Quase 400 mil famílias deixaram de pagar os créditos
São famílias que deixaram de conseguir pagar os seus empréstimos e tiveram de chegar a um acordo extrajudicial com os bancos, em boa parte por causa da crise gerada pela pandemia. No total, são 397 mil os novos processos abertos pelos bancos no primeiro semestre deste ano. São de devedores que deixaram de pagar 302 mil contratos de crédito, num valor global de 2,2 mil milhões de euros. Estas famílias, se já estavam com prestações em atraso, não puderam aderir aos regimes de moratória no crédito que permitiriam suspenderem os pagamentos das suas prestações até ao fim de setembro de 2021.
Os dados constam do relatório sobre Atividade de Supervisão Comportamental relativo à primeira metade de 2020, ontem divulgado pelo Banco de Portugal.
"No crédito aos consumidores, as instituições reportaram 359 731 novos processos PERSI - procedimento extrajudicial de regularização de situações de incumprimento, mais 13% do que no segundo semestre de 2019, abrangendo 302 076 contratos de crédito e um montante em dívida de 785,8 milhões de euros", refere o relatório.
Entre 27 de março e o final de agosto, os bancos receberam 788 mil pedidos de adesão a moratórias no crédito. Das aprovadas, 43% dizem respeito a empréstimos da casa.
No mesmo período, concluíram 340 091 processos PERSI relativos a 272 629 contratos de crédito aos consumidores, correspondentes a um montante total em dívida de 726,9 milhões de euros; 41,1% destes processos foram encerrados com a regularização do incumprimento, contra 42,7% no semestre anterior.
"No crédito à habitação e hipotecário, as instituições iniciaram 37 357 processos PERSI, mais 11,2% do que no segundo semestre de 2019, envolvendo 30 827 contratos e um montante total em dívida de 1449,1 milhões de euros", adiantou.
No mesmo período, os bancos encerraram 35 411 processos, correspondentes a 26 708 contratos de crédito à habitação e hipotecário e a um montante total em dívida de 1271,7 milhões de euros; 69,6% foram concluídos com a regularização do incumprimento, que compara com 68,3% no semestre anterior.
Os consumidores continuaram a aderir às contas de serviços mínimos bancários. No primeiro semestre, "foram constituídas em Portugal 15 529 contas de serviços mínimos bancários". Destas, 78,5% foram criadas por "conversão de uma conta de depósito à ordem já existente".
Foram ainda encerradas 1666 contas, 85,2% das quais por iniciativa do cliente. A 30 de junho, existiam 117 491 contas de serviços mínimos bancários, mais 13,4% do que no final de 2019.
O custo de levantar dinheiro a um balcão de um banco subiu 17,3% em seis meses, e custa em média 4,36 euros por levantamento.
Foram mais de dez mil as reclamações que chegaram ao supervisor. O Novo Banco foi o mais visado nos depósitos e o Banco CTT o que teve mais queixas no crédito à habitação. No crédito ao consumo, liderou o Volkswagen Bank.
Elisabete Tavares é jornalista do Dinheiro Vivo