O líder do PSOE, Pedro Sánchez

Eleições

Do momento Vox ao abismo do Ciudadanos. 7 pistas para perceber o caos em Espanha

Eleições repetidas, sete meses depois de outras em abril, deram nova vitória ao PSOE mas dificultaram tarefa de Pedro Sánchez em formar governo. Vox duplicou votos e Ciudadanos caiu no abismo. PP pode ser a chave de tudo, sobretudo se resolver a Catalunha for a prioridade.

PSOE entre aliança explosiva com independentistas e um pacto de unidade nacional

Segunda vitória socialista este ano em legislativas confirma PSOE como o maior partido espanhol, com 28,7%. Mas ao conseguir 120 deputados, menos três do que nas eleições de abril, Pedro Sánchez falha a sua aposta pessoal nestas eleições antecipadas e está numa situação ainda mais complicada para formar governo. A sua preferência, um bloco progressista a apoiar na câmara dos deputados o PSOE, terá de incluir partidos nacionalistas, o que é explosivo no atual momento de conflito com os independentistas catalães. A alternativa para uma fácil maioria de 176 deputados seria uma espécie de pacto de unidade nacional com o PP.

Casado renova PP mas cresce na sombra do Vox

Com o crescimento nestas eleições antecipadas, de 66 deputados para 88, o PP recupera força e Pablo Casado pode, ao chegar aos 20%, suspirar de alívio depois do péssimo resultado em abril, a anos-luz dos 33% de Mariano Rajoy em 2016, última vitória da direita. Com um discurso de responsabilidade, o líder conservador deixa no ar a hipótese de viabilizar um governo minoritário socialista, de forma a haver uma frente comum dos dois maiores partidos para lidar com o desafio catalão. Mas se Casado foi hábil a renovar o PP de forma a livrar-se da herança de corrupção da era Rajoy, a subida tremenda do Vox obriga-o a certas cautelas táticas. É que o novo partido de extrema-direita, que mais que duplicou o número de deputados em sete meses, tanto pode ser um aliado potencial como um rival, tentando à direita aquilo que o Podemos quase conseguiu à esquerda fazer ao PSOE em 2015, ou seja ultrapassar o partido tradicional do seu campo político. Por isso, um eventual apoio de Casado a Sánchez terá de ser entendido mesmo como um genuíno ato em socorro da unidade espanhola.

Unidas Podemos resiste e insiste num apoio vasto ao PSOE

O Unidas Podemos, que junta o antigo movimento dos indignados com o que sobra dos comunistas, perde deputados mas mantém-se o quarto maior partido espanhol e já isso é uma vitória para Pablo Iglesias. O partido resistiu ao apelo socialista ao voto útil da esquerda e também minimizou o impacto da chegada do Más País, de Íñigo Errejón, que disputa o mesmo eleitorado. Culpando Sánchez por não ter feito uma coligação progressista antes, com a recusa total de aceitar ministros do Unidas Podemos, Iglesias insiste na hipótese de uma vasta aliança a apoiar o PSOE, incluindo nacionalistas. Precisa de se mostrar útil, sobretudo depois de ver como o Ciudadanos passou do sucesso ao descalabro de umas eleições para outras.

O descalabro do Ciudadanos e a demissão de Rivera

É o grande derrotado desta jornada eleitoral, perdendo 47 dos 57 deputados que tinha. Albert Rivera, aliás, demitiu-se já da liderança do Ciudadanos, partido que passou de terceira força a sexta em deputados (é quinta em votos) e de potencial parceiro de governo do PSOE a um papel mais ou menos irrelevante com os seus dez deputados. Pagou caro por ter fechado sempre portas a uma solução de governabilidade com Sánchez, mesmo quando a crise catalã mais o impunha, mas não ter tido problemas em facilitar alianças de direita, como a que fez com o PP e o Vox para desalojar o PSOE da Junta da Andaluzia.

O momento do Vox, mas poderá um dia ser governo?

Mais do que a indignação da direita com a exumação do cadáver de Francisco Franco do Vale dos Caídos, o Vox tornou-se a terceira força política espanhola graças a uma reação contra o independentismo dos partidos que governam a região da Catalunha. Mas a extrema-direita vai buscar também votos a quem receia a imigração (daí o bom resultado na Andaluzia e o triunfo na região de Múrcia) e até a quem considera a agenda de género um excesso da esquerda. O partido de Santiago Abascal passou de 24 deputados para 52 e condiciona a atuação do PP, mas está ainda por definir o seu papel futuro, nomeadamente se pode fazer um dia parte de uma coligação governamental de direita.

A salvação catalã de Pedro Sánchez?

Com 13 deputados, a Esquerda Republicana da Catalunha tem um grupo parlamentar que pode ser a salvação para Pedro Sánchez, mas a sua ideologia e atitude separatista traz riscos sérios. Talvez o facto de os partidos independentistas catalães terem tido apenas 43% do voto na região obrigue a ERC a mudar de estratégia, mesmo tendo que virar costas ao Junts per Catalunya, a outra grande força desafiadora da unidade espanhola.

À procura dos dividendos de uma coligação Frankenstein

Do Más País, que se ficou pelos três deputados, ao PNV, o maior partido basco, muitas são as forças políticas que esperam tirar algum dividendos da possibilidade da tal coligação Frankenstein que o primeiro-ministro espanhol está a tentar. No caso do partido de Errejón, novidade, será uma participação natural do ponto de vista ideológico, até porque o Más País saiu do Unidas Podemos com a missão de ser uma ponte com os socialistas. No caso do PNV, se for necessário para as contas, é o regresso a uma velha tradição nacionalista basca e catalã de aproveitar a ausência de maioria absoluta do PSOE ou do PP para negociar apoios em Madrid a troco de benesses nas regiões que são já as mais ricas de Espanha.

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