O Villarreal é aquele clube que costuma dar dores de cabeça aos gigantes do futebol espanhol. No El Madrigal, o antigo estádio, que hoje dá lugar ao novíssimo Estádio de la Cerámica, em homenagem e agradecimento ao maior acionista e responsável pelo crescimento do clube, Fernando Roig, Los amarillos (os amarelos) construíram uma bonita história no futebol espanhol. Chegaram a lutar pelo título no início do milénio, mas hoje já vão longe longe os tempos dourados e a equipa comandada por um histórico do clube (Javier Calleja) luta para não descer de divisão. A Liga Europa não é por isso uma prioridade, mas pode servir para salvar a honra do submarino amarelo que nesta quinta-feira visita o Sporting no Estádio José Alvalade (20.00, SIC), na primeira mão dos 16-avos-de-final..Foi no início do milénio, sob o comando do treinador chileno Manuel Pellegrino, que o clube almejou voos maiores e se deu a conhecer à Europa do futebol. Nesses anos a equipa contou com jogadores como o uruguaio Diego Forlan (bota de ouro no Villarreal em 2005) e o francês Robert Pires no ataque, Riquelme, Sorín e Figueroa, no meio-campo, Marcos Senna na defesa e Pepe Reina na baliza. Além de um luso-moçambicano, Armando Sá, ex-Benfica. "Villarreal é uma cidade pequena, o clube tem um ambiente familiar. Eu fui para lá com estatuto de jogador do Benfica e encontrei lá com o Riquelme, o Forlán , o Marcos Senna, o Pepe Reina", recordou ao DN o antigo lateral esquerdo, lembrando a alcunha do clube: "Nesse ano fomos o verdadeiro submarino amarelo. O Villarreal metia medo...".A modernização e ascensão do clube tem um nome: Fernando Roig. "Ele contratou bons jogadores e fazia questão que nos sentíssemos em casa. Tratava os jogadores como se fossem filhos. Queria que desfrutássemos do clube, pois acreditava que jogadores felizes rendiam mais em campo. O segredo do Villarreal sempre foi esse. No meu caso perguntaram se eu queria viver num apartamento ou numa casa, num sítio calmo ou mais mexido, deram-me todas as opções possíveis... E não os esquece. Depois de acabarem a carreira aproveita-os, como aconteceu com o Senna, que é embaixador do clube, e o Calleja, que hoje é treinador.".Sim, esse mesmo. Javier Calleja está de volta ao clube. Saiu despedido e voltou um mês depois para tentar salvar o clube de mais uma descida de divisão. Armando lembra-se bem do médio, que jogou com ele, um "histórico do Villarreal", que "gosta de ter a posse de bola" e "tenta manter a identidade da equipa". Nos dois jogos em que orientou a equipa - empates com Espanhol (2-2) e Valladolid (0-0) -, Calleja apostou no mesmo onze embora a tática tenha variado entre o 3x5x2 e o 3x4x3. A equipa ficou sem o portista Miguel Layún, mas tem em algumas referências de peso, principalmente no ataque, onde Gerard Moreno, Santo Cazorla e Carlos Baca podem fazer estragos..O antigo lateral esquerdo (atual treinador dos sub-16 da KNSC-Kleinburg Nobleton Soccer Club, Canadá) só vestiu de amarelo um ano. Depois Camacho, que já o tinha treinado no Benfica, chamou-o para o Espanhol e ele foi. Para trás ficou "um ano memorável" em Villarreal e um jogo atravessado. Tinham conseguido apurar-se para a Taça UEFA e calhou-lhes o AZ Alkmaar da Holanda. "Fomos melhores, mas fomos eliminados e no jogo seguinte o AZ Alkmaar foi eliminado pelo Sporting com aquele célebre jogo do Miguel Garcia", recordou o luso-moçambicano, que vai assistir ao jogo em Alvalade na companhia do amigo Senna, que foi campeão do Mundo pelo Brasil em 2006..Na Europa, a equipa espanhola ultrapassou a fase de grupos da Liga Europa nas sete ocasiões que marcou presença - igualando o recorde do Ajax de presenças na fase a eliminar - e também ultrapassou a fase de grupos nas duas vezes que disputou a Taça UEFA. Apurou-se para os 16 avos-de-final ao vencer o grupo G, onde também estavam o Rapid Viena, o Rangers e o Spartak Moscovo. Agora desloca-se a Alvalade para jogar com o Sporting (quinta-feira, às 20.00)..Esta é a primeira vez que ambas as equipas se defrontam em jogos oficiais, mas já se encontraram num troféu Ibérico em 2016, que os espanhóis conquistaram nas grandes penalidade (4-3) depois de um 0-0 no tempo regulamentar. Mais recentemente encontraram-se à mesa para fechar o negócio da transferência de Rúben Semedo (atualmente emprestado ao