O núcleo duro de Rui Rio reuniu na tarde segunda-feira para analisar os resultados eleitorais para o PSD, que, sem o apuramento dos círculos da emigração, se ficou pelos 27,9%, e as suas consequências. Fonte da direção do partido afirma que muito depende da vontade de Rio de continuar ou não na liderança. Mas sublinha também que "a maior parte da Comissão Permanente não tem vida política e por isso são pessoas mais desprendidas e em condições de fazer uma análise mais fria do que aconteceu nas urnas no domingo". "Vamos analisar se temos ou não condições de continuar o projeto que tínhamos constituído. Se não houver base social que o suporte e condições internas que o permitam, é melhor não ir a jogo. Se chegarmos à conclusão de que é possível, será ao contrário", disse a mesma fonte ainda com os resultados frescos obtidos nas urnas..Facas afiadas.Mesmo que Rio decida recandidatar-se à liderança - o congresso ordinário é já em janeiro, mas poderá ser antecipado -, não vai ter a vida nada fácil. Miguel Relvas foi a primeira voz a exigir eleições internas a todo o gás, visando a substituição do líder. Ao DN, o antigo ministro de Pedro Passos Coelho foi taxativo: "Precisamos de uma lufada de ar fresco. É fundamental que venha um novo líder.".Relvas critica ao presidente do partido o facto de este não assumir os 27,9% obtidos pelo PSD (com 77 deputados eleitos, menos 12 do que em 2015) como um mau resultado: "Não é do nosso ADN ser um partido de serviços mínimos. Ganha-se ou perde-se. O PSD nunca tentou esconder maus resultados com desculpas de mau pagador", afirma..O partido tem de avançar rapidamente para um processo eletivo interno. Um congresso normal decorreria, pelos prazos regulamentares, em janeiro de 2019. Mas o Conselho Nacional pode sempre antecipar. "O PSD não pode ficar num limbo político." E há soluções alternativas a Rio: Luís Montenegro ou Miguel Pinto Luz..Em seu entender, o surgimento de novos partidos à direita com representação parlamentar - o Chega e a Iniciativa Liberal, com um deputado cada - decorre, precisamente, da "incapacidade de ocupar espaço". Daí a necessidade de "refundar a direita" no seu conjunto..No Fórum TSF, um outro opositor interno a Rui Rio, o ex-deputado Luís Menezes (filho de Luís Filipe Menezes) recordou que "o facto é só um: o Dr. Rui Rio quebrou o ciclo de vitórias nas legislativas que o PSD tinha desde 2011. Tivemos o pior resultado da nossa história, dos últimos 40 anos, pior ainda em número de votos do que o resultado que Mota Pinto teve em 1983", sublinha Luís Menezes, que aponta que esta foi uma "enorme" derrota para o líder e para o partido..Desafiantes em modo de espera.Embora o próprio não queira assumir a preferência por nenhum potencial candidato à liderança, o DN sabe que Miguel Relvas irá apoiar Miguel Pinto Luz. O vereador da Câmara de Cascais e ex-líder da distrital de Lisboa do PSD tem a decisão tomada de avançar para uma candidatura à liderança do PSD e tem feito caminho interno nesse sentido. E até na noite eleitoral esteve reunido com um conjunto de militantes que o apoiam. Mas, tal como Luís Montenegro, manter-se-á em silêncio neste período à espera da decisão de Rui Rio..Fonte que é próxima de Pinto Luz frisa que "é preciso ver até onde vai o tabu de Rio e o que pretende com essa estratégia". A mesma fonte admite que o líder acabe mesmo por decidir ir a jogo, porque os seus apoiantes não têm grande alternativa. "A hipótese seria Paulo Rangel, mas está muito fragilizado pelos 21% que conseguiu nas eleições europeias." E afirma: "O PSD quer um candidato que alavanque um bom resultado.".Quanto ao tom vitorioso de Rio na noite eleitoral, quando admitiu que assumirá o mandato de deputado, a mesma fonte até admite que "o discurso foi corajoso, numa lógica de agressividade que lembra Trump". Que, lida do ponto de vista político, "aponta para que está com vontade de se manter"..De uma ala mais próxima de Luís Montenegro há esperança de que o aparelho do partido, apesar de muito dele ter sido renovado já no consulado de Rio, acabe por vir a apoiar o antigo líder parlamentar, mesmo que o presidente social-democrata se recandidate. "As estruturas do partido estão fartas disto. E este é um resultado abaixo do que conseguiu Pedro Santana Lopes numa altura em que toda a gente queria livrar-se do PSD [eleições de 2005, em que o então ex-primeiro-ministro conseguiu apenas 28,8% dos votos contra José Sócrates].".Agora, todos admitem que fará toda a diferença se Rio for a jogo no xadrez dos apoios das distritais. Sem a figura do atual líder, os potenciais candidatos poderão contar espingardas de outro modo. Pinto Luz conta com os que ficaram com anticorpos em relação a Montenegro desde janeiro e Montenegro com os eternos descontentes do partido. Há ainda a hipótese de Jorge Moreira da Silva, antigo líder da JSD e ex-conselheiro de Cavaco Silva, vir a corporizar uma candidatura que una os que ainda estão com o atual presidente, se este não avançar. Pedro Duarte, outro ex-líder dos jovens sociais-democratas, deverá apoiar Montenegro..Rio poderá "galgar margens"?.Mas Rui Rio tem condições ou não de continuar? Os politólogos ouvidos pelo DN