O grande desafio de Mourinho. Tombar o Liverpool de alma e coração de Klopp

Scott Minto, ex-jogador inglês do Benfica e atual analista da liga inglesa, aposta num triunfo do Liverpool no jogo de hoje. Mourinho tem um saldo negativo nos duelos com Klopp e o atual contexto não é o mais favorável.
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O primeiro frente-a-frente entre José Mourinho e Jürgen Klopp foi há mais de sete anos. O português treinava o Real Madrid; o alemão, o Borussia Dortmund. Klopp venceu por 2-1 naquele dia 24 de outubro de 2012, um jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões em que curiosamente o golo dos espanhóis foi da autoria de Cristiano Ronaldo.

Neste sábado, a partir das 17.30, os dois treinadores com estilos diferentes vão voltar a defrontar-se no jogo que vai opor o Tottenham ao Liverpool, em Londres, na casa dos spurs, um desafio relativo à 22.ª jornada da Premier League, com as duas equipas separadas por... 28 pontos - os reds são líderes com 58 (e menos um jogo) e os spurs estão na sexta posição com 30.

Um duelo em que o treinador português terá pela frente uma missão de elevado grau de dificuldade: vencer uma equipa que lidera confortavelmente a liga inglesa, que recentemente conquistou o Mundial de Clubes e, acima de tudo, soma um registo impressionante: o Liverpool não perde para o campeonato há precisamente um ano e oito dias.

"Sinceramente, não vejo neste momento o Liverpool a perder um jogo. Podem não estar a jogar o futebol bonito da época passada, mas estão com uma mentalidade vencedora como nunca. O ataque é o que se sabe e a defesa está num grande momento - não sofrem um golo no campeonato há cinco jogos. Já a defesa do Tottenham não está num grande momento - nos últimos 16 jogos só não sofreram golos num. O Mourinho criou um grande impacto quando chegou, mas a verdade é que só ganharam um dos últimos quatro jogos", analisou ao DN Scott Minto, antigo jogador inglês do Benfica, que atualmente é comentador dos jogos da Premier League.

A última derrota da equipa de Anfield na Premier League aconteceu no dia 3 de janeiro de 2018, em casa do Manchester City, de Pep Guardiola, por 2-1 (golos de Agüero e Leroy Sané). De então para cá, o clube somou 32 vitórias e cinco empates no campeonato inglês. E nesta época soma já 11 triunfos consecutivos.

O confronto deste sábado será o 11.º entre os dois treinadores. Nos dez já disputados, o técnico germânico de 52 anos está em vantagem no confronto direto com o português de 56. Ganhou quatro jogos, empatou outros tantos e perdeu apenas dois. "Vão estar frente a frente dois dos melhores treinadores do mundo, mas o Klopp conseguiu implementar no clube uma cultura ganhadora e acredito que vai vencer o jogo", atirou Scott Minto, que, entre outros clubes, representou em Inglaterra o Chelsea e o West Ham.

Coração e alma de Klopp

Em maio de 2019, depois de o Liverpool ter conseguido uma das reviravoltas mais fantásticas da história do futebol, ao golear o Barcelona por 4-0 na Liga dos Campeões, virando uma eliminatória em que tinha perdido por 3-0 na primeira mão, Mourinho, então comentador residente da televisão Bein Sports, fez um dos maiores elogios que já se lhe ouviu a um colega de profissão.

"Esta reviravolta tem um nome: Jürgen. Isto não é sobre táticas ou filosofia. Isto é sobre coração e alma e uma empatia fantástica que ele criou com um grupo fantástico de jogadores. O Jürgen merece, o trabalho que está a fazer no Liverpool é fantástico. Isto é sobre ele, é um reflexo da sua personalidade, de não desistir, de um espírito lutador. Todos os jogadores a dar tudo. Perde um jogador e não se lamenta. Não chora por fazer 50 ou 60 jogos por época, como acontece com outros treinadores noutras ligas que dizem que os jogadores estão a fazer demasiados jogos, quando fazem 30 ou 35 partidas por temporada. Acho que, nesta noite, foi tudo sobre a mentalidade de Jürgen Klopp."

Quando, em novembro, José Mourinho foi anunciado como treinador do Tottenham, rendendo Mauricio Pochettino, Klopp disparou logo um "welcome back José" (bem-vindo José): "É muito bom tê-lo de volta. Ele estava desesperado para voltar. Está de volta e certamente muito motivado. Vai ser muito interessante encontrá-lo novamente."

