Quando se olha para os cabeças-de-cartaz do NOS Alive, a primeira sensação é de déjà vu. Afinal, The Cure e The Smashing Pumpkins não são propriamente uma novidade, e tanto uns como outros até são repetentes nesse estatuto, neste mesmo festival. À brigada da nostalgia podem-se ainda acrescentar outros nomes, como Primal Scream, Johnny Marr (antigo guitarrista dos The Smiths), The Chemical Brothers, os portugueses Ornatos Violeta ou a diva Grace Jones, um dos últimos trunfos a ser apresentado para a edição deste ano..Uma observação mais atenta às dezenas de artistas que, durante três dias, vão passar pelos diversos palcos do Passeio Marítimo de Algés logo demonstra, porém, o quanto esta análise é precipitada. Isso mesmo faz questão de sublinhar ao DN Álvaro Covões, o diretor do festival: "Se há algo que é sempre diferente no NOS Alive é o cartaz, mas os festivais fazem-se com os artistas que estão na estrada em cada ano. Se compararmos o nosso cartaz com o dos maiores festivais europeus, percebe-se isso mesmo", adianta..Quanto ao aparente pendor mais revivalista dos cabeças-de-cartaz, também não concorda com essa observação: "Temos muitos projetos com discos de estreia editados em 2019 e outros, não tão novos, como os Vampire Weekend ou os Hot Chip, com álbuns novos também neste ano. Não temos só o tal déjà vu e mesmo esse é um elenco de luxo. Estamos a falar de nomes históricos como os Cure, os Smashing Pumpkins, os Primal Scream ou os nossos Ornatos Violeta, que só irão dar três concertos nesta reunião da banda e um deles vai ser aqui", defende o homem forte da Everything Is New, que desde 2007 organiza o festival.."Não queremos estar sempre a mudar".Certo é que uma dúzia de anos bastaram para se consolidar o Alive como o maior festival português, como os números, seja de público, de visitantes estrangeiros, ou de milhares de litros de cerveja vendidos, ano após ano confirmam. Tal deve-se essencialmente à música, apesar de tudo o resto, daquilo a que entretanto se passou a denominar de "experiência". E essa será a habitual, como refere Álvaro Covões: "As mudanças serão muito poucas, para não parecermos um daqueles supermercados que está sempre a mudar os produtos da prateleira. Não queremos estar sempre a mudar e com isso confundir quem já nos visita há muitos anos.".Uma das novidades é a aposta em mais bandas espanholas, que neste ano serão três. Uma piscadela de olho, como assume Álvaro Covões, ao público, cada vez mais numeroso, vindo do país vizinho. "Já são cerca de cinco mil", adianta..O contingente mais numeroso continua, ainda assim e "pelo quinto ano consecutivo", a ser do Reino Unido. "Apesar de sermos um festival português e para os portugueses, o público estrangeiro ajuda a compor o que falta em Portugal. Não só em termos de público, propriamente dito, porque nesta altura do ano existe uma enorme oferta de música o vivo, mas também em termos de poder de compra", concede..Além dos dois palcos principais, o NOS e o Sagres, por onde vão passar os nomes mais sonantes do cartaz, a ação distribui-se por diversos outros espaços, como o palco Coreto (com programação da produtora Arruada e da banda Portugal, The Man), o palco de comédia, a tenda de clubbing ou o fado Café, por onde vão passar nomes como Camané, Cristina Branco ou Márcia. Será também neste último local que, durante os três dias de festival, será apresentado o espetáculo Variações, com a banda formada a partir do filme homónimo sobre a vida de António Variações, com estreia marcada para agosto. "Este festival é um mundo e todos os palcos são principais", assinala Álvaro Covões, que chega a apelidar o ambiente no recinto de "felliniano", devido à "diferença de emoções e de ambientes em cada um dos espaços"..Sim, o difícil é mesmo escolher, já se sabe, mas quais serão, para Álvaro Covões, os concertos a não perder neste ano? "Curiosamente e numa altura em que se fala tanto de paridade também nos festivais, são quase todos de mulheres", realça. Entre as eleitas estão "Sharon Van Etten, Jorja Smith, Gossip, Marina e, claro, Grace Jones". À lista acrescenta ainda dois homens, Thom York e Gavin James, mas depois surgem também os nomes de The Chemical Brothers e Bon Iver, um dos "artistas favoritos" de Álvaro Covões. "Envolvo-me emocionalmente com as bandas e torna-se difícil escolher. São tantos, tão diferentes e todos eles bons, que o melhor é olhar com atenção para o cartaz e cada um fazer a sua própria escolha.".NOS Alive.Passeio Marítimo de Algés, Oeiras. 11 a 13 de julho, quinta a sábado 17h. €61 e €140 (passe)