admitem que sim. José Adelino Maltez lembra que Rio teve agora um resultado "um bocadinho acima" do que Francisco Sá Carneiro, fundador do PSD, teve nas duas primeiras eleições. Em 1975, ficou-se pelos 26,39%; e, no ano seguinte, teve 24,35%. E em 1979, já líder da Aliança Democrática, atingiu os 45,26%. "Sá Carneiro teve piores resultados, mas mostrou que, com uma boa liderança, se pode galgar as margens", frisa o politólogo.."Não são os resultados que matam a liderança, Rui Rio pode ocupar o território, porque tudo se resume a um problema de crescimento do partido", afirma José Adelino Maltez. O professor universitário admite que o discurso de Rio, muito positivo, foi embalado pela gestão das expectativas. "Rio teve expectativas de 20% e acabou por ter este resultado." No entanto, José Adelino Maltez vê um "fracasso do partido nas zonas urbanas, sobretudo junto do eleitorado jovem". Um eleitorado que apostou, na sua opinião, nos novos partidos..A grande questão a que o PSD deve responder, afirma, é quais são as causas que podem ir buscar deputados aos abstencionistas, como, por exemplo, a ambientalista. "Rui Rio não apresentou duas ou três medidas mobilizadoras e um líder do PSD precisa de ser um conquistador e isso é difícil no atual quadro." José Adelino Maltez lembra que Rio até já apontou o seu desígnio caso se mantenha ao leme do PSD, ao apostar nas eleições autárquicas..António Costa Pinto também insiste na ideia de que a "expectativa" que imperava no PSD era de perder por muitos, "mas houve uma recuperação de eleitorado. "Rui Rio conseguiu durante a campanha retirar da abstenção parte do eleitorado do PSD, que se preparava para não votar", mas admite que a continuidade da sua liderança depende muito da sua própria vontade..Até porque nos picos da crise interna, como o do desafio à liderança por Luís Montenegro em janeiro deste ano, "ganhou o que tinha para ganhar". "Ele quer retirar-se ou quer ir à luta? Na possibilidade de querer, ele tem legitimidade para ganhar as batalhas internas e tem condições para sobreviver politicamente.".As eleições negras para Sá Carneiro.O PSD obteve no domingo o pior resultado do partido em legislativas dos últimos 20 anos, mas apenas em percentagem, já que conseguiu eleger mais deputados do que Pedro Santana Lopes em 2005. Apuradas todas as freguesias do território nacional, os sociais-democratas obtiveram 27,9% dos votos, correspondentes a 77 deputados (e mais de 1,4 milhões de votos) - ainda falta atribuir os quatro mandatos da emigração -, e ficaram a nove pontos percentuais do PS. Mas ainda faltam os votos dos círculos da emigração, que podem fazer subir o score do partido nestas legislativas de 2019..O PSD só por três vezes na sua história teve um resultado inferior em percentagem em eleições para o Parlamento nacional: o pior aconteceu em 1976, nas primeiras eleições para a Assembleia da República, quando o partido então liderado pelo fundador Francisco Sá Carneiro alcançou 24,35% dos votos e elegeu 73 deputados (correspondentes a 1,3 milhões de votos), no único sufrágio em que o Parlamento elegeu 263 parlamentares..O segundo pior resultado dos sociais-democratas data de 1975, nas eleições para a Assembleia Constituinte, quando registam 26,39% dos votos. Segue-se a marca de 1983, quando o partido, presidido por Carlos Mota Pinto, se fica pelos 27,24% (75 deputados em 250, 1,5 milhões de votos)..O resultado deste domingo ficará como o quarto pior do PSD em eleições para o Parlamento, abaixo de dois alcançados já neste século: o de Santana Lopes em 2005 (28,77%, 1,6 milhões de votos mas apenas 75 deputados, já com a composição atual de 230 parlamentares) e o de Manuela Ferreira Leite em 2009 (29,11%, 1,6 milhões de votos e 81 deputados)..Em termos de deputados, o PSD de Rio ficará acima do de Santana, e perderá - se eleger pelo menos dois dos quatro mandatos ainda por atribuir - apenas uma dezena de deputados em relação à atual composição da Assembleia, em que os sociais-democratas têm 89 assentos..Já sobre os círculos eleitorais, os sociais-democratas apenas venceram em cinco dos 20 círculos nacionais: Vila Real, Madeira, Bragança, Leiria e Viseu (e perdendo aqui um deputado, num círculo que neste ano passou a eleger menos um parlamentar). Nas últimas legislativas, a coligação Portugal à Frente (juntou PSD e CDS) tinha ganho em 13 dos 20 círculos, contra os sete do PS..Em relação a 2015, os sociais-democratas perderam para os socialistas oito círculos: Aveiro (onde perdem dois deputados), Porto (mas, perdendo o círculo, recuperam um deputado), Braga (embora mantendo os mesmos oito deputados), Santarém (também mantendo os mesmos três parlamentares), Lisboa, Coimbra, Viana do Castelo e Guarda, perdendo um deputado em cada um destes círculos..Relativamente ao que sucedeu há quatro anos, o PSD recupera um deputado em Faro e outro em Vila Real (ambos à custa do CDS, que deixou de eleger nestes círculos), e perde um deputado em Castelo Branco. Nos Açores, mantém os mesmos três parlamentares. O partido deixa de estar representado no Alentejo, perdendo em Beja, Évora e Portalegre os deputados únicos que tinha elegido há quatro anos por cada círculo.