Rui Rio chutou para canto para não dar importância à moção de censura ao governo apresentada pelo CDS. Não foi o líder do PSD que tomou posição sobre o assunto, mas sim um vice-presidente do partido, David Justino, que anunciou o apoio à iniciativa. E o grupo parlamentar acabou a desvalorizá-la passado pouco tempo: "Como é por demais evidente, a moção de censura ao governo apresentada pelo CDS não tem qualquer efeito prático.".Os sociais-democratas, que o CDS força a tomar posição, liderando a iniciativa de combate ao governo, reforçaram a ideia de que as críticas ao executivo liderado por António Costa têm sido uma constante por parte do seu partido e que, por isso, e só por isso, votarão "a favor de uma censura à política socialista que tem sido seguida". As despesas do debate na quarta-feira, quando a moção for debatida e votada em plenário, ficarão às despesas do líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão..Rui Rio, que já se tinha recusado a comentar a moção de censura no fim de semana, durante a convenção do Conselho Estratégico Nacional, limitou-se a partilhar a posição na sua conta oficial de Twitter. Fonte da bancada do PSD sublinha ao DN que o partido tentará transformar a "teia" do CDS numa oportunidade para intensificar as críticas ao governo de Costa, num momento em que há mudanças de pastas e a cerca de três meses das europeias..O politólogo António Costa Pinto considera, no entanto, a iniciativa do partido de Assunção Cristas "inteligente", entre outras coisas, porque obriga o PSD a "convergir com o CDS", que liderou a iniciativa. "Mesmo que tenha sido criticada por não servir para nada, serve politicamente para dar saliência negativa ao governo e focar o parceiro, o PSD, numa atitude de maior convergência com o CDS", frisa..O CDS toma ainda a dianteira num momento, diz António Costa Pinto, em que o espaço político do centro-direita apresenta alguma inovação, com o aparecimento do partido de Santana Lopes, a Aliança, e o anunciado nascimento do Chega de André Ventura. "Estes partidos representam um modelo de maior concorrência naquele campo político e fazem-no com posições mais à direita", argumenta o politólogo. Ora, o CDS, que sempre ocupou este espaço à direita do PSD, "sente o desafio" e tem de agir. Foi o que fez com a moção de censura e a afirmação de total desacordo com o governo socialista apoiado pela esquerda parlamentar, PCP e BE..Na opinião de António Costa Pinto, a conjuntura nacional é favorável à moção dos centristas, já que se vive um momento de contestação social em vários setores, há um abrandamento da economia portuguesa e até a guerra dos hospitais privados e a ADSE ajuda a dar corpo às críticas ao governo..Na sexta-feira passada, Assunção Cristas resumiu as razões da censura ao governo. "Os serviços públicos colapsaram - por más escolhas e por incapacidade do governo. Este é o governo dos serviços públicos mínimos e da carga fiscal máxima", disse a líder do CDS remetendo para a contestação social, com particular destaque para a área da Saúde..O governo, disse, é incapaz de contrariar o abrandamento económico e acusou ainda que "compromete Portugal na União Europeia, ao apoiar o fim da regra da unanimidade em matéria fiscal". A Assembleia da República, garantiu, não concedeu ao governo um cheque em branco, para acabar com a regra da unanimidade e assim alienar a nossa soberania fiscal, e no entanto é o que o governo tem defendido em Bruxelas nas costas dos portugueses.."O governo falha às pessoas: falha na dimensão social, falha no investimento, falha na economia e falha na soberania e segurança dos portugueses. Não nos esquecemos do conjunto vasto de material de guerra furtado dos paióis de Tancos ou do roubo de armas às forças de segurança sem que se conheçam responsabilidades políticas. A erosão da autoridade do Estado estende-se ao sistema prisional, onde os motins se repetem, em resposta às greves. À desmotivação das forças de segurança acresce a sua reiterada desautorização. O governo falhou, sendo incapaz de garantir a confiança e a motivação das forças que nos garantem a segurança.l".Em entrevista ao Expresso, no fim de semana, assumia que a moção também era um desafio ao PSD para se posicionar perante o governo.