O famoso artigo 5.º da NATO, que implica a solidariedade militar imediata de todos os membros com o parceiro atacado, só foi ativado uma vez em 73 anos de existência da Aliança Atlântica. Aconteceu a seguir aos atentados terroristas contra Nova Iorque e Washington em 2001, mas como o atacante não era um país ou grupo de países e sim a Al-Qaeda a sua concretização foi diluída na chamada Guerra ao Terror, a forma como o então presidente americano George W. Bush classificou uma ofensiva contra as redes jihadistas, que incluía ações militares clássicas e outras mais ao estilo policial..Ao contrário do sucedido a 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos, a destruição causada na terça-feira no leste da Polónia poderia vir de um país, no caso a Rússia. Intencionalmente ou não. Em ambas as situações, a Polónia poderia sentir-se ameaçada ao ponto de acionar o artigo 5.º e pedir que viessem em sua defesa os outros 29 países da NATO. Apesar do tom acusatório inicial, o bom-senso imperou e os próprios polacos, tal como os Estados Unidos e depois o secretário-geral da NATO, vieram a reconhecer que possivelmente o míssil era ucraniano e foi disparado contra mísseis russos, acabando por ir cair em território polaco sem qualquer intencionalidade (a Ucrânia contesta esta versão e insiste ter provas de que foi, de facto, um míssil russo). O Artigo 4.º ponderado por Varsóvia, e com vários antecedentes já de utilização, acabaria por ser o mais acertado, pois permitiria que a Aliança Atlântica discutisse o nível de ameaça que estava em causa, mas sem uma escalada gravíssima, que seria a NATO passar de fornecedor de material militar à Ucrânia a beligerante com a Rússia..O alerta fica, porém, e deve ser levado muito a sério. E foi evidente o alívio tanto em Washington, como em Moscovo, quando a informação disponível permitiu perceber o que provavelmente se tinha afinal passado. A Rússia não deixa de ser a principal responsável pelo sucedido, pois disparou vários mísseis contra alvos na Ucrânia, país que continua parcialmente ocupado. Mas se um dia a linha vermelha for ultrapassada, a discussão sobre quem teve a maior responsabilidade será mera bizantinice perante o terrível conflito global que se poderá seguir..Que se saiba não há negociações em curso, nem entre ucranianos e russos, nem, a outro nível, entre Washington e Moscovo. Mas ao fim de quase nove meses de conflito na Ucrânia, sente-se que falta o tal país mediador que obtivesse, pelo menos, um cessar-fogo (que evitaria mais mortos enquanto se negociasse, algo que a própria liderança da NATO considera inevitável) e ajudasse a evitar que uma guerra no leste da Europa se transformasse na Terceira Guerra Mundial..Diretor adjunto do Diário de Notícias