Oficialmente, a campanha em Espanha só começa nesta sexta-feira, mas há muito que os partidos e os seus líderes andam em campanha. Desde o primeiro minuto, a seguir ao chumbo no Parlamento, a 13 de fevereiro, do Orçamento do Estado do socialista Pedro Sánchez. A essa rejeição seguiu-se a antecipação das legislativas. Que são no próximo dia 28..As sondagens começaram por dar uma situação de empate entre o bloco da esquerda e o bloco da direita. O primeiro é constituído pelo PSOE de Sánchez e pela Unidas Podemos de Pablo Iglesias (uma coligação que incluiu o Podemos, a Esquerda Unida de Alberto Garzón e outras formações de esquerda). O segundo é constituído pelo PP de Pablo Casado, pelo Ciudadanos de Albert Rivera e pelo Vox de Santiago Abascal. Na Andaluzia, PP e Ciudadanos governam já juntos, com o apoio deste novo partido populista e nacionalista considerado também por muitos como de extrema-direita..Apesar de tudo, a última sondagem do Centro de Investigações Sociológicas (CIS) coloca o bloco da esquerda à frente, apontando para uma vitória do PSOE com 30,2% dos votos e entre 123 a 138 lugares de deputados e dando à Unidas Podemos 12,9% dos votos e entre 33 e 41 eleitos na Câmara dos Deputados de Espanha. Assim, juntas, as formações de Sánchez, Iglesias e outros poderiam chegar à maioria absoluta de 176 deputados..O mesmo estudo, realizado em toda a Espanha junto de 16 194 pessoas entre 1 e 18 de março, dá ao PP 17,2% dos votos e entre 66 e 76 deputados, ao Ciudadanos 13,6% e entre 46 e 51 eleitos, e ao Vox 11,9% e entre 29 e 37 eleitos. Outros partidos, em que se incluem muitos nacionalistas, conseguem 9,9% dos votos e entre 30 e 37 deputados. O Compromís surge com 0,9% dos votos e um a dois deputados e o Navarra Suma 0,1% e também um a dois deputados..Apesar de tudo, nada pode ser dado como certo, estas eleições são altamente imprevisíveis devido a vários fatores. Eis aqui algumas das chaves destas eleições legislativas em Espanha. São as terceiras em quatro anos. Mas há novos atores. São chamados a votar 36,8 milhões de espanhóis e, desses, 400 mil vão pela primeira vez às urnas..Em quem votarão os indecisos? Segundo este estudo do CIS, 41,6% dos eleitores estão ainda, a esta altura, indecisos. Está, por isso, muito em aberto. Há três anos, mais de 40% dos espanhóis decidiram o seu voto um mês antes do escrutínio, refere o mesmo centro. Quase um terço decidiu uma semana antes e um em cada dez esperou até ao último dia para escolher um partido..Para convencer os indecisos, os candidatos vão andar pelo país em comícios, como de resto já têm feito. Sánchez, candidato do PSOE, participará num total de 22 ações de campanha e percorrerá cerca de 17 mil quilómetros..Pouco disposto a frente-a-frentes, o atual primeiro-ministro recusa um debate a dois com Pablo Casado, conforme proposto pela Mediaset. O PSOE aceitou apenas o debate a cinco proposto pela Atresmedia, para dia 23, com o PP, o Ciudadanos, a Unidas Podemos e o Vox..Eleitores fiéis ou voláteis? Entre os eleitores que votaram no PSOE em 2016, 30% estão agora indecisos, mas esse valor é de 50% para o Ciudadanos. O PP é que perde mais eleitores para todos os outros partidos, sendo que, há três anos, ainda não existia o Vox..De acordo com uma sondagem 40dB, realizada junto de 1500 pessoas entre 14 e 19 de março, 43% dos eleitores voltariam a votar agora no PP, apesar de Mariano Rajoy ter sido substituído por Pablo Casado na liderança do partido, mas 36,5% admitem votar no Ciudadanos de Rivera ou no Vox de Abascal..O eventual tripartido de direito pode, no final de contas, revelar-se uma direita partida em três bocados não comunicantes. Segundo o CIS, o PSOE é o partido que mais