As eleições estão marcadas para o primeiro sábado de junho, dia 6. Os membros do Grande Oriente Lusitano (GOL) irão escolher o "irmão" que irá liderar a organização no próximo triénio..Faltam exatamente quatro meses - e já há dois pré-candidatos que estão assumidamente a ponderar as suas hipóteses: Daniel Madeira de Castro, economista, tido como próximo do PSD; e Fernando Cabecinha, também economista, este sim militante do PSD, antigo número dois do atual grão-mestre, Fernando Lima Valada, quando este dirigiu a Galilei (ex-Sociedade Lusa Negócios, holding dona do BPN) e ex-presidente da Grande Dieta (o "parlamento" interno) da organização..Madeira de Castro e Cabecinha já estão na corrida, a avaliar se devem ou formalizar uma candidatura - e, enquanto isto, o grão-mestre mantém-se em estado de tabu. Fernando Lima Valada tornou-se grão-mestre em 2011 e foi reeleito em 2014 e 2017 - uma liderança com uma duração sem precedentes no GOL (onde não há limitação de mandatos). Agora pondera avançar para um quarto mandato (2020-2023), dizendo fontes próximas ao DN que há "forte probabilidade" de o fazer mesmo..Em dezembro passado, numa "Mensagem do solstício de inverno de 2019", dirigida a todos os membros do GOL, o grão-mestre assumiu estar em "reflexão".."O meu único compromisso é com o Grande Oriente Lusitano, de que devo ser o centro de união, no que sou coadjuvado pelos grão-mestres adjuntos e o Conselho da Ordem, com quem farei a avaliação do trabalho desenvolvido", escreveu..Prosseguindo: "Uma reflexão que será feita no tempo certo, sem precipitações, sem pressões extemporâneas ou impulsos de momento, em total liberdade, com total responsabilidade e sem que nos deixemos condicionar pelo que quer que seja". Enfim: "Uma reflexão de que retiraremos, enquanto coletivo, todas as consequências e com base na qual assumiremos, eu e a equipa a que presido, todas as nossas responsabilidades.".A eleição será em 6 de junho - com duas voltas, se nenhum dos candidatos obtiver maioria absoluta dos votos na primeira eleição - mas entretanto a direção do GOL vai-se multiplicando em iniciativas..Para os próximos dias 13 e 14 de março foi convocado o 16.º congresso do GOL - uma reunião não eletiva e subordinada ao tema "A contribuição da maçonaria na construção do futuro da dignidade humana"..O congresso decorrerá em Lisboa - mas fora da sede do GOL no Bairro Alto, o Grémio Lusitano. A participação estará reservada exclusivamente a "maçons ativos do Grande Oriente Lusitano" - exceto num jantar de confraternização marcado para dia 14, onde os participantes poderão levar convidados ("jantar branco", no léxico maçónico)..O tema da reunião será o anunciado mas a verdade é que, dentro do GOL, o momento é visto como ideal para os pré-candidatos e outros eventuais interessados avaliarem a força que têm ou não têm para enfrentar a batalha pela liderança do GOL. Em linguagem partidária, um momento ideal para a chamada "cacicagem"..Um almoço-surpresa.Madeira de Castro e Cabecinha assumiram as respetivas disponibilidades de candidatura em cartas dirigidas a todos os membros do GOL - e às quais o DN teve acesso..A de Daniel Madeira de Castro - maçom que já por duas vezes tentou a liderança concorrendo contra o atual grão-mestre e saindo sempre derrotado - começa por contar a história de um almoço surpresa: "Em dezembro último fui convidado por um destacado e antigo maçom de fora de Lisboa, para almoçar com ele, e agendámos um sábado no local onde ele reside. Ao chegar ao restaurante, comecei a deparar-me com algumas dezenas de IIr [ilustres irmãos], de diferentes orientes [e] disseram-me que afinal era um almoço de grupo. Depois do excelente almoço, houve um conjunto de intervenções, todas a mim direcionadas, elogiando-me por amizade, e queriam obter um compromisso meu para me candidatar em junho de 2020 às eleições para GM [grão-mestre], por razões que me dispenso de elencar.".Na sequência disso, decidiu: "Neste momento o que posso assumir é o seguinte: se eu entender que a minha candidatura pode ser útil ao GOL, submetê-la-ei no prazo constitucional. De hoje até esse dia, manter-me-ei atento e vigilante, como é meu dever, e na altura que entender por conveniente agirei em conformidade, de acordo com a minha livre consciência. Entretanto, formei um grupo de estudo, de compromisso e de trabalho, composto por mais dois ilustres irmãos constituímo-nos como uma equipa, com o fim de concebermos o programa e de planear todo o ato eleitoral."."Grupos de interesses, redes de negócios".Concluindo: "Nunca pertenci, nem nunca constituí, interna ou externamente, grupos de interesses, redes de negócios, redes de dependentes, que, aliás, sempre combati e combaterei. Honro-me do que sou e do que sempre fui na vida, nada tenho para esconder, e nada no meu passado de que me arrependa.".Já Fernando Cabecinha fala na necessidade de um "novo impulso" para o GOL - "um impulso que construa sobre ombros de quem construiu e constrói e não sobre escombros", que o faça com "credibilidade e liderança numa ótica agregadora" e que "projete decididamente uma imagem positiva da Nossa Augusta Ordem", sobretudo "junto das famílias, das pessoas e, principalmente, dos mais jovens". "Em todas as instâncias da Nossa Obediência encontrei Irmãos empenhados" mas também "manifestações de indiferença, cansaço, alheamento, desapontamento, isto é, equívocos que urge superar.".Os dados estão lançados e outras candidaturas poderão avançar, começando pela do atual grão-mestre. Os próximos quatro meses serão de intenso frenesim eleitoral na mais antiga e influente obediência maçónica portuguesa.