Cinco meses são muito pouco em política. E são precisamente os que faltam para as presidenciais. E por mais estranho que pareça, ou talvez não, só o socialista António Costa já anunciou o apoio à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda também não quis dizer, preto no branco, que está na pole position para a corrida a Belém. O PSD e sobretudo o CDS ainda hesitam no like ao Presidente. "Seria um erro gravíssimo não apoiar a sua reeleição", afirma o antigo líder centrista José Ribeiro e Castro..Estas palavras ao DN do antigo presidente do CDS surgem na sequência da entrevista do atual líder centrista à Visão, em que Francisco Rodrigues dos Santos afirma que o apoio do CDS à recandidatura de Marcelo "não está em saldos" e tece críticas ao inquilino de Belém..Francisco Rodrigues dos Santos rejeitou um Presidente que "seja um explicador constante do governo", que "incline o plano a favor" de António Costa, e que "sinta o impulso de querer falar sobre todos os assuntos ao mesmo tempo". E embora não tenha excluído o eventual apoio à recandidatura do atual Presidente, deixou ainda a porta aberta a uma candidatura do CDS, no caso de Adolfo Mesquita Nunes. "Honraria muito o partido", diz..José Ribeiro e Castro, que assume desde já o seu apoio à recandidatura de Marcelo, admite que há pressão sobre o PSD e o CDS de muitos militantes que sentem "desgosto" com algumas posições do Presidente da República e perante o que entendem ser o seu apoio ao governo. Mas, frisa, "o problema da direita não é o professor Marcelo Rebelo de Sousa, nem podem esperar que o Presidente faça o que eles próprios [PSD e CDS] devem fazer"..O também ex-deputado diz que a existir um problema é ao contrário, "os partidos de direita prestaram um péssimo serviço ao Presidente da República. E explica. Depois do "erro" de terem ficado presos à ideia de que ganharam as eleições de 2015, "ainda tiveram um desempenho tão mau ao longo dos outros quatro anos que pioraram os resultados em 2019". Ou seja, não ajudaram a alavancar a normal base eleitoral de Marcelo, que a manteve sem nenhuma ajuda.."O Presidente não pode ser o líder ou o chefe da oposição e fazer o que os partidos de centro-direita não fizeram", insiste Ribeiro e Castro respondendo às críticas que esta família política lhe dirige. "Seria um erro gravíssimo não apoiar a sua reeleição, faz falta às pessoas de direita, o que não impede que lhe sejam feitas críticas, desde que construtivas". E lança uma pergunta com resposta incluída: "Têm melhor? Se não têm deixem-se de fantasias.".Ribeiro e Castro compreende que partidos mais pequenos, "imaturos" como os apelida, como o Chega e o Iniciativa Liberal, queiram "dar um tirinho de feira" e ter um candidato próprio para tentar aumentar a base eleitoral. Mas não no caso de PSD e CDS, reforça, seria um "erro". De uma dimensão "catastrófica" se Marcelo acabasse por ter o melhor resultado de sempre.."Marcelo é o espaço de respiração".Rui Rio foi mantendo em suspenso a posição sobre a recandidatura daquele que foi um dos presidentes do PSD, mas apesar das críticas internas que são feitas a Marcelo ninguém no partido admitiu sequer a hipótese de outra opção senão dar-lhe o apoio incondicional..O que está cada vez mais próximo da realidade depois de António Costa ter em maio, e de surpresa, assumido que Marcelo será o candidato do PS. O que, aliás, levantou a voz crítica de algumas figuras socialistas. O líder do PSD evoluiu de um "nim" para um pré-anúncio de apoio à reeleição, que disse ser "honrosa para o PSD"..Em entrevista à TSF, em abril, Rio admitiu, no entanto, que discordou algumas vezes de Marcelo Rebelo de Sousa e que "há muitos militantes do PSD que gostariam de que houvesse uma maior demarcação do governo do que a que ele faz de quando em vez", mas diz que não se pode exigir ao Presidente da República uma simpatia partidária, mesmo que seja militante do PSD e "quase militante fundador"..O politólogo José Adelino Maltez também considera inevitável o apoio do PSD e do CDS a Marcelo, apesar de tudo o que os líderes possam ter dito. "O CDS não tem grande espaço de respiração neste processo e não é um peixe de águas profundas" e "Marcelo, a quem o CDS não incomoda, já sabe como navegar". E perante a crise em que o PSD e o CDS estão mergulhados, "Marcelo é o espaço de respiração porque ainda podem dizer "ao menos tenho um Presidente"..Os pequenos partidos à direita seguem a lógica da afirmação política. É o caso do Chega, em que o próprio líder, André Ventura, é o candidato na corrida a Belém. E o Iniciativa Liberal que não lança João Cotrim Figueiredo, o presidente, mas outro dos fundadores, Tiago Mayan Gonçalves, advogado de 43 anos..No vídeo da sua candidatura assume-se como o único candidato liberal. "Sou candidato para que um grande espaço político tenha em quem votar, um espaço político que congrega liberais, mas também pessoas que não se reveem num Presidente que abdicou de o ser, ou em populistas de esquerda ou de direita".