Na sexta-feira, na Casa Branca, o presidente Donald Trump anunciou que iriam começar detenções em massa em várias cidades dos EUA, com vista à deportação de imigrantes ilegais condenados por crimes, para os seus países de origem.."Vai começar no domingo. Vão tirar essas pessoas daqui para fora. Vão levá-las de volta para os seus países. Estamos centrados nos criminosos antes de podermos fazer mais alguma coisa", declarou o republicano, cuja administração argumenta que as leis sobre a imigração têm sido ignoradas e que é preciso ações robustas dada a resistência da oposição democrata em concordar com a aprovação de uma reforma profunda das leis da imigração..De acordo com os números do Departamento de Segurança Nacional, no mês passado chegaram cem mil pessoas sem documentos aos EUA, sobretudo oriundas da América Central, procurando fugir à pobreza e à violência. Apesar de tudo, segundo os números, citados pela agência noticiosa AFP, isso representa uma quebra de 28% em relação a maio..Segundo os media britânicos os raides com vista às deportações em massa seriam levados a cabo por agentes do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras dos EUA - ICE - e deveriam resultar na detenção de pelo menos 2 mil pessoas em cidades como Atlanta, Baltimore, Chicago, Denver, Houston, Los Angeles, Miami, Nova Iorque e São Francisco..A questão é que, no domingo, segundo os media norte-americanos, não havia grandes sinais de essa operação do ICE estar a ser implementada de forma massiva e ostensiva como anunciara o chefe do Estado dos EUA. Invadidos pelo medo e pelo pânico, os imigrantes em solo norte-americano escolheram não andar nas ruas, pelo sim, pelo não, organizações que os apoiam distribuem-lhes informação sobre os seus direitos e o que fazer em caso de separação dos filhos menores. Há autoridades, empresas, igrejas, entre outros, a recusar cooperar com os agentes do ICE, pela forma como as coisas são ditas, anunciadas e mandadas executar pelo presidente norte-americano..Em vez dos raides em massa, a notícia no domingo foi, mais uma vez, Trump. E os seus tweets. "É interessante ver congressistas progressistas democratas, oriundos de países cujos governos são uma catástrofe total,os piores, mais corruptos e mais inaptos do mundo (se é que têm um governo que funciona de todo), agora a dizerem ao povo dos EUA, a maior e mais poderosa Nação à face da terra, como é que o nosso governo deve ser gerido. Porque é que não regressam e ajudam a concertar os sítios de onde vieram, totalmente dilacerados pelo crime. Voltem e mostrem-nos como se faz", escreveu o presidente republicano na sua conta de Twitter..Trump, de 73 anos, referia-se a novas congressistas chegadas a Washington depois das eleições de novembro, muito combativas no que toca à defesa dos direitos humanos, das minorias e dos imigrantes. É o caso de Alexandria Ocasio-Cortez, nova-iorquina de origem porto-riquenha, Ayanna Presley, afro-americana nascida em Cincinnati, Ilhan Omar, que chegou aos EUA ainda criança, vinda da Somália, Rashida Tlaib, filha de pais palestinianos nascida em Detroit. São conhecidas como "o esquadrão" e a líder democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, saiu em sua defesa, tendo classificado como xenófobos os comentários do presidente republicano.."Rejeito os comentários xenófobos de Trump, que procuram dividir o nosso país. Em vez de atacar os congressistas, deveria trabalhar connosco numa política migratória humana que reflita os valores norte-americanos. Quando Trump diz a quatro congressistas norte-americanas que regressem aos seus países, está a reafirmar que o seu plano de "Tornar a América Grande Outra Vez" sempre foi afinal um plano de "Tornar a América Branca Outra Vez"..Semear o pânico entre os imigrantes e pouco mais."Trump pode declarar vitória - já assustou bastante gente. Houve muito drama pelo país todo", disse ao The Washington Post Bill O. Hing, professor de Direito da Universidade de São Francisco e diretor do departamento de defesa de imigrantes e deportados. Segundo dados do Pew Research, 10,5 milhões de imigrantes vivem atualmente nos EUA em situação irregular, 66% dos quais há mais de uma década..John Sandweg, que foi diretor do ICE no tempo da administração do presidente Barack Obama, disse não conseguir encontrar razões prementes para a publicitação que Trump fez da operação de deportação.."Isto coloca os agentes em perigo e, francamente, se alguém procura marcar pontos e ganhar benefícios em termos de Relações Públicas, então que deixe realizar a operação de forma tranquila e, depois, retire créditos daí. O ICE conduz estas operações de forma rotineira e fizeram-no durante a administração Obama", prosseguiu o mesmo responsável, sublinhando que "o medo e histeria gerados ultrapassam em muito o efeito que esta operação pode ter"..No ano passado, refere o El País, o ICE levou a cabo 250 mil expulsões, sendo o recorde de deportações de 2012, na era de Obama, quando foram expulsas 410 mil pessoas. 