Liverpool como exemplo

Klopp, curiosamente, está ligado a um dos despedimentos de José Mourinho. Em dezembro de 2018, estava o Special One no Manchester United e já com o lugar tremido, quando uma derrota com o Liverpool precipitou os acontecimentos. Os red devils perderam fora por 3-1 e dois dias depois os donos do clube deram guia de marcha ao português. "É um treinador competitivo, muito ambicioso e extremamente bem-sucedido. Imagino que os últimos meses não tenham sido uma alegria, especialmente para ele. Mas ninguém lhe pode tirar nada do que ganhou. É um treinador fantástico", referiu na altura o alemão.

Mais do que uma vez nos últimos anos, José Mourinho utilizou Klopp como exemplo para transmitir a ideia de que os treinadores precisam de tempo. Ainda recentemente, questionado sobre o saldo de seis vitórias, quatro derrotas e dois empates desde que assumiu o Tottenham, o português virou-se para o alemão.

"Estava a ver o último jogo do Liverpool, fui confirmar ao Google e o Klopp chegou em outubro de 2015. Na primeira época acho que foi oitavo. Teve oito janelas de transferências, muitos jogadores a entrar e a sair, tempo para impor a filosofia, os métodos de treino, a impressão digital dele. Quatro anos depois são não só campeões do mundo como a melhor equipa neste momento. Não quero comparar-nos ao Liverpool, digo apenas que é preciso ter calma e não entrar em pânico."

Mas, ao seu bom estilo, Mourinho também já provocou o treinador do Liverpool. Quando estava no Manchester United, irritado por não receber os reforços e ao ver o Liverpool investir milhões, deixou no ar uma questão. "Talvez nesta época vocês [jornalistas] lhes exijam que vençam, porque devem bater o recorde de transferências deste verão. Têm de ser justos", pediu, lançando pressão sobre Klopp.

Valor de mercado semelhante

Apesar de o plantel do Liverpool poder ser considerado superior ao do Tottenham, os valores (em milhões de euros) descritos no site Transfermarkt não são assim tão distantes: os reds estão avaliados em 1,19 mil milhões de euros, os spurs em 965,5 milhões. Na equipa de Anfield, os dois jogadores com mais valor de mercado são Mohamed Salah e Sadio Mané - 150 milhões cada -, seguem-se Trent Alexander-Arnold (110) e Virgil van Dijk (100).

No Tottenham, há também um futebolista avaliado em 150 milhões, o avançado internacional inglês Harry Kane, que devido a lesão é baixa para o importante desafio de hoje. Logo a seguir surge o médio ofensivo Christian Eriksen (100), que curiosamente está de saída do clube depois de não ter renovado, Dele Alli (90) e o sul-coreano Son (80).

Para Minto, o jogador-chave do Tottenham neste momento é o avançado sul-coreano Son, "um futebolista que pode causar estragos em qualquer defesa". "E Harry Kane vai fazer muita falta a Mourinho neste jogo", acrescentou. No Liverpool, há um jogador que enche as medidas a Minto. "Klopp tem uma extensa artilharia, mas na atualidade destaco o Sadio Mané, recentemente eleito o melhor jogador africano do ano."

Ao contrário do Liverpool, que está a ter um arranque demolidor na liga inglesa nesta época e parece caminhar a passos largos para terminar o jejum de 30 anos sem conquistar o título de campeão inglês, o Tottenham está a realizar uma temporada abaixo das expectativas.

Quando Mourinho pegou no clube no final de novembro, substituindo no cargo Mauricio Pochettino, os londrinos estavam no 14.º lugar, com 14 pontos. A equipa galgou entretanto várias posições na classificação, com cinco triunfos, três derrotas e um empate na Premier League - mas ainda está longe do exigido.

Scott Minto não tem dúvidas de que o jogo deste sábado "tem tudo para ser um grande espetáculo, entre duas equipas com história no futebol inglês". "Creio que o Tottenham de José Mourinho vai jogar de uma forma mais compacta e apostar mais nos lances de contra-ataque. O Liverpool é aquela máquina que se sabe, uma equipa extremamente perigosa que inicia rápidas jogadas de ataque logo que o adversário perde a posse da bola".
Nas casas de apostas, as odds são claramente favoráveis ao Liverpool, apesar de jogar fora. Tem agora a palavra José Mourinho.

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