Rio Ave), que rendeu 14 milhões de euros ao Sporting..Fundado por um farmacêutico, um bancário e um administrador dos correios.A história do clube começa na década de 1920 pela mão de um farmacêutico, Josep Calduch i Almela, um bancário, José Martínez Aguilar, e um administrador dos correios, Carlos Calatayud Jordá. Juntos decidiram criar um clube para "fomentar todos os desportos e em especial o futebol". E assim, no dia 10 de março de 1923, nasceu o Villarreal. O início não foi fácil. O primeiro jogo oficial digno de registo só aconteceu dez anos depois do nascimento..Foi-se mantendo pelos distritais até à década de oitenta. Na temporada 1986-1987 sobe à Segunda B (III Divisão), mas sofrem um revés e voltam à II Divisão regional. Nos 1990 conseguiu voltar à Segunda B e dar início a uma escalada rumo à I Divisão. Em 1997-1998 terminou o campeonato em quarto lugar e ganhou o direito de lutar por uma vaga na I Divisão espanhola. Num jogo a duas mãos (0-0 no El Madrigal e 1-1 no San Lázaro), o Villarreal conseguiu um lugar entre a elite graças a um golo fora, marcado por Alberto..Já diz o ditado que mais difícil do que chegar lá é manter-se. O clube não aguentou o nível da I Divisão e desceu à Divisão de Prata, mas não ficou o tempo suficiente para ter saudades da alta-roda e regressou à elite para ficar... Desde então o emblema da pequena cidade com pouco mais de 50 mil habitantes nos arredores de Valência teve alguns campeonatos memoráveis..O crescimento do clube teve mão de Fernando Roig, presidente e principal acionista do clube, dono de uma grande empresa de cerâmicas na Espanha (Pamesa Cerámica) que assumiu o clube em 1997. Foi nessa altura que o Villarreal começou a construir a sua história entre os grandes do futebol espanhol, com a ajuda de Jorge Lanessa, o homem forte das contratações, que incutiu no clube um cariz profissional e competitivo..Esteve perto de festejar um título nacional (2006-2007) e conquistou duas Taça Intertoto. Na temporada 2004-2005, com Armando Sá na equipa, o Villarreal só ficou atrás do campeão Barcelona e do Real Madrid, classificando-se pela primeira vez para a Champions League. Eram anos dourados e logo em ano de estreia europeia alcançou uma inédita meia-final frente ao poderoso Arsenal. Mas o melhor ainda estava para vir. Duas épocas depois acabaram o campeonato em 2.º, a oito pontos do campeão, Real Madrid. Los amarillos começaram então a ser presença assídua na Europa e em 2011 chegaram às meias-finais da Liga Europa, tendo sido eliminados pelo FC Porto, que acabou por conquistar o troféu..Hoje está entre os grandes do futebol espanhol, mas a grande rivalidade ainda é com o vizinho CD Castellón, embora nos últimos anos o Villarreal tenha rivalizado com o Valencia, os dois mais bem-sucedidos clubes da Comunidade Valenciana..Submarino amarelo graças aos adeptos e aos Beatles.O Villarreal nasceu como submarino amarelo na temporada 1967-1968. Culpa dos adeptos e de algumas coincidências. O clube procurava subir à III Divisão espanhola - apenas atingiu o escalão principal em 1998-1999. Num belo jogo, os adeptos da equipa (ainda não havia claques ou proibição de entrar com objetos nos estádios), que viam o jogo atrás de uma baliza talvez aborrecidos com o que se passava em campo, resolveram ligar a aparelhagem para dar música ao jogo e foi então que começou a ecoar a canção dosBeatles - Yellow Submarine. E, segundo rezam as crónicas, foi nessa altura que os adeptos, ao olhar para as camisolas amarelas da equipa, repararam na coincidência e começaram a cantar a música. Mais tarde adaptaram-na: "Amarillo es el Villarreal/amarillo es/amarillo es" (o Villarreal é amarelo/o amarelo/o amarelo). E assim nasceu a alcunha de submarino amarelo..Mas a curiosidade à volta da cor do equipamento não se esgota na alcunha. O famoso amarelo do Villarreal remonta a 1947, quando, na véspera de um jogo, a equipa foi jogar a Valência e ficou sem equipamentos. O presidente do clube teve de ir a uma loja de roupa desportiva comprar umas camisolas brancas e calções pretos, as cores que a equipa usava, mas o stock estava esgotado. Vai daí lembrou-se de comprar camisolas amarelas (as mais parecidas que havia com o branco) e calções brancos, que depois mandou tingir de azul. E assim nasceu o amarelo e azul do Villarreal.