Ricardo Baptista Leite. O que está "escrito nas estrelas" para o médico do PSD?
"Nasceram hoje 343 450 bebés em todo o mundo." Quase todos os dias, Ricardo Batista Leite dá a boa nova na sua página no Facebook. É deputado, vice-presidente do PSD e médico. Tem estado na linha da frente em nome do partido nas posições sobre a pandemia, o que ajuda a explicar muito a mensagem. "Chegam-me palavras diárias de preocupação, até de medo, e encontrei esta forma de, no final do dia, passar uma mensagem de esperança, de que a vida continua."
Miguel Pinto Luz, ex-candidato à liderança do PSD e vice-presidente a Câmara de Cascais, com quem Ricardo Baptista Leite começou a sério na política, usa uma velha frase de Pedro Santana Lopes para profetizar o futuro do deputado, que é também coordenador científico de Saúde Pública no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa: "Está escrito nas estrelas que será ministro da Saúde!"
Ricardo ri-se com a certeza de Miguel, mas rejeita que a política possa ser feita no vislumbre de cargos. "O importante é estarmos próximos das pessoas e a cada momento agarrarmos as oportunidades e darmos o nosso máximo." Seja como for, o vice-presidente do PSD já ganhou uma notoriedade nacional - quem não se lembra num dos debates quinzenais a pedir "fiquem em casa, fiquem em casa!" -, mas também internacional. Recentemente foi um dos convidados de um dos programas da manhã mais vistos na Inglaterra, o Good Morning Britain, apresentado pelo conhecido Piers Morgarn, onde criticou a decisão do Governo britânico de excluir Portugal do corredor aéreo, e foi citado sobre o mesmo assunto no The Telegraph.
Mesmo quando o apontam como potencial candidato do PSD à Câmara de Lisboa, em eleições que são já para o ano, deputado municipal de Cascais que também é, põe a questão de quarentena. "Com toda a honestidade, neste momento há dias em que acordo a meio da noite e fico angustiado com a crise sanitária e o cataclismo social que está a acontecer. O foco absoluto é o de tentar encontrar soluções para estes problemas". De tal forma que aos sábados arruma o fato de político e veste novamente o de médico, como voluntário no Hospital de Cascais.
Miguel Pinto Luz, que não recebeu o seu apoio nas últimas diretas do PSD, não poupa elogios: "É um trabalhador incansável, dedica muito da sua vida à política, é mesmo apaixonado por ela." A mesma visão tem outro deputado social-democrata. Duarte Marques lembra que Ricardo Batista Leite se destacou logo na primeira Universidade de Verão do PSD em que participou, tinha 20 anos, e foi logo convidado para ser conselheiro no ano seguinte na área da saúde. "Contratámos dois em um, um conselheiro e um médico." Continua, diz o deputado social-democrata, "uma pessoa muito equilibrada, muito sensata, que sabe bem o que quer e não é influenciável. Tem o respeito dos seus pares no Parlamento."
Nascido no Canadá, em Toronto, em 1980, com dupla nacionalidade, Ricardo Baptista Leite tem nos pais o modelo de referência "na partilha do esforço". Retornados de Angola em 1975, ainda muito jovens, emigraram para o Canadá onde se viram forçados a trabalhar numa fábrica de peças de automóveis. O pai conseguiu estudar tecnologias da informação e a mãe enveredar pelo campo da contabilidade. Decidiram regressar ao país natal tinha Ricardo 11 anos. "Falava inglês e o sotaque denunciava a minha origem", recorda o deputado. Mas foi ainda no Canadá que a política se atravessou no caminho, quando visitou o Parlamento Provincial de Ontário. "Foi fascinante ver como pessoas numa sala conseguiam decidir a vida de muitas outras. Comecei a escrever cartas ao primeiro-ministro do Canadá."
O bichinho ficou. Em Portugal começou pelas associações de estudantes, mas mesmo quando decidiu seguir Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova foram as políticas públicas que o moveram. Aos 20 anos percebeu que teria um "impacto maior" na sociedade se militasse num partido. Leu todos os manifestos e quando descobriu o pensamento de Sá Carneiro rendeu-se. "Apaixonei-me!" Poucas semanas depois, a mãe cruzou-se em Oeiras com um antigo presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, a quem conta a descoberta do filho. Passados uns dias, Ricardo recebe em casa uma ficha de militante assinada pelo próprio Marcelo. "Sempre o admirei. Ter este gesto é de alguém que é especial." Ponto de partida para um envolvimento na política local, em Cascais, até 2011 quando Pedro Passos Coelho o convida a integrar as listas do partido à Assembleia da República. Convite que foi renovado por Rui Rio em 2019 e tudo o que veio a seguir. "Agora posso confirmar que Rui Rio está verdadeiramente focado em fazer as reformas de que o país precisa".
Os anos de coligação PSD-CDS, na turbulência da troika, foram de felicidade para o deputado. Conheceu a sua mulher no Parlamento, a ex-deputada centrista Teresa Anjinho, com a qual tem um filho. Uma coligação que diz perfeita. "A Teresa com as suas visões enriquece-nos todos os dias."
Na música é mais eclético, gosta de pop, blues e jazz , mas também de música clássica. Da ponte entre o Canadá e Portugal ficou um artista da adolescência, Bryan Adams. Não perde um livro, que devora num dia, de Dan Brown, mas aprecia muito as biografias. A última que leu foi a de Leonardo da Vinci, de Walter Isaacson e fruto de uma recente visita, antes da pandemia, à Polónia, ao campo de concentração de Auschwitz, está a ler Primo Levi. "É muito poderoso e recorda-nos que há coisas que nunca podemos esquecer."