Desafio maior para os próximos anos, a alimentação de uma humanidade há décadas em crescimento exponencial é o mote para o debate que na terça-feira, 15 de outubro, marca o arranque do ciclo de conferências Mês da Ciência e da Educação, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos..Esta é uma iniciativa que conta com cientistas portugueses e estrangeiros de renome internacional para promover a ciência junto do grande público e provocar a discussão de temas que marcam a vida dos cidadãos e das sociedades..O sueco Svante Pääbo, pioneiro na sequenciação do ADN antigo que decifrou o genoma dos neandertais e abriu a porta a estudos genéticos que estão a mudar o modo como contamos a história humana; o médico alemão Edzard Ernst, que foi praticante de terapias alternativas e se tornou cético sobre elas, ou Johannes Ziegler, diretor do Laboratório de Psicologia Cognitiva da Universidade Aix-Marseille - que vêm falar sobre o processo de aprendizagem da leitura -, são alguns dos especialistas internacionais que participam nos debates..O ciclo culmina na conferência Ciência e Universo, em 16 de novembro, na Aula Magna da Universidade de Lisboa, que traz a Portugal nomes da ciência como o físico japonês Michio Kaku e a astrofísica e líder de missões espaciais da NASA a outros planetas do sistema solar Carolyn Porco, bem como as portuguesas Maria Mota e Zita Martins..Todos eles vão debater os desafios que se colocam à humanidade num planeta com recursos finitos, que é ele próprio uma migalha num universo cheio de mistérios. O papel da ciência nessa navegação à vista é o tema central no debate..Esta última conferência, lê-se no site da fundação, já está esgotada, mas os interessados poderão acompanhá-la em direto - bem como a todas as outras - naquele mesmo site..Carne artificial e plantas modificadas.Para começar, então, a alimentação. A conferência O Que Comer? - assim mesmo em forma de pergunta -, que reflete as possibilidades e as incertezas que se avolumam nos nossos dias e nos que aí vêm na alimentação humana..Em tempo de emergência climática, em que novos modos de produção energética e a poupança dos recursos do planeta são parcelas obrigatórias na equação do futuro comum, a alimentação e as suas escolhas surgem também como dado essencial.."Não se trata de dar conselhos sobre nutrição, mas de equacionar os contributos que a ciência pode dar, e está a dar, para uma resposta ambientalmente sustentável nesta área", explica o bioquímico e divulgador de ciência David Marçal, comissário, juntamente com o físico Carlos Fiolhais, do ciclo Mês da Ciência e da Educação..Que escolhas fazer, então? E que lugar terão na alimentação humana do futuro a carne artificial produzida em laboratórios, as plantas melhoradas para serem mais resistentes a extremos climáticos ou para serem mais produtivas, ou ainda outro tipo de alimentos a que não estamos tão habituados, como os insetos..Três cientistas portuguesas da rede GPS, a Global Portuguese Scientists, que congrega a diáspora dos cientistas nacionais pelo mundo fora, vão debater essas questões na primeira conferência do ciclo, na próxima terça-feira, 15 de outubro, às 18.30, na Galeria da Biodiversidade, no Porto. São elas Sónia Negrão, professora e investigadora em melhoramento de plantas da University College Dublin, Sofia Leite, especialista em cultura de células animais no Joint Research Center da Comissão Europeia, e Marta Vasconcelos, que se dedica ao estudo da nutrição e genética de plantas na Universidade Católica Portuguesa..Medicinas alternativas, história humana e aprendizagem.O ciclo prossegue a 18 de outubro, com um segundo debate, dessa vez sobre as medicinas alternativas, que decorrerá no Instituto Politécnico de Leiria..Um dos participantes é o médico alemão Edzard Ernst, "um ex-praticante de medicinas alternativas que investigou em detalhe a sua fundamentação científica e que, ao aperceber-se de que a generalidade delas não tem um nível de prova que justifique a sua utilização, se tornou cético", diz David Marçal.."Este debate é essencial em Portugal, onde tem havido um grande avanço das medicinas alternativas, até por via legislativa", sublinha o comissário da iniciativa - em 2016 o Parlamento aprovou um projeto de lei que isenta de IVA os profissionais das chamadas terapêuticas não convencionais e já neste ano uma portaria validou a criação de ciclos de estudo que conferem o grau de licenciado em Medicina Tradicional Chinesa..O debate, que contará com a participação de João Brito de Sá, em representação da Ordem dos Médicos, e do também médico João Júlio Cerqueira, autor do projeto Scimed, "tem associada uma possível controvérsia social", reconhece David Marçal. Mas, garante, "nós não fugimos ao debate", porque "é importante dar a informação correta aos cidadãos e mostrar que não existe nenhuma prova científica da eficácia destas práticas"..Segue-se, no dia 22, a genética e a forma como os avanços da última década na sequenciação do ADN antigo estão a mudar o conhecimento sobre a história humana. Svante Pääbo e as investigadoras Luísa Pereira, da Universidade do Porto, e Eugénia Cunha, da Universidade de Coimbra, são outros dos participantes no debate, que se realizará em Coimbra, na Faculdade de Direito, pelas 18.00..O processo cerebral da aprendizagem da leitura, a 30 de outubro, no Liceu Camões, e os mistérios do universo, a 16 de novembro, na Aula Magna, completam o ciclo dedicado à ciência e educação.