lealdade de voto recolhe, cerca de 75%..Quanto vale a abstenção imprevista? Muitos eleitores poderão optar pela abstenção, apesar de dizerem o contrário, inclusivamente em sondagens. Nas eleições de 2016, por exemplo, houve uma desmobilização de última hora dos eleitores do Unidos Podemos. Em dezembro passado, na Andaluzia, antes das eleições, só 5% dos eleitores do PSOE diziam que não iriam votar, mas sondagens realizadas após as eleições demonstraram que o número de socialistas que ficaram em casa foi, na verdade, de 23%..Nessas eleições autonómicas, o PSOE foi afastado da Junta, após quase quatro décadas no poder. Susana Díaz, que até então governava apoiada pelo Ciudadanos, viu, com amargura, o partido de Rivera optar por apoiar o PP. Assim, populares e centristas chegaram ao poder na Andaluzia, com o apoio do Vox, um partido que defende a expulsão dos imigrantes ilegais de território espanhol, defende a unidade espanhola por todos os meios e, por exemplo, nas Baleares oferece imperiais aos jovens, neste sábado, num evento que terá lugar numa discoteca local..Como protestará a Espanha vazia?A Espanha Vazia, título de um ensaio do escritor e jornalista espanhol Sergio del Molino, serviu também de mote a reportagens recentemente publicadas - e com grande impacto - por media como a The Economist e a Euronews. Isto depois de, no dia 30 de março, dezenas de milhares de pessoas terem trazido a Madrid a Revolta da Espanha Esvaziada. O protesto, convocado por 85 organizações, visou chamar a atenção para o abandono das zonas rurais de Espanha, a falta de serviços e de atenção dos políticos nessas zonas de maneira a travar o seu despovoamento. Espanha está entre os países europeus com mais baixa densidade populacional e, refere a Euronews, o município de Molina de Aragón em Guadalajara, por exemplo, tem menos densidade populacional do que a Sibéria..Segundo o Centro de Estudos sobre Despovoamento e Desenvolvimento das Zonas Rurais, 53% do território de Espanha é habitado por apenas 5% dos seus 46,53 milhões de habitantes. A população rural espanhola cresceu entre 2000 e 2010, mas desde então, segundo o portal de estatística Statista, citado pela Euronews, decaiu para 9,17 milhões de pessoas..O sistema eleitoral espanhol é baseado no método D'Hondt e isso favorece, por um lado, os grandes partidos, mas por outro também as zonas com menos população. Nas províncias que elegem entre 1 e 5 deputados, o voto ia tradicionalmente para a direita, mas dada a divisão dos partidos, tanto PP como Ciudadanos e como Vox podem sair prejudicados..Segundo as sondagens, algumas dessas províncias, refere o El País, poderão dar 15 eleitos ao Ciudadanos, seis ao Vox e nenhum ao Podemos. Mas tudo pode mudar facilmente. Basta uns pontos a mais. Ou a menos..Quanto vale realmente o Vox? O resultado que a formação de Santiago Abascal vai conseguir será, até ao último minuto, uma incógnita. Muita gente descontente poderá pensar duas vezes antes de votar num partido conotado com a extrema-direita (afinal ainda estão mal saradas as feridas da guerra civil numa Espanha que gasta rios de tinta a falar da exumação do ditador Franco). O PP poderá também sair melhor do que as sondagens preveem, como aconteceu, aliás, nas eleições de 2015 e 2016. Há, por outro lado, quem aponte o resultado obtido pelo Vox na Andaluzia, de 12 deputados no Parlamento regional. Além destas legislativas, os espanhóis são ainda chamados a votar, no dia 26 de maio, em eleições europeias, em eleições municipais e, nalgumas comunidades, em eleições autonómicas (a exceção são a Andaluzia, claro está, a Galiza, a Comunidade Valenciana, o País Basco, a Catalunha e as cidades autónomas de Ceuta e Melilla).