55% das pessoas que foram expulsas cometeram algum tipo de delito. Cerca de um milhão de estrangeiros tem ordem de expulsão por parte das autoridades dos EUA..Hasan Shafiqullah, advogado da Legal Aid Society, explica àquele mesmo jornal espanhol que o presidente Trump está a utilizar o ICE como arma política "para mobilizar as suas bases com vista à reeleição". Anu Joshi, da New York Immigration Coalition, garante: "O motivo de fazer estes anúncios com tanto barulho é instalar o medo.".O vereador Carlos Menchaca, natural de El Paso, no estado de Texas, também acusou a administração de Trump de querer "branquear a América". E disse: "A ordem vem de um homem branco, por isso diz que é preciso expulsar gente de cor." O senador estadual Zellnor Myrie também decidiu ir ajudar a informar os imigrantes dos seus direitos: "Madrugámos porque é imperativo que as pessoas estejam informadas.".Camila Alvarez, advogada do Central American Resource Center, em Los Angeles, na Califórnia, sublinhou que induzir ansiedade nos imigrantes é algo que se tornou uma arma política para a administração de Trump. "É claro que isto se tornou uma ferramenta política para a atual administração. O anúncio destes raides foram feitos de forma a criar medo na comunidade imigrante", declarou, citada pelo jornal USA Today..Polícia, igrejas e hotéis dificultam a vida ao ICE.Após a publicidade feita por Trump, o ICE parece ter, de facto, o seu trabalho dificultado. A mayor de Chicago, Lori E. Lightfoot, indicou que vedou o acesso às bases de dados do Departamento de Polícia de Chicago ao ICE e aumentou o fundo de proteção legal para imigrantes para os 250 mil dólares..O xerife de Los Angeles, Alex Villanueva, indicou, por seu lado, na televisão, que o seu departamento não irá cooperar com o ICE. E a mayor da cidade de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, pediu aos imigrantes sem documentos que não saíssem de casa no domingo..Apesar de tudo, o sindicato de polícia de Nova Iorque emitiu uma circular pedindo aos seus membros que apoiem a operação do ICE e cumpram a lei. "Não podemos deixá-los sozinhos", defende o presidente da Sergeants Benevolent Association, Ed Mullins. Isto apesar de, em declarações à CNN, o mayor de Nova Iorque, Bill de Blasio, ter acusado Trump de fomentar o medo e de estar a tentar dividir a América..De acordo com a Associated Press, dezenas de igrejas em Houston e Los Angeles ofereceram ajuda a todos os imigrantes que tenham medo de ser presos. Em Miami, ativistas distribuíram flyers à porta das igrejas para ajudar os imigrantes a terem consciência dos seus direitos caso sejam presos.."Estamos a viver tempos em que a lei permite a um governo fazer certas coisas, mas isso não quer necessariamente dizer que está certo, declarou o reverendo John Celichowski, da paróquia de St. Clare de Montefalco, em Chicago. Nela, 90% dos membros da congregação são hispânicos e, na sua maioria, imigrantes..O cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, escreveu este mês uma carta aos padres da arquidiocese dizendo que "as ameaças de ações robustas por parte do ICE são destinadas a aterrorizar as comunidades" e instou os párocos - de uma arquidiocese que serve dois milhões de fiéis - a não deixar entrar agentes daquele serviço sem que estes mostrem a sua devida identificação ou mandado..Entretanto, cadeias de hotéis como Marriott, Choice e Hyatt rejeitaram veementemente a ideia de acolherem, mesmo que temporariamente, imigrantes. "Os nossos hotéis não estão configurados para serem centros de detenção, mas para estarem abertos a hóspedes e a membros da comunidade. O Marriott tomou a decisão de declinar quaisquer pedidos para que os seus hotéis sejam usados como centros de detenção", fez saber o grupo Marriott International, em comunicado citado pelo Businessinsider.com..Em resposta a isso, o diretor do ICE, Matthew Albence, fez saber que a recusa das cadeias de hotéis em colaborar pode levar a que mais famílias de imigrantes sejam separadas. "Se os hotéis e outros lugares não querem permitir que os utilizemos, então isso força-nos a uma situação em que temos de levar um dos pais, detê-lo, separando-o do resto da sua família", avisou o responsável, numa entrevista à Associated Press..Guatemala reticente em ser repositório de imigrantes.A Guatemala indicou, também neste domingo, que o encontro entre o seu presidente, Jimmy Morales, e o presidente dos EUA, Donald Trump, em Washington, foi adiado. O presidente guatemalteco prefere esperar pela decisão do Tribunal Constitucional do seu país, que neste momento se encontra a analisar um pedido no sentido de bloquear qualquer acordo entre a Guatemala e os EUA no sentido de o primeiro se tornar recetor de requerentes de asilo a pedido do segundo..À luz de um tal acordo, a Guatemala comprometer-se-ia a dar asilo a todos os imigrantes que entrassem no seu território e que quisessem chegar aos EUA. Normalmente, os imigrantes das Honduras e de El Salvador, que procuram chegar à fronteira México-EUA, atravessam para o México através da Guatemala..Nas últimas semanas, tem crescido a pressão para o governo da Guatemala não aceitar um tal acordo, o qual iria redefinir e, muito, a imigração na região. "O governo da República reitera que neste momento não está a considerar um acordo que converta a Guatemala num país de trânsito seguro", indicou o governo guatemalteco, em comunicado citado pela Reuters..Dos EUA, fonte oficial confirmou que o encontro entre Morales e Trump foi adiado. "Os EUA vão continuar a trabalhar com o governo da Guatemala sobre passos concretos e imediatos a tomar para fazer face à crise migratória.".Neste contexto, a administração de Trump publicou nesta segunda-feira no Federal Register (Diário Oficial do Governo Federal dos EUA), um novo regulamento que obriga a que os requerentes de asilo nos EUA peçam, antes dos EUA, asilo aos países pelos quais passaram até chegar à fronteira norte-americana. Só se os outros países lhes negarem asilo é que eles poderão, então, solicitar asilo nos EUA, noticiou a Fox News.