Maçonaria também desconfina. Ao avental soma-se agora a máscara obrigatória
Mais ou menos ao mesmo tempo que o Presidente da República decretava o estado de emergência (18 de março), o Grande Oriente Lusitano (GOL) - a mais antiga obediência maçónica em Portugal - decretava a suspensão das reuniões presenciais internas. E, aliás, não só das reuniões presenciais como também, logo a seguir, das digitais - porque o grão-mestre, Fernando Lima, receou que essas reuniões, com todos os participantes devidamente paramentados, fossem parar à internet. Na Maçonaria regular, a Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal já fez saber que só irá desconfinar em setembro, depois de analisada a situação.
No GOL , "passado que parece estar o tempo de absoluto resguardo e confinamento preventivo" - é o que se lê num documento interno a que o DN teve acesso -, e "procurando corresponder ao manifesto desejo da grande maior parte dos obreiros de retomar as suas atividades em loja", a obediência decreta o desconfinamento interno. Para já, a título experimental, podem começar a reunir as lojas em concelhos onde não se registem novos casos de infetados há 30 dias.
Falta, por outro lado, decidir o que se fará quanto à sede da obediência, o palácio maçónico do Grémio Lusitano, ao Bairro Alto, tendo em conta a "especificidade sanitária da região de Lisboa". Dos cinco concelhos com mais infetados, quatro são da Área Metropolitana da capital: Lisboa (2979), Sintra (2105), Loures (1548) e Amadora (1336). Fora de Lisboa, só o Porto surge neste top, na 4.ª posição, com 1414 infetados.
Assim, segundo se lê nos documentos internos ("pranchas") a que o DN teve acesso, "o Conselho da Ordem, ouvidos os especialistas e considerando as opiniões científicas em que sempre sustentou as suas decisões, acompanhando em certa medida o que também se passa no país, entende que, respeitando as particularidades de cada uma das oficinas e do seu contexto, é chegado o momento destas, de forma gradual, retomarem os trabalhos rituais".
Na sequência dessa decisão, a direção do GOL elaborou uma lista de 50 regras que ditam adaptam a liturgia maçónica às exigências de segurança determinadas pela pandemia.
Uma das regras determina, por exemplo, que "está dispensado o uso de luvas brancas até ao levantamento das condições de exceção", dado "não haver garantias quanto à sua higienização".
O uso do avental continua, é claro, obrigatório. Mas agora uma outra "peça" de vestuário se tornará indispensável: "É obrigatório o uso permanente de máscara, que não deve ser retirada em qualquer momento, devendo cada obreiro ser portador da sua."
As regras parecem seguir, no que toca à lotação e aos momentos litúrgicos, as regras das missas. Nas salas das reuniões, cada "irmão" deverá dispor para si de "um espaço mínimo de quatro metros quadrados". E "deve garantir-se, com medidas adequadas, que as distâncias necessárias sejam respeitadas (por ex: barrando acesso a alguns bancos ou alternando as filas, afastando cadeiras, marcando os lugares com cores ou outra sinalética)". Sugere-se marcação prévia de lugar.
Foram também aprovadas regras que interditam procedimentos que obrigam ao contacto físico entre os maçons. "A Cadeia de União, nos termos em que a praticamos, não será realizada por não garantir o distanciamento mínimo". A "cadeia da união" (ver imagem no início do texto) é algo equivalente ao abraço da paz na liturgia católica (aquele momento em que o crente cumprimenta com um aperto de mão ou um beijo o crente ao lado).
Ao mesmo tempo, o Tríplice Abraço Fraterno "está vivamente desaconselhado em todos os momentos, antes e após as sessões, e temporariamente suspenso no decurso destas, incluindo os momentos rituais em que estes estivessem previstos" - "e o mesmo se aplica a apertos de mão, ainda que com sentido ritual". Também, "por ser um meio de possível contaminação, não haverá circulação do Tronco da Beneficência" (outro momento com equivalência nas missas, o da recolha da esmola).
Estão também canceladas as sessões de iniciação - as sessões que consagram a entrada na obediência de um novo "irmão". E "as votações secretas, bola branca e bola preta, considerando o processo de manuseamento das mesmas, não são admitidas, pelo que as deliberações que delas dependam devem ser adiadas".
O documento prevê ainda as regras a cumprir depois das reuniões ("sessões"). "A realização de ágapes [refeições] nas instalações ou utilização de copas e bares está desaconselhada, devendo o seu acesso estar vedado"; "são desaconselhadas as sessões comemorativas. (ex: aniversário de Loja)" e "não são autorizadas visitas de obreiros de outras obediências, independentemente da existência de relações fraternais reguladas"
Outra regra impõe que "após as sessões, os templos deverão permanecer abertos, e, se possível, criadas condições de arejamento que não ponham em causa a segurança das instalações, no mínimo por 30 minutos".
E "se após uma sessão qualquer obreiro manifestar sintomas normalmente associados à doença deve dar conta ao Venerável Mestre que, de imediato, deve informar por telefone ou e-mail o coordenador covid (grande tesoureiro-geral)".
Nessas circunstâncias, "deve o venerável [chefe da Loja] também informar todos os obreiros que partilharam trabalhos com o obreiro sintomático" e "em face da gravidade que se vier a manifestar, o reporte às autoridades de saúde será da responsabilidade do venerável mestre". Nestas circunstâncias, o coordenador covid do GOL "espoletará todos os procedimentos de higienização da instalação em causa".
Os documentos internos incluem um apelo: "Só com o empenho de todos poderemos ultrapassar este período mais sombrio e almejar a claridade dos trabalhos". E por isso"é necessário que todas as regras sejam atendidas."