Pink.O que se tinha como impossível acabou por se tornar uma das novidades mais telúricas de todos os tempos na longa, sustentada e ultraconservadora trajetória do vinho do Porto. Aconteceu pela mão da Croft - do universo Fladgate - em 2008 e logo muitos outros se lhe seguiram. O que tem este vinho de tão especial? É simples, festivo e está na moda. Graças a um processo complexo de produção, conseguiu-se a partir de uvas tintas um vinho do Porto superaromático, pouco tânico e pouco extrativo, resultando numa coloração suave e aberta. Na boca é muito fresco e leve e é dado a ser bebido on the rocks, integrado em cocktails ou simplesmente gelado. Experimente com: leite-creme, gelado de morango ou cajus com wasabi..Branco.Estamos na única categoria de vinho do Porto em que por um lado a doçura - extra seco, seco, doce e lágrima - é fator diferenciador, e por outro encontramos vinhos de graduação alcoólica relativamente moderada. É por isso um dos vinhos mais flexíveis de toda a gama. A Malvasia Fina é uma das castas nobres do Porto branco e está presente desde o século XII, pela mão dos monges de Cister Em São João de Tarouca. Juntam-se-lhe Gouveio, Viosinho, Moscatel Galego e Rabigato..Dry White - É o vinho em que se apoia a solução brilhante que é o Porto Tónico. Assume o lugar do gin no cocktail mais popular do mundo e tem conquistado adeptos em todos os mercados. Apesar da designação de "seco", é um vinho doce, como todos os portos, apenas é menos copioso. Trabalha bem na mesa petisqueira e é aperitivo de excelência. Experimente com: bola de bacalhau à moda de Lamego, pêssego assado no forno ou presunto fatiado..White Reserva - Tem doçura média a elevada e é muito intenso no sabor. É amigo da família e muito orientado para a doçaria tradicional. As casas nacionais têm no entanto vindo a disponibilizar vinhos surpreendentes, derrubando todo e qualquer preconceito. A arte do lote entre os grandes criadores de vinhos reserva-nos ainda muito para descobrir. O exame simples à translucência mostra por vezes ocres carregados, sinal da presença de vinhos muito velhos num lote, vale a pena o exercício. E a compra, claro! Experimente com: conservas de peixe, queijos velhos de vaca ou chocolate de leite..Branco com indicação de idade - Temos de estar preparados para encontrar vinhos de qualidade máxima nesta categoria. 10, 20, 30, 40 anos são os mais comuns e a complexidade é impressionante em casas como a Andresen, especialista profunda em portos brancos velhos. Curiosamente, o vinho do Porto branco e o tinto - tawny - aproximam-se na cor com o passar dos anos e nalguns casos a a elegância consegue ser superior à do próprio tawny. Experimente com: torta de laranja, pão-de-ló ou chocolate praliné..Ruby.Têm origem em castas tintas e envelhecem em garrafa, em ambiente redutivo. Preservam por isso a cor e a concentração, e estão ávidos por oxigénio. Na categoria suprema do Vintage, a experiência de abrir e decantar uma boa garrafa é inefável, só quem nunca experimentou fica indiferente. Cor normalmente retinta, aromas de fruta de arbusto, sabores muito fortes e pronunciados de compota, especiarias e minerais..Ruby Reserva - Examinados à translucência, mostram reflexos rubi-vivos e muito luminosos, quase funcionando como filtro de cor da luz que fazemos incidir neles, quase sem perda de intensidade. São lotes de vinhos de anos variados, idade mínima de três anos e alguns escondem pequenas quantidades de vinhos muito velhos ou muito especiais. O exame visual à luz revela por isso algumas vezes matizes mais evoluídos que a média, quase fazendo acreditar que estamos perante vinhos bastante mais velhos do que na realidade são. Experimente com: bolo de chocolate, tarte de banana ou queijo de cabra curado novo..LBV - A sigla tem-se imposto, relativamente à designação por extenso de Late Bottled Vintage, e corresponde a um ruby de um só ano e mais pronto a beber, por ter mais tempo de envelhecimento em casco - quatro a seis anos - até ser engarrafado. Há casas que se dedicam a esta categoria como seu produto de proa, por isso não deve em momento algum ser considerado menor em relação à oferta geral de vinho do Porto. Tem a virilidade e corpo dos grandes vinhos, com a grande vantagem de ser mais resistente à oxidação. A sua exposição mais oxidativa no período de estágio garante essa maior estabilidade. Nas nossas casas, traduz-se ainda em mais tempo disponível para o gozarmos. Experimente com: fondant de chocolate, frutos cristalizados cobertos de chocolate ou nougat de amendoim..Single Quinta Vintage - Trata-se da categoria que é normalmente