Pandemia revelou que mais de 90% das escolas não possuíam equipamentos suficientes

Estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE) retrata problemas, respostas e desafios enfrentados durante a primeira fase da pandemia, no ano letivo anterior.
Publicado a
Atualizado a

A implementação do ensino remoto de emergência foi dificultada pelo número insuficiente de dispositivos digitais e de uma ligação à internet de qualidade. A maioria das escolas em Portugal (92%) não dispunha de equipamentos em número suficiente nem de ligação de internet com qualidade. E numa percentagem expressiva de escolas (80%), a falta desses dispositivos por parte dos alunos e famílias afetou o trabalho realizado. A conclusão é de um inquérito promovido pelo Conselho Nacional de Educação junto de diretores e professores com funções de coordenação nas escolas e retrata o forte impacto da pandemia de covid-19 no ensino em Portugal.

Em março do ano passado, as escolas do país fecharam portas pela primeira vez. Uma situação que, à data, apanhou a comunidade escolar de surpresa, sem tempo para uma preparação prévia por parte de alunos, professores e pais. Mais de um milhão e meio de crianças e jovens ficaram confinados em casa e passaram ao ensino à distância (E@D), algo totalmente novo para a maioria. Em julho de 2020, o CNE deu início a este estudo, cujas conclusões, ontem divulgadas, não deixam margem para dúvidas sobre os problemas enfrentados pela falta de meios e de capacitação tecnológica.

O CNE destaca que, apesar de ter sido um problema "transversal", "a escassez de dispositivos digitais não afetou de forma igual as escolas, alunos e famílias". "Foram evidentes assimetrias na distribuição territorial das escolas atingidas por essa falta de dispositivos digitais. O Alentejo Litoral, o Tâmega e Sousa, o Alto Tâmega e a Beira Baixa destacaram-se como as regiões com as percentagens mais elevadas de escolas muito afetadas", concluiu.

Para tentar minimizar o impacto da falta de meios foram feitas parcerias, concretizadas através do fornecimento de equipamentos e ligação à internet (apoio referido por 76% dos diretores), bem como na distribuição e recolha de materiais de apoio à aprendizagem a alunos que não dispunham de dispositivos digitais. Neste sentido, 93% dos diretores indicaram que recorreram a vias de comunicação alternativas para estabelecer contacto com aqueles alunos e 40% assinalaram ter recorrido a contactos pessoais. As autarquias - municípios (61%) e juntas de freguesia (23%) - foram as entidades que mais colaboraram com as escolas. A larga maioria dos docentes (96%) utilizaram um computador ou tablet pessoal e apenas 2% fizeram uso do material cedido pela escola. Situação semelhante aconteceu quanto ao acesso à net, uma vez que quase todos os professores usaram uma ligação própria (99%).

Já a perceção relativa à adequação das competências digitais dos professores para o ensino a distância dividiu opiniões. Para 41% dos diretores e 47% dos professores, o ensino remoto de emergência terá sido "afetado ou muito afetado" pela inadequação das competências digitais dos professores. De igual modo, a maioria dos diretores (79%) e dos professores (80%) indicaram que o ensino remoto de emergência foi "afetado ou muito afetado" pela falta de formação de alunos e famílias na utilização de recursos digitais.

O estudo do CNE revela uma valorização do papel da escola e dos professores durante o confinamento. Os pais e encarregados de educação passaram a valorizar "mais" ou "muito mais" o papel da escola. Quando questionados sobre os aspetos relativos ao papel da escola que passaram a ser mais valorizados pelos pais e pela comunidade", identificaram a organização e apoio às aprendizagens (82% e 85%); desenvolvimento da autonomia e sentido de responsabilidade (82% e 83%); e socialização (77%)".

No que se refere às aprendizagens, cerca de metade dos professores inquiridos disseram que o ensino à distância comprometeu as aprendizagens, apesar de a maioria dos alunos (78%) terem cumprido com regularidade as tarefas solicitadas. As dificuldades inerentes ao E@D levaram dois terços (66%) dos docentes a não conseguir cumprir a planificação do 3.º período, 7% decidiram não avançar com matéria nova e 11% dos que o fizeram optaram por não avaliar os conteúdos novos lecionados à distância.

Para fazer face às desigualdades de aprendizagem originadas pelo encerramento das escolas, as medidas que mais professores e diretores consideram importantes adotar são a organização dos alunos em grupos menores (89% e 73%, respetivamente) e a reapreciação dos programas tendo em conta as aprendizagens essenciais (74% e 73%, respetivamente). Os diretores também pretendem a adoção de outras medidas como aulas coadjuvadas ou em codocência (78%), tutorias (69%), apoio individualizado (68%) e reorganização da escola tendo em conta outros métodos de aprendizagem (como o trabalho de projeto). A preocupação com o número de alunos por turma é a mais recorre nos comentários dos professores.

dnot@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt