Com um forte abraço e ao som do Hino da Alegria, António Costa selou oficialmente o nome de Pedro Marques para cabeça-de-lista socialista ao Parlamento Europeu, um segredo muito mal guardado já há semanas..Antes, na Convenção Europeia do partido, que decorreu este sábado em Gaia, o secretário-geral do PS demorou-se por largos minutos a apresentar o currículo de governante para melhor justificar a sua escolha pessoal para Bruxelas..Costa apresentou a candidatura do seu ainda ministro do Planeamento e Infraestruturas ainda como uma forma de manter a tradição. Desde 1987, apontou, o PS nunca repetiu o seu n.º 1 nas europeias. "Para não quebrar a tradição, não vamos repetir o cabeça-de-lista", esclareceu Costa, uma tese que já tinha sido ensaiada durante a tarde pelo ministro Augusto Santos Silva..A escolha pessoal é de Costa - "escolhi alguém que creio que está em excelentes condições -, pelo que o resultado também será do líder do partido, ele que dará a cara pela campanha eleitoral socialista. O PS sempre escolheu "os melhores dos seus quadros" e "dos seus recursos", mas Costa deixou uma confissão: "Umas vezes perdemos, umas vezes ganhámos por muito, outras vezes ganhámos por poucochinho." E todos se lembraram de 2014, quando Costa desafiou a liderança socialista de António José Seguro, usando este termo..Bem pode o candidato do PSD, Paulo Rangel, criticar o PS por alegadamente usar cargos públicos para fazer campanha, que para António Costa é o currículo de governante o seu melhor cartão-de-visita. Pedro Marques, segundo o secretário-geral do PS, "conhece profundamente o país" e "conheceu como ninguém as inúmeras realidades sociais do país"..O agora candidato socialista foi secretário de Estado da Segurança Social, recordou Costa, e contactou com essas realidades por todo o país e muitas instituições. Também como ministro do Planeamento e Infraestruturas, lugar de onde agora sai, recuperou o investimento de fundos comunitários para as empresas, defendeu o líder socialista e primeiro-ministro..Pedro Marques "é alguém com provas dadas na ação governativa", insistiu. "Já ninguém se lembra: no dia em que tomámos posse, às empresas tinham chegado só 4 milhões de euros" do Portugal 2020 e Costa logo definiu que "até aos 100 dias" de executivo conseguiriam "100 milhões de euros". Chegaram aos 120 milhões, argumentou. "É o segundo país da União Europeia com a melhor execução dos fundos comunitários", completou..No seu discurso de aceitação da candidatura e de lançamento já para a campanha, Pedro Marques recordou que o diabo vinha aí também pelas palavras de Paulo Rangel. "Eles não têm memória, não se querem lembrar do mal que fizeram. Mas nós lembramo-nos bem, e os portugueses não se esquecerão", apontou, como que a tomar notas para os debates das próximas semanas. E o candidato pediu, também por isso, "mais força ao PS, para fazer na Europa o que realizámos em Portugal"..Para Costa, o mais positivo que o PS tem para oferecer é o exemplo da sua própria ação governativa e esteve num constante pingue-pongue entre cá e lá para melhor se explicar. "Quando se discutiu na União Europeia se Portugal devia ser sancionado, houve alguns como o candidato [à Comissão Europeia, Manfred Weber] apoiado pelo PSD e CDS que defenderam fortes sanções para Portugal.".Num longo discurso de 40 minutos, o líder socialista alinhou a partir dos seus cartões amarelos de leitura as diferenças entre uns e outros. "Quando anunciámos a subida do salário mínimo nacional, os técnicos da Comissão Europeia disseram que era perigoso. Outros foram para a Europa dizer que íamos chamar o diabo e levar o país à bancarrota", disse, apontando aos sociais-democratas e centristas. "É por isso que faz diferença votar no PS", sintetizou.."O PS é quem mais ama a Europa".Essa diferença mede-se no amor dos socialistas pela Europa. "O PS é o partido que mais ama a Europa. E não há amor como o primeiro", atirou, entre sorrisos. "Nunca duvidámos dele, nem nas circunstâncias mais difíceis, mesmo nos anos da troika.".É este amor que os distingue também dos partidos da esquerda, que apoiam na Assembleia da República o executivo socialista. "O nosso lugar na Europa era lutar na Europa para mudar aquela política.".Também Augusto Santos Silva disparou à esquerda e à direita, para justificar a saída de Francisco Assis da lista socialista para o Parlamento Europeu - e alinhar o discurso para uma campanha onde o PS terá bloquistas e comunistas como adversários. Como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros: "Os nossos adversários facilitaram-nos muito a vida", atirou, porque "escolheram exatamente os mesmos [cabeças-de-lista] de há 5 anos". .Santos Silva incluiu PCP e BE, como PSD e CDS. "Como é possível serem portadores do futuro com as caras do passado", questionou o também dirigente nacional. "As mesmíssimas caras" da direita - "quer os que ainda lá estão, quer os que saíram para formar novos partidos", explicou - que quiseram ir "além da troika", "eles são a cara do maior ataque aos direitos sociais". .Mário Centeno evitou saudar os "camaradas", preferindo "amigas" e "amigos" mas - de cachecol da seleção nacional de futebol - foi dos mais aplaudidos quando na tela gigante projetaram a "história europeia" do PS (ao som de Everlong dos Foo Fighters). Aplausos que também não foram regateados a José Sócrates - que surgiu quando da assinatura do Tratado de Lisboa..É um PS que se quer projetar na Europa com um caminho de responsabilidade, recusando o "mantra de que não há alternativa", como explicou o secretário-geral adjunto do Partido Socialista Europeu (PES), Yonnec Polet, juntando também no ecrã gigante o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e o Presidente francês, Emmanuel Macron. "Vocês são uma inspiração", disse dos socialistas portugueses o candidato do PES a presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans..Costa explicou o porquê daquelas caras no palco socialista: o PS é quem faz as pontes, tem amor para dar ao centro e à esquerda.