercado"..Nesse quadro, Corbyn pretende aumentar a taxa dos impostos sobre as empresas e sobre os contribuintes mais ricos, com o objetivo de ajudar a financiar os planos de investimento - 250 mil milhões de libras ao longo de dez anos em infraestruturas, 150 mil milhões em cinco anos para os serviços públicos e 250 mil milhões para empresas e cooperativas.."A tributação vai mudar com os trabalhistas. Não fazemos nenhum segredo disso. Temos sido muito, muito, claros que os 5% mais ricos vão pagar mais. E ao longo da legislatura vamos aumentar o IRC sem ultrapassar os níveis de 2010", disse. Em 2010, a taxa era de 28%..Na educação, Corbyn anunciou um serviço de educação nacional gratuito para dotar os cidadãos de formação ao longo de toda a vida. E a criação de um programa de qualificação nas questões climáticas para 320 mil pessoas para aumentar o número de especialistas em áreas como as energias renováveis e os transportes, a construção sustentável, as indústrias de baixas emissões de carbono, a agricultura e silvicultura sustentáveis..Sobre o Brexit reiterou que vai procurar um novo acordo que preveja a continuação no mercado único e de forma a preservar o Acordo de Sexta-feira Santa, para posteriormente os eleitores escolherem em referendo esse acordo de saída ou a permanência na UE. Na véspera, Corbyn garantiu que os trabalhistas vão excluir o Serviço Nacional de Saúde e a política de medicamentos dos acordos comerciais com os Estados Unidos. Num texto publicado no Observer, Corbyn acusou o primeiro-ministro, Boris Johnson, de ocultar conversações sobre o serviço público de saúde. "Boris Johnson está envolvido no encobrimento de conversas secretas para um acordo comercial americano que iria aumentar o custo dos medicamentos e levar à privatização desenfreada de nosso serviço de saúde", acusou.