Nuno Melo já nos habituou a um nível tal de boçalidade e ignorância que ninguém fica especialmente impressionado quando ele vem dar um ar da sua infeliz graça. Como até para inventar disparates é preciso trabalhar um bocadinho, o deputado europeu do CDS resolveu começar a recorrer a sites e páginas de Facebook de extrema-direita e reproduzir o que lá vem. Foi, aliás, desses lados que veio a tese que reproduziu de que o vídeo que o Rui Tavares gravou para a RTP "destilava ideologia" para "transformar os alunos em "cobaias do socialismo" a caminho de "uma revolução cultural em marcha"..Ou Melo não viu o extrato que passou na telescola ou tem dificuldades de compreensão. Pouco importa, deve-se só acrescentar a vontade de competir com o Ventura..Ninguém se lembraria de explicar a Nuno Melo a autonomia pedagógica, o atentado aos mais básicos direitos individuais se um académico ou qualquer docente fosse impedido de ter ação política ou o bom que seria se os miúdos da telescola tivessem a sorte de ter mais lições de académicos e divulgadores culturais da craveira do Rui Tavares (e não, não vou escrever nomes de historiadores de outras áreas ideológicas porque seria ofender a inteligência de quem me lê) e muito menos a brilhante e ideologicamente anódina lição do historiador sobre a Exposição do Mundo Português de 1940. O homem não perceberia e mesmo que percebesse não estaria interessado em nada disso..O CDS sempre conseguiu albergar Nunos Melos e pessoas de extrema-direita bem mais sinistras. Aliás, entre os vários agradecimentos que temos de fazer aos centristas (de Freitas do Amaral a Paulo Portas) é a capacidade de albergar uma direita não democrática sem nunca a ter deixado impor a sua agenda. O Nuno Melo, por exemplo, só não se transformou num Ventura por ser mais limitado, mas fundamentalmente porque Paulo Portas e outros controlavam-no. Mais, até seria menos plástico do que o líder do Chega, que já defendeu tudo e o seu contrário. Este triste episódio em que Rui Tavares foi dano colateral marca o abandonar definitivo do CDS do papel que desempenhava no panorama partidário e o assumir de uma luta com o Chega que nunca ganhará..Se o silêncio cúmplice dos democratas do CDS com notoriedade pública - apenas anotei o desagrado de Francisco Mendes da Silva e de Alexandre Homem-Cristo, que claramente já estão a mais neste CDS - foi esclarecedor na concordância sobre a linha seguida pelo partido a que pertencem, tudo se tornou mais claro quando o partido apresentou uma pergunta ao Parlamento que mais não foi do que a réplica das teses de Nuno Melo. O antigo partido plural, livre e que lutou contra tudo o que Telmo Correia e Ana Rita Bessa subscreveram atuou como uma extensão do, pronto, pensamento do seu deputado europeu..Assistir a um partido com importância para a construção da democracia como o CDS concorrer com oportunistas miseráveis como o Ventura não é nada agradável, vê-lo morrer às mãos de Nuno Melo e do seu compagnon de route Telmo Correia tão-pouco é..A questão, porém, transcende a morte do CDS. O facto é que com este seu último estertor deixa de haver um partido com importância eleitoral na direita democrática do nosso quadro partidário. A Iniciativa Liberal é um partido pequeno e com poucas hipóteses de crescimento pelo seu confinamento ideológico, nunca será o que o CDS foi. Restaria o Chega..Há, aliás, muita gente a discorrer abundantemente sobre qual deve ser a atitude do PSD em relação ao Chega, não havendo ninguém à direita para negociar..Percebo que o apoio que Passos Coelho deu a André Ventura na corrida para a Câmara de Loures (curiosamente, o CDS não hesitou em lhe retirar o apoio depois das primeiras exibições de racismo) possa confundir algumas pessoas, e também não duvido de que há umas almas que estão no PSD por engano que achariam normal negociar-se com o elemento, mas é bom acabar de uma vez por todas com as dúvidas. Aliás, confesso não perceber a formulação da questão. O Chega não é de direita nem de esquerda porque, pura e simplesmente, não defende os valores e os princípios de uma democracia liberal. E dirigir a palavra a quem defende o que essa gente defende é contra os mais básicos princípios do PSD..Não chega a ser uma questão de linhas vermelhas, só se pode negociar com quem se tem o mínimo de chão comum. Como se pode escutar alguém que tem o desplante de ter propostas que revelam um racismo tal que chega a propor a existência de guetos?.E nem vale a pena entrar em considerações ou análises sobre se negociações, acordos pontuais ou o que quer que seja acabam por beneficiar ou não os populistas e inimigos do Estado de direito. Pouco importa. Há um cordão sanitário que tem de ser estabelecido entre quem quer a democracia e os seus valores e quem não a quer e renega os seus princípios fundamentais..O fim do CDS causa problemas sérios à alternância no poder e causa uma muito perigosa hegemonia de esquerda - e se nós sabemos os problemas que isso causa. Mas a democracia constrói-se com quem a ama, não com quem a renega..O 1.º de Maio.Vamos muito proximamente passar por momentos em que a defesa dos direitos dos trabalhadores vai estar, mais do que nunca, na ordem do dia. O desemprego, a diminuição de salários e os abusos estarão na ordem do dia..Não será também novidade para ninguém que o movimento sindical já viveu melhores dias e que vive uma profunda crise de representação. O que a CGTP fez no último 1.º de Maio foi desperdiçar mais um bocado do capital político do pouco que, infelizmente, lhe resta..A sensação que foi criada pela central sindical é a de que vive num mundo paralelo às preocupações da comunidade. Se a isto juntarmos a perceção de que a CGTP defende bem os funcionários públicos mas descartou os outros trabalhadores, temos um cenário que em nada beneficia as importantes lutas que se avizinham..A CGTP prestou um mau serviço aos trabalhadores e à comunidade..Quantos países?.O Governo Regional dos Açores decidiu impor a quarentena obrigatória a quem chega ao arquipélago e impõe que o cidadão pague do seu bolso a estada num hotel. Bom, não todos os cidadãos, apenas os que não têm residência no arquipélago. Ou seja, Vasco Cordeiro, de uma penada, manda bugiar duas vezes a Constituição: impõe uma quarentena fora do estado de emergência (violando a lei geral e a fundamental) e decreta a violação do princípio da igualdade entre cidadãos portugueses. É obra..Afinal, o que é que Vasco Cordeiro quer? Que os açorianos que venham ao continente sejam obrigados a ficar em quarentena e a pagar o hotel a suas expensas? Acha que os portugueses não açorianos são cidadãos de segunda classe quando estão no arquipélago?.O que mais impressiona é o à-vontade como isto é feito e a ausência de uma reação que reponha a ordem constitucional.