Liberais reúnem-se: "Não nos revemos em Bolsonaros ou Maduros"
Movimento Europa e Liberdade organiza hoje a sua primeira convenção. Putativos candidatos à liderança do PSD marcam forte presença. Rui Rio ausente.
Paulo Carmona, um dos membros do Movimento Europa e Liberdade (MEL), mantém que movimento é "apartidário e apolítico" e que foi a comunicação social a fazer uma "interpretação abusiva" de que se trata de uma espécie de estados gerais da direita. O que, disse, "afastou algumas pessoas que se sentiram incomodadas".
Foi o caso do eurodeputado Francisco Assis e do ex-deputado eleito nas listas do PS, agora independente, Paulo Trigo Pereira, que estavam previstos como oradores e se demarcaram da convenção. O ex-líder do PS António José Seguro também chegou a estar confirmado mas alegou motivos pessoais para afinal faltar. Já Francisco Assis, que deu conta da sua desistência aos organizadores há mais de uma semana, afirmou que "uma eventual participação num evento com as características agora publicitadas só poderia ser entendido como um ato de pura esquizofrenia política".
A 1.ª Convenção da Europa e da Liberdade arranca hoje, na Culturgest, em Lisboa, e termina amanhã, estando Assunção Cristas, líder do CDS, convidada para o encerramento. Os políticos convidados que aceitaram comparecer estão todos à direita do PS: ou no PSD, ou no CDS ou mais próximos do pensamento liberal.
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Paulo Carmona insiste: "O programa foi pensado para toda a gente que acredita na Europa e na liberdade, até porque para nós nunca fez sentido essa divisão esquerda/direita. O nosso espaço é o que rejeita o totalitarismo, não nos revemos em Bolsonaros ou em Maduros." E dá um exemplo: "A Itália tem um governo de direita e de esquerda e ambas as forças são populistas."
O promotor do evento diz que, se contarem os participantes na convenção, só 11 pessoas em 42 estão ligadas aos partidos, são ex-deputados e ex-ministros. E só dois líderes aceitaram o convite para participar: Pedro Santana Lopes (Aliança) e Assunção Cristas (CDS-PP). Carlos Guimarães Pinto, presidente da Iniciativa Liberal, e Sofia Afonso Ferreira, dinamizadora da criação de um outro partido liberal, o Democracia 21, também constam no programa. Rui Rio, um social-democrata clássico, recusou associar-se à reunião.
As desistências de personalidades afetas ao PS, reconhece Paulo Carmona, "empobrecem" o evento. "Perdemos nós, o debate e o país", afirma. Diz que o facto de se tratar de um ano eleitoral torna todos os debates mais delicados. "Mas estamos é preocupados em debater o futuro."
O antigo líder do CDS José Ribeiro e Castro manifestou-se surpreendido com as notícias sobre o alegado cariz político da iniciativa. "Quando me convidaram pareceu-me uma iniciativa da sociedade civil, preocupada com algumas das matérias pelas quais me tenho batido, como a reforma do sistema político." É precisamente sobre esse tema que irá falar na convenção.
"Os partidos estão preocupados como seu umbigo e fazem poucas coisas com um caráter aberto e inclusivo, estas iniciativas preenchem esse vazio."
"Os partidos estão preocupados com o seu umbigo e fazem poucas coisas com um carácter aberto e inclusivo, estas iniciativas preenchem esse vazio", diz o ex-deputado centrista, que é um dos promotores de uma petição que dará em breve entrada no Parlamento, a pedir uma reforma do sistema político. Reforma que vai defender no painel em que participa com Marques Mendes, antigo líder do PSD, e Pedro Lomba (e onde também deveria participar Paulo Trigo Pereira), e em que propõe que os cidadãos passem a escolher os seus deputados.
José Ribeiro e Castro rejeita que alguma vez a convenção lhe tenha sido apresentada como um "franquismo" de direita e diz ter pena da desistência de alguns participantes. "O espaço público precisa de arenas de diálogo e de posições diferentes sobre as matérias que são do interesse comum", assegura.
A mesma posição tem Pedro Duarte, antigo líder da JSD, e já assumido putativo candidato à liderança do PSD, que diz que aceitou o convite para participar porque "a sociedade precisa de espaços de reflexão e de ideias". Vai falar de desigualdades sociais e competências e do impacto da tecnologia nos empregos.
Marques Mendes, antigo líder do PSD e conselheiro de Estado, também garantiu ao DN que o evento nunca lhe foi apresentado como uma iniciativa de cariz político e que irá falar de um tema sobre o qual tem vários textos publicados, que é precisamente a reforma do sistema político.
Outro social-democrata que também tem ambições à liderança do PSD, Miguel Pinto Luz, sublinha que "é excelente que a sociedade consiga congregar um espaço de debate com um conjunto alargado de pessoas, já que as forças moderadas estão a abdicar do espaço para os extremismos".
Miguel Pinto Luz lembra que o MEL tentou trazer a debate todas as tendências do PSD, tendo mesmo endereçado o convite a Rui Rio para participar, o que foi rejeitado. "Houve uma grande preocupação de não segmentar e isso é muito interessante."