produzida em anos não clássicos, ou seja, quando não há declaração generalizada de determinado ano de vinho do Porto. No entanto produtores como a Quinta do Noval ou a Quinta do Vesúvio, por exemplo, produzem todos os anos vinhos do Porto single quinta, pelo que uma vez mais não deve ser considerado um produto menos brilhante ou capaz. É uma expressão até mais fina de um terroir - solo e clima -, com marcas e características específicas. Envelhecem normalmente com muita elegância. Experimente com: chocolate com mais de 85% de cacau, queijo serra da Estrela velho ou bombons com recheio de frutos vermelhos..Vintage - É a categoria suprema de qualidade no domínio ruby e é também a que tem uma espécie de bolsa de valores que os investidores e negociantes utilizam para estabelecer preços e tendências de consumo, tal a fiabilidade e qualidade da produção. Em anos clássicos, no espaço de apenas alguns anos após o lançamento o seu valor de mercado pode atingir 10 ou 20 vezes o preço inicial. Envelhece muito devagar justamente por estar engarrafado praticamente desde o início, o que o transforma num produto financeiramente estável. Experimente com: steak au poivre (em homenagem a Rolf Niepoort), chocolate 100% cacau ou queijo Stilton não pasteurizado..Tawny.Tawny quer dizer "louro" ou "alourado", e decorre da perda gradual de cor que vai acontecendo no desenrolar do processo longo de estágio em madeira, dito oxidativo. Ao contrário do que acontece na evolução do ruby com o tempo, mantendo estrutura, cor e corpo praticamente incólumes, um tawny vai abrindo nuances de cor, aroma e sabor que o tornam fascinante. É no tawny que está a essência clássica e tradicional do vinho do Porto. Associamo-lo aos grandes cascos de madeira e ao vinho que melhora com o envelhecimento, tanto que há tonéis com mais de cem anos e que são autênticas relíquias. "Envelhecer como o vinho do Porto" é expressão bem portuguesa e corresponde a dizer que é um vinho eterno. Tradicionalmente, o vinho do Porto faz-se para os netos, ou seja, para duas gerações depois. Muito do seu charme está nessa função e valor de legado familiar..Tawny Reserva - O estágio mínimo de três anos já altera estrutura mas muitas vezes não o suficiente para lhe dar a cor alourada que imaginamos. Junta-se à arte de produção de vinho do Porto uma outra, a arte da construção dos lotes. O resultado final, contudo tem boca doce, frutos secos, caramelo e afins, enquanto o nariz é fresco e evocativo de compotas de framboesa e morango. Está tudo ainda por fazer mas o vinho já é bem agradável num final de refeição, a meio da tarde, quando não mesmo à refeição. Experimente com: gelado de baunilha, biscoitos de manteiga ou marmelada..Tawny com indicação de idade - Reconhecemo-los facilmente pelos números 10, 20, 30 e 40 em destaque no rótulo e candidamente aceitamos os preços totalmente diferentes a que uns e outros são postos à venda. Muitos entram nas centenas de euros e estão marcados como 20 ou 30 anos, ostentam 40 anos no rótulo e estão à venda por umas dezenas de euros apenas. Um Sandeman 40 anos pertence ao colégio raro dos grandes vinhos do Porto e pode ser uma boa porta de entrada no universo superior dos tawnies. Na verdade, e como sempre, tudo se resume ao gosto de cada um. Mas não é menos verdade que o gosto também se educa. Experimente com: tarte de amêndoa, pudim abade de Priscos ou ovos-moles..Tawny Colheita / Garrafeira - Tawnies de uma só colheita, envelhecidos de acordo com práticas de cada casa, normalmente ao longo de várias décadas. Nestes casos, deve procurar-se no rótulo a data de engarrafamento, para termos a correta noção do que está dentro da garrafa e se isso está de acordo com o nosso gosto pessoal. Um colheita dos anos 1950 engarrafado em 2010 tem pelo menos 50 anos de casco e cerca de dez de vida em garrafa, pelo que devemos esperar tipicidade de vinho velho e copioso, enquanto um garrafeira - de que a Niepoort é a grande porta-estandarte - envelheceu em vasilhas de vidro e só depois foi engarrafado terá ainda notas vibrantes quase juvenis. Faz parte da beleza intrínseca dos grandes tawnies o que neles se nos oferece em modo descoberta. A grande glória do vinho do Porto. Experimente com: pastel de nata, pavlova de pêssego ou queijo São Jorge de nove meses de cura..Fernando Melo é crítico de vinhos e comida na revista Evasões. Engenheiro físico pelo IST, dedica-se há 30 anos ao estudo das raízes e dos patrimónios gastronómicos do país, percorrendo ao pormenor o território, nas suas mesas, vinhas e adegas. Dá formação em Enogastronomia nas escolas de hotelaria nacionais.