Bruno de Carvalho detido em casa: suspeito de ser o mandante do ataque a Alcochete
Bruno de Carvalho foi este domingo detido no âmbito da investigação policial à invasão da academia de Alcochete. Também o chefe da claque Juve Leo, Nuno Vieira, conhecido como Mustafá, foi detido, confirmou o DN junto de fonte judicial.
Bruno de Carvalho foi detido em casa, na quinta do Lambert, no Lumiar, onde as autoridades realizaram buscas este domingo, acompanhadas pelo ex-presidente leonino, que saiu sob detenção já ao final da noite. Segundo o advogado do antigo dirigente, José Preto, que falou à RTP, foi apreendido o computador da filha de Bruno de Carvalho. Terão sido apreendidos também outros aparelhos eletrónicos, tablets e telemóveis pessoais do ex-presidente.
As buscas aconteceram também na sede da claque Juventude Leonina junto ao Estádio de Alvalade, confirmou o DN junto de fonte policial.
Foi aí, no espaço conhecido como A Casinha, que foi detido Mustafá, que saiu sob forte dispositivo policial, já perto das 21.30, incentivado por vários elementos da claque que acompanhavam no exterior o desenrolar das buscas - enquanto no estádio decorria o jogo entre o Sporting e o D. Chaves, onde a claque não marcou presença.
Bruno de Carvalho e o líder da Juve Leo deverão passar esta noite na prisão, em instalações da GNR, e só na segunda-feira deverão ser ouvidos pelo juiz de instrução do tribunal do Barreiro. Mustafá terá sido levado para a Pontinha, onde fica a sede da Unidade de Intervenção de Operações Especiais da GNR.
As ordens de detenção foram emitidas pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa. A Procuradoria-Geral da República já confirmou as detenções numa nota divulgada hoje à tarde: "Ao abrigo do disposto no art.º 86.º, n.º 13, al. b), do Código de Processo Penal, confirma-se que foram efetuadas duas detenções no âmbito do inquérito relacionado com as agressões na academia do SCP em Alcochete. Os detidos serão oportunamente presentes ao juiz de instrução criminal para aplicação das medidas de coação."
Em causa estão os acontecimentos do dia 15 de maio, quando um grupo de pessoas invadiu a academia do Sporting em Alcochete e agrediu jogadores e treinadores. Logo nesse dia foram detidos 23 indivíduos, número que foi alargado nas semanas seguintes, chegando a um total de 38 detidos. Todos estes suspeitos foram colocados em prisão preventiva, por ordem judicial, devido a fortes suspeitas da prática de crimes de terrorismo, sequestro, ofensas à integridade física, entre outros.
Estes acontecimentos, na semana que antecedeu a final da Taça de Portugal em futebol, que o Sporting perdeu para o Aves, levaram à queda de Bruno de Carvalho da direção do clube. Foi afastado e impedido de se recandidatar. A autoria moral desta ação criminosa esteve sempre em discussão, com a responsabilidade do antigo presidente leonino a ser questionada.
As detenções de Bruno de Carvalho e de Mustafá, chefe da Juve Leo, inserem-se neste processo e, se for imputada ao antigo presidente a autoria moral de crimes como terrorismo, a prisão preventiva deve ser pedida pelo Ministério Público e é uma forte possibilidade de ser confirmada por juiz de instrução. Os outros 38 detidos estão presos preventivamente, com o Tribunal da Relação de Lisboa a confirmar, em vários acórdãos, a legalidade desta medida de coação.
Há precisamente um mês, a 11 de outubro, Bruno de Carvalho dirigiu-se ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), manifestando-se disponível para prestar declarações na sequência de "rumores" de que estaria iminente a sua detenção, mas o requerimento foi reencaminhado para o DIAP de Lisboa, no qual decorre o inquérito ao ataque de 15 de maio em Alcochete.
Nessa altura, a detenção do oficial de ligação com os adeptos, Bruno Jacinto, terá contribuído para acelerar a investigação conduzida pela GNR, com o advogado de Jacinto a afirmar mesmo que quem deveria estar na prisão era Bruno de Carvalho. Bruno Jacinto foi quem telefonou para a academia de Alcochete poucos minutos antes da invasão dos adeptos que agrediram jogadores e treinadores, avisando sobre a mesma.
"Não estamos a falar de detenção nenhuma. Parem com essas fantasias assassinas, completamente perturbadoras, absolutamente irresponsáveis. Parem com isso. O requerimento que o Dr. Bruno de Carvalho formulou por meu intermédio era no sentido de se pôr à disposição da Procuradoria para o que fosse útil. Havia rumores de que um mandado de detenção estaria a preparar-se. Não se confirma, tanto não se confirma que estamos os dois aqui fora", afirmou na altura o advogado do ex-presidente leonino, José Preto.
Após o incidente em Alcochete, o líder da Juventude Leonina, Mustafá, garantiu em comunicado que não houve qualquer aval do presidente Bruno de Carvalho à claque para qualquer ação contra os futebolistas do Sporting e informou que seria instaurado um processo interno para averiguar o grau de envolvimento de elementos da claque na invasão a Alcochete.
"Como sportinguista, condeno os atos praticados e, em função das conclusões do inquérito, serão aplicadas as devidas sanções disciplinares", disse na altura Mustafá.
As relações da Juve Leo com a direção do Sporting mudaram recentemente, desde a eleição de Frederico Varandas como presidente. O novo líder leonino cortou privilégios à claque, designadamente apoios financeiros, e proibiu a Juve Leo de viajar com os jogadores nas deslocações ao estrangeiro, como acontecia anteriormente.
A cisão entre Freerico Varandas e a Juve Leo ficou patente na última deslocação do Sporting a Londres, para defrontar o Arsenal, com o presidente a recusar-se a cumprimentar Mustafá e a claque a abandonar o núcleo de Londres em protesto com Varandas.
A confirmar-se a implicação de Bruno de Carvalho como autor moral dos ataques à academia de Alcochete, em maio passado, esse é um golpe que pode prejudicar o Sporting nos processos pendentes contra os jogadores que, na altura, rescindiram alegando justa causa.
Os atletas poderão assim ver reforçados os argumentos que os levaram a rasgar contrato com o clube, numa altura em que o Sporting tem ainda processos pendentes, como os de Gelson Martins, Podence, Rafael Leão e Rúben Ribeiro. O caso de maior impacto financeiro é o de Gelson Martins, que assinou pelo Atlético de Madrid, e pelo qual o Sporting tenta ser ressarcido com uma verba entre 20 e 30 milhões de euros.
A detenção do antigo presidente pode também acelerar o desfecho do processo disciplinar em curso com vista à expulsão de sócio de Bruno de Carvalho.