A vida dos filmes, e através dos filmes, pode ser francamente insólita. Glenn Close, por exemplo. Atriz americana de enorme talento, conhecida e reconhecida desde que integrou o elenco de Os Amigos de Alex (1983), de Lawrence Kasdan, é muitas vezes citada como protagonista de uma consagração eternamente adiada. De tal modo que já obteve seis nomeações para Óscares de interpretação - incluindo por Atracção Fatal (1987) e Ligações Perigosas (1988), por certo os seus filmes mais famosos -, mas nunca ganhou..Reencontramo-la, agora, a interpretar a personagem central de A Mulher, coprodução Suécia/Reino Unido/EUA com realização do sueco Björn Runge. Lançado há mais de um ano no Festival de Toronto, o filme só chegou às salas dos EUA em agosto de 2018, estando agora a ser lançado em muitos países (incluindo Portugal, com estreia agendada para quinta-feira). De tal modo que se especula sobre a possibilidade de Glenn Close obter, pelo menos, uma sétima nomeação para um Óscar..Será uma forma de redescoberta, justificada e calorosa, embora seja forçoso reconhecer que A Mulher (título original: The Wife) se fica pelos limites de uma eficácia dramática típica de muitos telefilmes de produção corrente..Glenn Close interpreta a mulher de um escritor (Jonathan Pryce) que, um belo dia, recebe um telefonema a informá-lo que foi galardoado com o Nobel da Literatura... Digamos, para simplificar, que a viagem do casal a Estocolmo, para receber o prémio, irá funcionar como um processo de inesperada e violenta revelação de segredos incrustados numa longa vida comum..O trabalho de Runge nunca ultrapassa as matrizes mais convencionais, padecendo mesmo de uma psicologia "demonstrativa" de algum modo reforçada pela utilização retórica dos flashbacks. O melhor de A Mulher está, sem dúvida, no seu elenco, importando referir as passagens de testemunho que aqui se consumam: por um lado, a personagem do filho do casal está a cargo de Max Irons, filho dos atores Jeremy Irons e Sinéad Cusack; por outro lado, nas cenas do passado, a mulher é interpretada por Annie Starke, filha da própria Glenn Close e do produtor John H. Starke.