Apoucas horas de uma remodelação do governo e um dia antes da apresentação da lista de candidatos do PS às europeias e da convenção do Conselho Estratégico Nacional do PSD, o CDS marcou a agenda política. Anunciou uma moção de censura ao governo, a segunda que apresenta nesta legislatura, e obrigou todos os partidos a posicionarem-se. Com a mais que previsível morte anunciada da moção, Assunção Cristas quis sobretudo afirmar-se como líder da oposição, num momento em que Rui Rio intensifica o combate ao PS. Em conferência de imprensa, ontem no Largo do Caldas, Assunção admitiu que a iniciativa do seu partido obrigará à "clarificação de todas as forças no Parlamento". Ou seja, encostar o PCP e o BE ao executivo em ano de eleições legislativas e obrigar o PSD de Rui Rio a posicionar-se..Em outubro, quando o CDS também decidiu que era hora de avançar com a medida mais drástica de crítica ao governo, era ainda Passos Coelho quem comandava os destinos dos sociais-democratas e não hesitou em apoiar o CDS. Mas a moção de censura foi chumbada por PS, PCP e BE. Tal como agora, os mesmos partidos rejeitam a nova moção de censura centrista, que será debatida e votada na quarta-feira . "É uma encenação do CDS", argumentou João Oliveira, líder parlamentar comunista. "Naquilo que é negativo para o país o CDS votou ao lado do PSD e do PS", disparou ainda em direção ao partido de Cristas..O presidente da bancada do Bloco classificou-a de "ação de campanha do CDS". Pedro Filipe Soares apontou ainda outras razões políticas para a iniciativa centrista: "O CDS está mais preocupado com o estado da direita do que com a realidade concreta do país." O deputado do BE disse que ficou ainda claro que os centristas defendem as parcerias público-privadas (PPP) e o abuso dos privados na ADSE..Rui Rio deverá guardar a reação à moção de censura do CDS para este sábado, no encerramento da primeira Convenção do Conselho Estratégico do PSD, em que estarão em debate as propostas do partido para o país, tendo em vista a elaboração do programa eleitoral. Embora o líder do PSD seja mais institucionalista, e entenda que os mandatos dos governos são para levar até ao fim, é provável que venha a apoiar a moção do CDS..A proximidade de eleições europeias e legislativas não dá grande margem aos partidos da oposição para manterem uma posição híbrida em relação ao governo. Resta saber o que dirá Rui Rio para não deixar o PSD alternizado perante o avanço do CDS. O discurso de responsabilidade tem sido o seu cunho político.."Governo falha com as pessoas"."O CDS prefere ir já para eleições do que esperar oito meses com um governo desnorteado." Foi assim que ontem a líder centrista justificou a moção de censura. Assunção enumerou as "falhas" do governo liderado por António Costa, que vão desde a economia, passando pelos serviços públicos, até à autoridade do Estado.."Permanentemente preocupado com a sobrevivência política da sua criação, o primeiro-ministro colocou o partido à frente do país", afirmou a líder centrista, lembrando que a legislatura começou com um contexto nacional e internacional muito favorável. "Prometeu tudo a todos. Comprou a paz social enquanto existiu dinheiro, mas não fez as reformas que eram necessárias, empurrando os problemas com a barriga, na esperança de que o tempo os resolvesse.".Seguiu-se o ataque às "esquerdas unidas", que apoiam o governo no Parlamento e a colagem ao anterior executivo de José Sócrates. "Preso às ideologias radicais dos parceiros que lhe permitem manter o poder, o governo foi revertendo muito, fazendo pouco e tentando, com uma gestão hábil de expectativas e de comunicação, criar a ideia de que tudo estava melhor, apostando nas meias-verdades - na tradição da velha "escola socrática"..A presidente do CDS acusou o governo de ter feito crescer os impostos indiretos, deixando cair o investimento público para níveis históricos e de ter feito colapsar os serviços públicos. "Os serviços públicos colapsaram - por más escolhas e por incapacidade do governo. Este é o governo dos serviços públicos mínimos e da carga fiscal máxima", disse Assunção Cristas, remetendo para a contestação social, com particular destaque para a área da saúde. Reforçou ainda a ideia de que "por preconceito ideológico", o governo quer acabar com as PPP na saúde e com a ADSE.."O governo falha às pessoas: falha na dimensão social, falha no investimento, falha na economia e falha na soberania e na segurança dos portugueses. Não nos esquecemos do conjunto vasto de material de guerra furtado de Tancos ou do roubo de armas às forças de segurança sem que se conheçam responsabilidades políticas. A erosão da autoridade do Estado estende-se ao sistema prisional, onde os motins se repetem, em resposta às greves. À desmotivação das forças de segurança acresce a sua reiterada desautorização. O governo falhou, sendo incapaz de garantir a confiança e a motivação das forças que nos garantem a segurança".